12 de dez de 2024 às 14:05
A freira portuguesa Maria Lúcia Ferreira, conhecida como irmã Myri, da congregação das Monjas da Unidade de Antioquia, pediu orações para que não haja uma nova guerra civil na Síria. O presidente Bashar al-Assad foi derrubado no domingo (8) por grupos rebeldes liderados pelo grupo radical islâmico sunita Hayat Tahrir al-Sham (HTS). A religiosa vive no mosteiro de São Tiago Mutilado, na vila de Qara, a cerca de 90 km de Damasco.
Em mensagem ao secretariado português da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), a irmã Myri disse que agora “está tudo bem”. Mas, confessou que “os cristãos tiveram muito medo”, porque “a lembrança da guerra está muito presente e o perigo de entrar de novo nela fez muito medo a muita gente, já que foram rebeldes que fizeram este avanço e a memória dos massacres está ainda muito presente na memória das pessoas”.
A irmã Myri contou que esse medo se fez presente, por exemplo, quando os rebeldes islâmicos tomaram a cidade de Aleppo, a segunda maior da Síria e onde vive uma importante comunidade cristã. “Os cristãos fugiram das suas casas, mas graças a Deus já estão a voltar”, disse. Segundo ela, o clima de confiança tem sido possível por causa da atitude de respeito que os rebeldes têm manifestado às várias comunidades religiosas.
O núncio apostólico em Damasco, cardeal Mario Zenari, disse no domingo ao Vatican News, serviço oficial de informações da Santa Sé, que os rebeldes “se reuniram com os bispos em Aleppo imediatamente, nos primeiros dias, assegurando-lhes que respeitarão as várias denominações religiosas e os cristãos”.
Para a irmã Myri, “o único perigo” é que a Síria “caia do caos”, com um conflito entre os grupos armados. Por isso pediu “realmente” orações para que “as coisas de resolvam de maneira calma e, pouco a pouco, a ordem volte ao país”.
Segundo a religiosa, em Aleppo, “por exemplo”, começou “a desordem, os roubos, porque, claro, a polícia já não está presente, o exército também não e tudo precisa de voltar a estar sob uma organização e autoridade”.
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Ajuda à Igreja que Sofre pede respeito às comunidades religiosas
A presidente executiva internacional da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre, Regina Lynch, também pediu respeito aos direitos das comunidades religiosas.
“A queda do regime de Assad e a tomada de Damasco pelos rebeldes marcam um momento histórico. Embora as minorias religiosas tenham sido amplamente respeitadas durante esta transição, a nossa experiência passada recorda-nos como as liberdades religiosas podem ser severamente restringidas em tempos de instabilidade na região”, disse em um comunicado.
“Apelamos à comunidade internacional e às novas autoridades da Síria para que assegurem a proteção dos direitos fundamentais de todas as comunidades religiosas, garantindo a sua liberdade de culto, a sua educação e o seu direito a viver em paz”, pediu.
Lynch disse que, “como fundação católica”, a ACN continua empenhada “em apoiar os esforços de ajuda e reconstrução na Síria”. “Os nossos projetos continuarão a centrar-se na prestação de ajuda essencial, educação e apoio espiritual à minoria cristã mais vulnerável, promovendo simultaneamente a reconciliação e a esperança”, disse.