Líderes da Igreja nos EUA, em Roma e no Oriente Médio disseram ter "esperança" cautelosa de que o novo regime na Síria vai respeitar comunidades cristãs depois de uma ofensiva relâmpago na semana passada por grupos rebeldes islâmicos derrubar o regime do presidente Bashar al-Assad, ditador que foi presidente do país desde 2000, sucedendo seu pai Hafez Assad.

O bispo da eparquia maronita de Nossa Senhora do Líbano, dom Elias Zaidan, presidente do comitê de justiça e paz internacional da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês), pediu ontem (10) aos EUA e à comunidade internacional em geral que apoiem a Síria enquanto o país “inicia um novo capítulo em sua rica história”.

“Em mais um desenvolvimento dramático no Oriente Médio, depois de suportar mais de uma década de sangrenta guerra civil, a Síria passa por uma transição política nacional que certamente terá impacto em toda a região”, disse dom Zaidan.

O regime de 53 anos da família Assad caiu em pouco mais de dez dias depois de uma coalizão das forças "rebeldes" lideradas pelo grupo radical islâmico sunita Hayat Tahrir al-Sham (HTS) varrer as principais cidades do país devastado pela guerra: Aleppo, Hama, Homs e, finalmente, Damasco, no último domingo (8). O HTS é conhecido por suas raízes iniciais no grupo terrorista islâmico Al-Qaeda e foi designado como um grupo terrorista pelos EUA e pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Al-Assad fugiu para Moscou, Rússia, com sua mulher e filhos, segundo as mídias estatais da Rússia e do Irã.

A reviravolta radical dos acontecimentos causou reações de alegria pelo fim do regime opressivo e medo diante do cenário do que uma Síria controlada pelo HTS poderia significar para seus cidadãos, especialmente para as comunidades cristãs minoritárias que temem perseguição.

Dom Zaidan também falou sobre os comentários do núncio apostólico em Damasco, Síria, cardeal Mario Zenari, que disse no último domingo (8) ao Vatican News, serviço oficial de informações da Santa Sé, estar muito aliviado com o que disse ser uma transição relativamente pacífica até agora.

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“Graças a Deus, essa transição ocorreu sem derramamento de sangue, sem a carnificina que era temida”, disse o cardeal Zenari, acrescentando: “Agora o caminho à frente é íngreme — aqueles que tomaram o poder prometeram respeitar a todos e construir uma nova Síria. Esperamos que eles cumpram essas promessas, mas, é claro, o caminho à frente continua muito difícil”.

Segundo o cardeal, as forças rebeldes do HTS se encontraram com bispos em Aleppo “imediatamente” depois de capturar a cidade, “assegurando-lhes que respeitariam as várias denominações religiosas e os cristãos”.

Dom Zaidan disse concordar com o cardeal Zenari que os “sentimentos sobre a transição e as aspirações do povo sírio são claros”.

“O povo da Síria quer um governo em Damasco que respeite e defenda os direitos humanos, especialmente a liberdade religiosa das minorias, defenda o Estado de direito e promova o desenvolvimento econômico e da sociedade civil em todo o país”, disse dom Zaidan.

“À medida que a Síria inicia um novo capítulo em sua rica história, peço aos EUA e à comunidade internacional que mantenham o povo da Síria em oração e monitorem de perto a situação para que todas as organizações de ajuda possam chegar aos mais necessitados”, concluiu o bispo.

O secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, falou também sobre a situação em desenvolvimento na Síria em reunião sobre o diálogo inter-religioso entre muçulmanos e cristãos na Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão, Itália.