24 de dez de 2024 às 08:00
O venerável brasileiro Nelsinho Santana morreu aos nove anos, em 24 de dezembro de 1964. Dias antes, ele tinha previsto que Jesus o levaria para o céu na véspera de Natal e de lá ele intercederia por muita gente.
Nelson Santana, o Nelsinho, nasceu em Ibitinga (SP), em 31 de julho de 1955. Era o terceiro de oito filhos. Certo dia, aos sete anos, ele machucou gravemente o braço enquanto brincava na fazenda onde morava e foi levado para a Santa Casa de Misericórdia de Araraquara (SP).
No livro Nelsinho para todos, o missionário redentorista padre Gerhard Rudolfo Anderer, que conviveu com Nelson Santana, conta que, no hospital, o menino conheceu irmã Genarina e ela lhe propôs que aproveitasse o tempo que passaria internado para fazer uma boa catequese. O menino logo aceitou. Ele, então, aprendeu sobre “o amor de Deus por nós e como Jesus nos libertou do mal” e prometeu a Jesus que “levaria sua cruz cada dia e cada hora com boa disposição e sem reclamar jamais”.
Tempos depois, teve alta hospitalar e voltou para casa. Mas, um dia, entrou correndo na cozinha e disse à sua mãe que estava prestes a “fazer um pecado muito grave”. Assustada, a mãe lhe perguntou o que era e ele respondeu: “Prometi a Jesus não reclamar quando tiver de enfrentar a dor e o sofrimento. Mas agora, não aguento. Já é demais. Meu braço está pior que antes”. A mãe o consolou e o levou de volta ao hospital.
Depois de atender o menino, o médico contou para irmã Genarina que não havia outra solução a não ser amputar o braço dele. A religiosa contou aos pais e depois foi falar com a criança.
A irmã Genarina cantou para Nelsinho uma canção que cantavam na época dos encontros de catequese: “O meu coração é só de Jesus. A minha alegria é a Santa Cruz. Em penas e dores, em dura aflição, que viva Jesus no meu coração”. Em seguida, ela lhe disse que naquele dia Jesus ia lhe pedir “bem mais que sua dor”.
Para a surpresa da religiosa, o menino respondeu: “Mesmo que seja meu braço por inteiro, Jesus pode levar, pois que tudo o que é meu também é Dele”.
Nelsinho permaneceu no hospital e foi lá que o padre Gerhard Rudolfo Anderer o conheceu quando chegou a Araraquara em 1964 para um curso de padres novos. Eles conversaram e Nelsinho contou que já estava ali há oito meses e que gostaria de comungar todos os dias. O sacerdote se comprometeu a levar Jesus Eucarístico diariamente para o menino.
O redentorista narra em seu livro que, se grande era o consolo de Nelsinho ao receber a Eucaristia, também grande era o sofrimento nos dias de curativo. “Para não gritar de dor”, conta o padre, “ele beijava com força o crucifixo” que tinha ganhado da irmã Genarina.
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Chegou o período de retiro espiritual dos redentoristas e o padre Gerhard disse para Nelsinho que precisaria ficar cinco dias em retiro, rezando. O menino se comprometeu a estar unido a ele em oração e revelou que gostaria de passar o Natal no céu, “se Jesus assim também o quisesse”.
“Não sei como é no céu. Mas, se precisar de um braço, já consigo fazer alguma coisa como mostrar a Jesus: ‘Ajuda este aqui! Veja aquele ali! Não deixe de socorrer aquele lá’”, disse o menino. Mas, como o Natal ainda estava longe, acrescentou que não tinha problemas, porque assim teria mais tempo para se preparar.
Quando estava no retiro, o padre recebeu um chamado urgente do hospital: Nelsinho dizia estar se sentindo mal e pediu a comunhão e a unção. Depois de receber os sacramentos, voltou a se sentir bem.
No dia 24 de dezembro, o padre Gerhard foi designado para ajudar na celebração de Natal em uma paróquia na cidade de Fernando Prestes (SP). Antes de partir, foi ao hospital falar com Nelsinho e lhe dar a comunhão.
“Nelsinho, como sempre, recebeu Jesus devotamente e fechou os olhos. Abaixou sua cabeça e colocou sua mãozinha sobre seu peito”, conta o padre no livro. Nesse meio tempo, a irmã Genarina chegou com outras crianças para montar o presépio perto do menino, que não podia se levantar. “Mas, eu não vou estar mais aqui”, disse Nelsinho.
“Hoje, ao anoitecer, Jesus vai me levar para o Céu”, disse o menino ao padre. Eles conversaram sobre o amor de Deus e Nelsinho disse que queria retribuir a esse amor “conquistando o máximo de crianças para Ele”.
Por fim, combinou com o padre: “Todos os dias, na hora da Santa Missa, após a consagração, quando o padre levantar Jesus Hóstia, diga com poucas palavras a Ele o que quer, pois eu estarei bem atento ao lado dele para insistir, com confiança, puxando Sua manga, dizendo: ‘Jesus, atende o padre, atende toda esta gente’. Tenho certeza que não vai falhar”.
O padre Gerhard partiu para Fernando Prestes, onde celebrou a missa às 19h, mesma hora em que Nelsinho morreu, em 24 de dezembro de 1964. Ele foi enterrado no cemitério de Araraquara no dia de Natal, como indigente, porque sua família não tinha recursos para o funeral. Mais tarde, uma sepultura perpétua foi doada por uma família religiosa.