A Santa Sé suprimiu o mosteiro carmelita da Santíssima Trindade em Arlington, Texas, depois de uma longa controvérsia que começou com uma investigação diocesana sobre acusações de que a prioresa tinha quebrado o seu voto de castidade.

O bispo de Fort Worth, EUA, dom Michael Olson, anunciou ontem (2) que na semana passada recebeu um decreto de supressão da Santa Sé. O documento segue a expulsão das freiras da vida religiosa, ocorrido em outubro, depois de uma série de desentendimentos com o bispo local.

O decreto, datado de 28 de novembro, é assinado pelo cardeal brasileiro João Braz de Aviz, prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, e pela irmã Simona Brambilla, MC, secretária do dicastério.

O dicastério considerou a comunidade “extinta” e decretou a supressão do mosteiro. O decreto citava o “notório abandono da fé católica” que levou à expulsão das cinco freiras e da única noviça do mosteiro, assim como a expiração dos votos do sétimo membro, “deixando assim o Mosteiro da Santa Trindade sem membros.”

No seu anúncio, dom Olson disse que as mulheres do mosteiro “não são freiras nem carmelitas, apesar da sua contínua e pública autoidentificação em sentido contrário”.

“A Santa Sé suprimiu o mosteiro, por isso já não existe, apesar de qualquer autoidentificação pública feita em sentido contrário pelas ex-freiras que continuam ocupando as instalações”, disse.

O bispo reiterou ainda que os católicos não deveriam assistir à missa celebrada no ex-mosteiro. Ele disse que qualquer missa ou sacramento aí celebrado “é ilícito” e que os fiéis que assistem intencionalmente a estas cerimônias “prejudicam a comunhão da Igreja Católica”.

Até o momento da publicação, as ex-freiras não haviam emitido qualquer comunicado de resposta. Seu site continua a identificá-las como “Freiras Carmelitas Descalças”.

A controvérsia começou no ano passado, quando dom Olson iniciou uma investigação sobre o mosteiro em meio a alegações de que a madre superiora Teresa Agnes Gerlach teria tido um caso amoroso com um padre.

As freiras entraram com uma ação judicial contra dom Olson em maio do ano passado sobre a investigação, ao alegar violações de privacidade e danos ao bem-estar físico e emocional das freiras. Dom Olson acabou demitindo Gerlach da vida religiosa.

Em abril deste ano, a Santa Sé disse que a Associação de Cristo Rei nos EUA supervisionaria a “governança, disciplina, estudos, bens, direitos e privilégios” do mosteiro no Texas.

As freiras, no entanto, desafiaram a ordem da Santa Sé, e se associaram à Fraternidade São Pio X (FSSPX), um grupo tradicionalista que não está em plena comunhão com a Igreja e tem status canonicamente irregular.

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A madre Maria da Encarnação, presidente da Associação de Cristo Rei, nomeada para supervisionar as mulheres, anunciou em outubro que elas foram demitidas da Ordem das Carmelitas Descalças e “retornaram ao estado laical”.

“Quero repetir que, desde que esta triste série de acontecimentos começou a desenrolar-se em abril de 2023, quando a própria ex-prioresa me informou pessoalmente da sua grave violação do voto de castidade com um sacerdote, me vi obrigada a iniciar a busca, de acordo com o direito canônico, de justiça e misericórdia para todos os envolvidos”, disse dom Olson em sua carta.

Ele disse que a confissão de Gerlach de “sua grave falta ao voto de castidade com um padre” foi “registrada e incorporada ao registro público em uma audiência civil” depois que a ex-prioresa entrou com uma ação civil contra dom Olson e a diocese.

Durante a audiência judicial de junho de 2023, Gerlach admitiu ter quebrado seus votos de castidade e disse que o caso amoroso ocorreu por telefone. O advogado de Gerlach, Matthew Bobo, disse que a ex-prioresa estava sob a influência de analgésicos no momento da audiência. Gerlach, que foi hospitalizada por convulsões em novembro de 2022, usa cadeira de rodas e sonda de alimentação.

Em junho de 2023, a diocese divulgou fotografias que pareciam mostrar produtos de cannabis no mosteiro. Bobo disse que as alegações de uso de drogas são "absolutamente ridículas".

A declaração mais recente das ex-freiras, datada de 30 de outubro, defende que “estas alegações são escandalosamente falsas” e rejeita a demissão das ex-freiras, citando a sua recente filiação à Fraternidade São Pio X, em agosto.

Dom Olson disse que a “resposta da diocese às suas ações desobedientes e calúnias tem sido constantemente guiada pela caridade, pela paciência e tem estado de acordo com as instruções da Santa Sé”.

O bispo pediu orações pelas ex-freiras, dizendo que o acontecimento trouxe “grande tristeza” à Igreja local e causou “uma ferida profunda no Corpo de Cristo”.

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“Peço a todos que se unam a mim na oração pela cura, reconciliação e conversão destas mulheres que se afastaram da vida religiosa consagrada e que abandonaram notoriamente a comunhão com a Igreja Católica pelas suas ações”, disse dom Olson.

“Agora, como sempre, desejo-lhes graça e paz em Nosso Senhor Jesus Cristo”, acrescentou.

Numa carta de 29 de novembro enviada a dom Olson, o secretário do dicastério manifestou-lhe a gratidão do dicastério da Santa Sé pelo seu “serviço heroico” à Igreja local, citando as “dificuldades e a atenção pública injustificada” para com a diocese. O dicastério também pediu aos fiéis que rezem pelas ex-freiras.

“Este dicastério exorta todos os membros da Ordem das Carmelitas Descalças, bem como os fiéis da diocese de Fort Worth, a rezarem fervorosamente para que os corações daquelas que erraram possam se arrepender e voltar à unidade da verdade concedida à Igreja por Nosso Senhor Jesus Cristo”, diz o decreto.