9 de dez de 2024 às 15:21
Um recorde de 140 cardeais pode participar de um eventual conclave na Capela Sistina. Seriam 141, mas a morte do cardeal Miguel Angel Ayuso Guixot em 25 de novembro reduziu o número. No total, o Colégio Cardinalício agora tem 255 membros.
O número de cardeais eleitores é o dado mais importante que surge do consistório deste fim de semana. Dos 140 cardeais eleitores, 110 foram criados pelo papa Francisco, 24 pelo papa Bento XVI e seis por são João Paulo II. No final do ano, em 24 de dezembro, o cardeal indiano Oswald Gracias, criado cardeal por Bento XVI em 2007, fará 80 anos de idade e, portanto, não poderá mais participar de um conclave.
Outros 14 cardeais farão 80 anos em 2025: Christoph Schöenborn, Fernando Vérgez Alzaga, Celestino Aós Braco, George Alencherry, Carlos Osoro Sierra, Robert Sarah, Stanisław Ryłko, Joseph Coutts, Vinko Puljić, Antonio Cañizares Llovera, Vincent Nichols, Jean-Pierre Kutwa, Nakellentuba Ouédraogo e Timothy Radcliffe.
Dois deles foram criados por são João Paulo II, quatro por Bento XVI e oito pelo papa Francisco.
No entanto, será necessário esperar até maio de 2026 para voltar ao número de 120 cardeais eleitores estabelecido por são Paulo VI e nunca revogado.
As escolhas do papa Francisco
Pela primeira vez há um cardeal no Irã, o arcebispo de Teerã-Ispahan, cardeal Dominique Matthieu, um missionário belga. Também é a primeira vez que há um cardeal na Sérvia, com o arcebispo de Belgrado, cardeal Ladislav Nemet.
O papa Francisco criou cardeais de 72 nações diferentes, e 24 dessas nações nunca tiveram um cardeal antes.
O papa Francisco também mostrou que não faz escolhas com base nas sedes tradicionais dos cardeais. Por exemplo, não há cardeais para liderar os dois patriarcados europeus históricos de Lisboa e Veneza, nem em Milão, Florença ou Paris.
No entanto, há exceções. Nesse consistório, o papa Francisco criou cardeais os arcebispos de Turim e Nápoles, Itália; Lima, Peru; Santiago do Chile; Toronto; e o vigário-geral da diocese de Roma.
Nápoles entrou na lista de forma um tanto surpreendente, com a decisão do papa comunicada em uma declaração da Sala de Imprensa da Santa Sé, em 4 de novembro. O arcebispo de Nápoles, dom Domenico Battaglia, substituiu o bispo de Bogor, Indonésia, dom Paskalis Bruno Syukur, que pediu ao papa Francisco para removê-lo da lista de novos cardeais por motivos pessoais não especificados.
O equilíbrio geográfico do Colégio de Cardeais
O papa não decidiu substituir um possível cardeal indonésio por outro cardeal da Ásia.
A porcentagem de cardeais italianos no Colégio de Cardeais é a mais baixa dos tempos modernos. Só durante o chamado Cativeiro de Avignon (1309–1377), quando a sede do papado foi para a França, a porcentagem de cardeais italianos foi tão baixa.
No entanto, aos 17 da Itália devem ser adicionados o patriarca latino de Jerusalém, cardeal Pierbattista Pizzaballa, que está incluído na cota da Ásia, e o prefeito apostólico em Ulan Bator, Mongólia, cardeal Giorgio Marengo, também incluído na Ásia.
O cardeal Angelo Becciu é considerado um não eleitor, mas esse status ainda está sendo determinado. O papa Francisco pediu que ele renunciasse às suas prerrogativas como cardeal, mas continuou a convidá-lo para consistórios e missas, onde sempre se sentou entre os cardeais. Se uma decisão não for tomada antes disso, o Colégio dos Cardeais, com uma votação majoritária, decidirá se Becciu será ou não admitido no conclave.
Distribuição regional
O equilíbrio permanece basicamente o mesmo. A Europa recebeu mais três cardeais, além dos quatro italianos com direito a voto: o arcebispo Belgrado, Sérvia, cardeal Ladislav Nemet, 58 anos; o arcipreste coadjutor da basílica papal de Santa Maria Maior, dom Rolandas Makrickas, 52anos; e o padre dominicano Timothy Radcliffe, 79 anos. A Europa agora tem 55 cardeais.
A América Latina recebeu cinco novos cardeais. Dois em dioceses que historicamente já tiveram cardeais no comando: o arcebispo de Lima, Peru, dom Carlos Gustavo Castillo Mattasoglio, 74 anos; e o arcebispo de Santiago do Chile, dom Fernando N. Chomali Garib, de 67 anos. Três cardeais foram criados para dioceses que não eram sedes históricas: o arcebispo de Guayaquil, Equador, dom Luis Gerardo Cabrera Herrera, 69 anos; o arcebispo de Porto Alegre (RS), dom Jaime Spengler, 64 anos, que também é presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); e o arcebispo de Santiago del Estero, Argentina, dom Vicente Bokalic Iglic, 72 anos. No entanto, neste caso, o terreno já havia sido preparado pela recente decisão de mover o título de primaz da Argentina de Buenos Aires para esta sede. No geral, a América Latina agora tem 24 cardeais (incluindo o arcebispo emérito de Santiago do Chile, cardeal Celestino Aós Braco, nascido na Espanha).
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A Ásia recebeu quatro novos cardeais. O papa deu o barrete vermelho ao arcebispo de Tóquio, dom Tarcisius Isao Kikuchi, 66 anos, e aos bispos de duas dioceses que nunca tiveram um cardeal no comando: o bispo de Kalookan nas Filipinas, dom Pablo Virgilio Siongco David, 65 anos, e o arcebispo de Teerã, dom Dominique Joseph Mathieu, 61 anos.
A África recebeu dois novos cardeais, elevando o total do continente para 18. Os dois novos são o arcebispo de Argel, dom Jean-Paul Vesco, 62 anos; e o arcebispo de Abidjan, Costa do Marfim, dom Ignace Bessi Dogbo, 63 anos.
A América do Norte agora tem 14 eleitores, com a inclusão do arcebispo de Toronto, dom Francis Leo, 53 anos. A Oceania tem quatro eleitores, com a criação do bispo da eparquia dos santos Pedro e Paulo de Melbourne para os católicos ucranianos na Austrália, dom Mykola Bychok, 44anos. Ele se tornou o membro mais jovem do Colégio de Cardeais.
Representação nacional
A Itália continua sendo a nação mais representada no conclave, com 17 eleitores (mais dois na Ásia). Os EUA têm dez cardeais eleitores, e a Espanha tem sete (com outros três no Marrocos, Chile e França).
O Brasil aumentou para sete eleitores, e a Índia para seis eleitores. A França continua com cinco eleitores, aos quais o arcebispo de Argel, cardeal Jean-Paul Vesco, no Norte da África foi adicionado. O bispo de Ajaccio, cardeal François-Xavier Bustillo, é de origem espanhola, embora naturalizado francês.
Argentina e Canadá se juntam à Polônia e Portugal com quatro cardeais eleitores, enquanto a Alemanha está empatada com as Filipinas e a Grã-Bretanha com três.
O peso dos cardeais eleitores engajados na Cúria, em outras funções romanas ou nas nunciaturas, diminuiu, como o dos italianos. Eles serão 34 de 140, uma baixa histórica.
Dos 21 novos cardeais, dez (todos eleitores) pertencem a ordens e congregações religiosas, outro recorde. O número de eleitores religiosos no Colégio de Cardeais aumentou de 27 para 35. Os frades menores se juntaram aos salesianos em cinco e ultrapassaram os jesuítas, que continuam sendo quatro. A família franciscana cresce para dez eleitores (cinco menores, três conventuais e dois capuchinhos). Os lazaristas e redentoristas aumentam para dois.
Como seria um possível conclave?
O papa Francisco criou 78% dos cardeais que podem votar em um conclave. Isso significa que os cardeais criados pelo papa Francisco excedem em muito a maioria de dois terços necessária para eleger um papa.
Isso não significa necessariamente que o conclave será ao gosto de Francisco. Além de os novos cardeais terem perfis muito diferentes, eles ainda não tiveram muita oportunidade de se conhecerem. Os papas também usaram os consistórios para reunir os cardeais e discutir questões de interesse geral.
O papa Francisco só fez isso três vezes: em 2014, quando foi discutido o tema da família; em 2015, quando o tema foi a reforma da Cúria; e em 2022, quando a constituição apostólica Praedicate Evangelium, ou a reforma da Cúria agora definida e promulgada, foi discutida.
Nesta última reunião, os cardeais foram divididos em grupos linguísticos, com menos oportunidades de falar juntos na assembleia. Este cenário torna a votação muito incerta.
Outro fato que deve ser observado é que até a eleição de são João Paulo II, os cardeais reunidos no conclave eram alojados em acomodações improvisadas no Palácio Apostólico perto da Capela Sistina. João Paulo II mandou reformar a Casa de Santa Marta justamente para garantir aos cardeais que elegeriam seu sucessor acomodações mais adequadas.
Hoje, no entanto, o papa Francisco mora na Casa Santa Marta. Isso significa que, depois da morte do papa, pelo menos o andar onde o papa mora deve ser selado, assim como o apartamento papal é selado. Selar um andar da casa também significa perder um número considerável de cômodos. E com um número tão alto de eleitores, também significa correr o risco de não ter cômodos suficientes para acomodar todos os cardeais.
Os eleitores poderiam ser colocados em apartamentos vagos dentro do Estado da Cidade do Vaticano. Isso, no entanto, os deixaria ainda mais isolados. Na prática, há o risco de que, durante o conclave, os cardeais nem sempre possam estar juntos para discutir a eleição.
Por essas razões, embora o papa Francisco tenha criado mais de dois terços dos cardeais eleitores, não é de forma alguma certo que o papa escolhido em um futuro conclave terá o mesmo perfil do papa Francisco.