O arcebispo de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, OFM, é um dos 21 homens escolhidos pelo papa Francisco para se tornar cardeal no consistório de amanhã (7).

Ele disse à Rádio Vaticano na quarta-feira (4), que o pensamento que antecede o consistório está “marcado por uma atitude de disposição para colaborar da melhor forma possível naquilo que formos solicitados”.

“Eu tenho dito em alguns espaços que quando damos um sim na vida, seja abraçando uma vocação, ou outra, seja a vida matrimonial, seja a vida consagrada, a vida laical ou ministério ordenado, nós temos que estar prontos para aquilo que der e vier. E mais ainda quando gostamos do que somos e amamos o que fazemos”, continuou ele.

Natural de Gaspar (SC), aos 64 anos, dom Jaime tem grande influência na Igreja da América Latina como presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), maior conferência episcopal do mundo, e presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam), que reúne 22 conferências episcopais e foi fundado em 1952 pelo papa Pio XII a pedido dos bispos da América Latina e do Caribe.

Agora, como cardeal, “é uma responsabilidade ainda maior, porque de uma forma toda particular o colégio dos Cardeais é chamado a cooperar com o Santo Padre de uma forma mais intensa, mais direta, na atenção para com toda a Igreja presente nos diversos continentes”, disse dom Jaime à Rádio Vaticano.

Dom Jaime entrou para a Ordem dos Frades Menores aos 22 anos e foi ordenado sacerdote aos 34 anos, em 1990, em sua cidade natal. Atuou dentro da Ordem dos Frades Menores em diversas missões e cidades do país até 2010, quando foi nomeado pelo papa Bento XVI bispo auxiliar da arquidiocese de Porto Alegre. A ordenação episcopal foi no dia 5 de fevereiro de 2011, na paróquia São Pedro apóstolo, em Gaspar.

Dois anos depois, com a renúncia do então arcebispo dom Dadeus Grings, por ter atingido a idade limite de 75 anos, o papa Francisco o nomeou arcebispo metropolitano de Porto Alegre. Dom Jaime assumiu o cargo em 2013, com o lema episcopal: “Gloriar-se na Cruz” (Cl 6,14) – In Cruce Gloriari.

Na qualidade de presidente do CELAM, dom Jaime participou do Sínodo da Sinodalidade cuja segunda etapa aconteceu em Roma em outubro passado. Em entrevista coletiva no sínodo, dom Jaime manifestou abertura à ordenação de homens casados, os chamados viri probati, assunto muito discutido no Sínodo da Amazônia no Vaticano em 2019, do qual ele não participou.

A ordenação de homens casados é uma questão “delicada” que deve ser enfrentada com “coragem, tendo presente, sim, aspectos teológicos em primeiro lugar, sem dúvida, bíblicos, teológicos, da tradição da Igreja, mas também atentos aos sinais dos tempos”, disse dom Jaime.

Dom Jaime também defendeu o rito amazônico da missa, que está em estudo desde o Sínodo da Amazônia de 2019. “Acho que nós podemos explorar de forma mais intensa essa possibilidade que a própria igreja concede de inculturação do rito romano”, disse dom Jaime na entrevista coletiva.

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Para ele, “encontrar um rito que caracterize aquela região, um rito novo, eu creio que seria talvez até mais fácil do que encontrar talvez caminhos para a inculturação do rito romano propriamente dito”.

Outra preocupação manifestada por dom Jaime em várias entrevistas este ano são as mudanças climáticas. Ele disse à TV Evangelizar que “as sucessivas tragédias climáticas estão dizendo para nós que a casa comum está pedindo socorro e todos nós somos responsáveis pela casa comum. Que meio ambiente queremos deixar para as futuras gerações?”

Falando das enchentes de maio que afetaram cerca de 96% do estado e quase 2,4 milhões de pessoas, dom Jaime disse que “se a tragédia por um lado suscitou destruição e morte, por outro lado suscitou uma onda de solidariedade como nunca visto na história do Brasil, mas não só do Brasil. Foram tantas manifestações, foi tanta colaboração, isso diz que entre nós tem gente boa demais, tem gente muito boa, tem gente que tem uma sensibilidade muito especial com os demais e isso nos enobrece”.

Dom Jaime cursou Filosofia no Instituto Filosófico São Boaventura, de Campo Largo (PR), e Teologia no Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis (RJ), concluindo-o no Instituto Teológico de Jerusalém, em Israel. Fez doutorado em Filosofia na Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma.

Ele foi vice-presidente da CNBB de maio de 2019 a abril de 2023 quando foi eleito presidente para o quadriênio 2023-2027. Semanas depois foi eleito presidente do CELAM.

Dom Jaime Spengler, também membro dos dicastérios para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos e do Instituto de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica da Santa Sé, no Vaticano, será o segundo arcebispo da arquidiocese de Porto Alegre a ser criado cardeal, junto com dom Vicente Scherer (1903-1996), que recebeu a nomeação em 1969 pelo papa São Paulo VI, aos 66 anos.

Cardeais brasileiros

Com a nomeação de dom Jaime, o Brasil passa da ter oito cardeais, mas apenas sete deles poderão votar num possível conclave por terem menos de 80 anos. O arcebispo emérito de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, tem 87 anos, portanto, não é mais eleitor.  

Entre os 140 cardeais com direito a voto, o Brasil tem a terceira maior representação com sete cardeais eleitores que são: o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, 72 anos; o prefeito do dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, dom João Braz de Aviz, de 77 anos; o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta, 74 anos; o arcebispo de Salvador, dom Sérgio da Rocha, 65 anos; o arcebispo de Manaus, dom Leonardo Steiner, 75 anos; o arcebispo de Brasília, dom Paulo Cezar Costa, 57 anos.