Uma doação de R$ 35 milhões da Fundação Behring permitiu à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) criar ontem (11) um instituto de referência em ensino e pesquisa em Inteligência Artificial (IA). “É um instituto e uma graduação que responde ao magistério do papa Francisco”, diz o reitor, padre Anderson Antonio Pedroso à ACI Digital. “Há um aspecto do magistério que é esse de pensar a ciência a serviço da vida e da paz”.

O dinheiro da organização filantrópica voltada para o desenvolvimento do Brasil por meio da educação de jovens em computação, será usado para a construção do prédio que vai abrigar os espaços de trabalho, salas de aula, laboratórios de ponta de IA e um auditório que será o maior do campus da PUC-RJ.  “Nós vamos ter ensino, pesquisa e extensão nesse prédio, que é um prédio novo, todo moderno”, disse o reitor.

Projeto do prédio do Instituto de Ensino e Pesquisa em Inteligência Artificial da PUC-RJ. Crédito: PUC-RJ.
Projeto do prédio do Instituto de Ensino e Pesquisa em Inteligência Artificial da PUC-RJ. Crédito: PUC-RJ.

O padre Anderson contou que a sua inspiração para criar o instituto foi a mensagem do papa Francisco Inteligência Artificial e Paz, publicada para o Dia Mundial da Paz de 2024. “A inteligência artificial tornar-se-á cada vez mais importante [e] os desafios que coloca não são apenas de ordem técnica, mas também antropológica, educacional, social e política”, escreveu o papa. “A imensa expansão da tecnologia deve ser acompanhada por uma adequada formação da responsabilidade pelo seu desenvolvimento”.

Depois de ler a mensagem, em dezembro de 2023, o reitor foi ao Vaticano falar com o papa sobre a intenção de criar o instituto de IA. Ele diz que o papa o confirmou nessa missão. “Quase um ano depois, a gente consegue realizar isso”, disse o padre.

“Uma universidade pontifícia é uma universidade que está com o papa”, disse ele. “Não é no exterior. Não é só na bandeira, não é só nos símbolos. É, de fato, com o magistério papal. Então, o que o magistério papal nos indicou foi a Inteligência Artificial”.

O Instituto de Ensino e Pesquisa em Inteligência Artificial da PUC-Rio vai oferecer o curso de graduação em IA já no segundo semestre de 2025. O curso pretende abrir 100 vagas por ano.

Segundo o reitor, a graduação está sendo pensada de forma multidisciplinar envolvendo professores de matemática, informática, engenharias elétrica e industrial, mas também está sendo pensada de forma humanista. “As bases filosóficas do magistério da Igreja e do papa fazem parte da estrutura do curso”, diz padre Anderson.

“Os graduandos em IA e os pesquisadores têm que ter acesso ao conhecimento e à sabedoria da Igreja no que diz respeito a esses temas de ciência, de fronteira e agora de inteligência artificial”. As disciplinas de filosofia e teologia fazem parte do currículo do curso, mas o reitor diz que elas “são parte estruturante do curso, fazem parte da cultura de desenvolver a IA com ética e voltada para a vida”.

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O papel da Universidade Católica no desenvolvimento da IA

“A universidade é uma obra da Igreja na fronteira com o mundo”, disse o reitor. “Ela não é uma obra da Igreja ad-intra. Ela é uma obra da Igreja ad-extra, para fora, sempre conversando com a ciência. Então, o primeiro papel da universidade católica é conhecer com profundidade. É ter competência e não limitar a ciência”.

“De maneira alguma, a Universidade Católica deve assumir um lugar de censura, de preconceito com a IA. Porque qualquer realidade humana e qualquer ciência pode ser para o bem ou para o mal”, disse o padre.

Para ele “a IA está assustando” porque tem algo de “autogenerativa. Tem sempre o fantasma, desde a Idade Média, da criatura se voltar contra o Criador, que no fundo é a grande metáfora nossa e o drama humano. Nós somos criaturas e podemos nos voltar contra o Criador”.

“Esse é o drama humano e a salvação passa por aí”, diz o reitor.

Se a universidade for “competente, será escutada”, disse. Para o reitor, “a universidade católica, tem que primar pela excelência, conhecer profundamente e ser conhecida como quem conhece muito bem a ciência. Aí começa o diálogo, porque aí nós vamos conversar com quem está no alto”.

É importante, segundo o padre, se apresentar como dialogante, “mas um diálogo onde nós temos a nossa mensagem. Esse é o ponto. Nós temos identidade, nós não dialogamos sem ter nossa opinião, senão não é diálogo”.

“A Igreja precisa se adiantar para que ela seja como conhecida como Mater et Magistra, mãe e mestra. Se ela não se adianta, ela não pode ser mãe e mestra e fica para trás”.