5 de dez de 2024 às 12:47
O arcebispo de Teerã-Isfahan, cardeal eleito Dominique Mathieu, é a autoridade católica de mais alto nível na República Islâmica do Irã.
O franciscano, de 61 anos, estará entre os 21 novos cardeais que receberão os barretes vermelhos no sábado (7), na Basílica de São Pedro. O papa Francisco anunciou o consistório no domingo, 6 de outubro, depois da oração do Ângelus.
“Eu tremi depois da nomeação”, disse dom Mathieu à EWTN News. Ele disse que estava em um carro em Roma quando ouviu o anúncio na rádio. Inicialmente não entendeu bem a notícia, até que o telefone do frade que o acompanhava começou a tocar com mensagens de felicitações.
“Reagi com tremor naquele momento”, disse o arcebispo. “Sou diabético e comecei a ficar completamente branco. Levei algum tempo para me recuperar”.
“Foi uma surpresa”, disse. Embora diga ter ente3ndido que houve “sinais do Santo Padre durante algumas visitas que” fez ao papa.
Fé em meio aos desafios
Ao responder sobre a sua vida e por que passou vários anos como frade franciscano conventual no Líbano, tornando-se missionário no Oriente Médio quando muitos estavam indo embora, dom Mathieu recordou a vez em que visitou pela primeira vez o “país dos cedros” para a ordenação de um padre em 1993.
Naquela ocasião, ele viu Beirute no seu estado pós-guerra civil, mas ficou profundamente comovido pela devoção do povo aos seus santos e à Virgem Maria, e pela sua determinação em reconstruir apesar de tudo.
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Há cerca de 2 mil católicos de rito latino no Irã, entre uma população de quase 89 milhões de pessoas, a grande maioria dos quais é de muçulmanos xiitas. Estes católicos “podem reunir-se em igrejas reconhecidas pelo Estado. Só eles podem entrar nestes locais de culto”, disse o futuro cardeal. “Geralmente, podem fazê-lo durante os cultos ou em horários que tenham sido anunciados às autoridades em relação às próprias igrejas”.
“As nossas portas existem e estão abertas para estas pessoas, mas estão fechadas a quase todas as outras. Nós, como latinos, também mantemos as portas abertas para os nossos irmãos e irmãs da Igreja assíria ou armênia: eles podem vir, não é um problema, porque não somos uma Igreja étnica”, disse dom Mathieu. “Nós mantemos uma porta, rezando de dentro, esperando que um dia talvez a porta possa se abrir para outras pessoas”.
Testemunho vivo
“Estou convencido, talvez fortalecido pelo fato de ser franciscano, da importância do nosso testemunho, que não é verbal”, disse o arcebispo de Teerã sobre o papel dos cristãos na sociedade iraniana. Por ser o Irã uma república islâmica, “não se pode fazer proselitismo, mas isso não nos impede de viver em sociedade e de dar testemunho”, disse.
Ao contrário da Turquia, os cristãos no Irã podem usar hábitos religiosos e cruzes peitorais em público. Dom Mathieu disse que recorda constantemente “a importância do nosso testemunho, da oração, da vida virtuosa, do trabalho na nossa santificação, porque aí também somos verdadeiramente fermento para o país. Podemos ser esse sal que dá vida”.
O cardeal eleito também falou da abertura ao cristianismo de alguns centros de estudos muçulmanos, como a Universidade de Qom. Segundo ele, o Dicastério para o Diálogo Inter-religioso mantém relações com entidades estatais iranianas.
Sinais de esperança
Descrevendo os sinais de esperança entre os católicos iranianos hoje, dom Mathieu disse: “Há uma grande sede de espiritualidade”. Além dele, do núncio apostólico e do secretário do núncio, não há bispos ou padres católicos latinos no país. No entanto, existem cinco Irmãs Filhas da Caridade, duas das quais trabalharam durante muitos anos numa colônia de leprosos no norte do Irã.