15 de dez de 2024 às 10:10
A visita do papa Francisco à Córsega foi marcada pelo encontro “Religiosidade Popular no Mediterrâneo”, um evento que reuniu bispos de França, Itália e Espanha. Francisco disse que a fé popular “revela a presença de Deus na carne viva da história”.
Antes de ir ao Palácio de Congressos e Exposições de Ajaccio, o papa parou no Batistério de Saint-Jean, que data do século VI e que foi encontrado em 2005 durante as escavações para a construção de um parque de estacionamento.
Centenas de pessoas saudaram o papa Francisco quando ele passou com o papamóvel pelas ruas.
O papa Francisco também cumprimentou e abençoou várias crianças e teve um encontro com uma mulher de 108 anos que segurava um cartaz dizendo que era a mulher mais velha de Ajaccio.
No início do seu discurso no congresso, depois das boas-vindas do bispo de Ajaccio, cardeal Javier Bustillo, o papa abordou a história e a evolução do Mediterrâneo, “um mar único no mundo”.
Dirigindo-se aos participantes do evento, Francisco se referiu à secularização da Europa, onde “a questão sobre Deus parece estar a esmorecer e se descobre cada vez mais indiferentes no que diz respeito à sua presença e à sua Palavra”.
No entanto, exortou a analisar esta situação, “para não nos deixarmos levar por considerações apressadas e concepções ideológicas que, por vezes, ainda hoje, opõem a cultura cristã à cultura laica”.
O papa se referiu aos crentes que vivem “a sua fé sem a impor”, bem como aos não crentes que “não são alheios à procura da verdade, da justiça e da solidariedade”.
Tendo em conta estes dois horizontes, disse que se pode apreciar a beleza e a importância da piedade popular, “que se manifesta sempre na cultura, na história e nas línguas de um povo, e se transmite através dos símbolos, costumes, ritos e tradições de uma comunidade viva”.
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O papa disse que esta prática atrai e envolve pessoas que estão no limiar da fé, que não são praticantes regulares e que, no entanto, “descobrem nela a experiência das suas próprias raízes e afetos, juntamente com valores e ideais que consideram úteis para a sua própria vida e para a sociedade”.
“Ao exprimir a fé com gestos simples e uma linguagem simbólica enraizada na cultura do povo, a piedade popular revela a presença de Deus na carne viva da história, fortalece a relação com a Igreja e torna-se muitas vezes oportunidade de encontro, intercâmbio cultural e festa”, disse o papa.
Os riscos da piedade popular
Sobre a piedade popular, o papa disse que é preciso fazer um discernimento teológico e pastoral particular, pois há o risco de essas manifestações “se limitarem a aspectos exteriores ou folclóricos, sem conduzir ao encontro com Cristo”.
Outro risco, acrescentou, é de a piedade popular “ser utilizada, instrumentalizada por associações que pretendem reforçar a sua própria identidade de forma polêmica, alimentando particularismos, contraposições, atitudes de exclusão”.
“Tudo isto não responde ao espírito cristão da piedade popular e interpela todos, especialmente os pastores, a vigiar, discernir e promover uma atenção contínua às formas populares da vida religiosa”. Embora, disse, a piedade deva ser festiva, pois “vem do povo”.
“A fé não é um fenômeno privado”
Francisco disse que “a fé não permanece um fenômeno privado, que se esgota no sacrário da consciência, mas implica um compromisso e um testemunho diante de todos, em prol do crescimento humano, do progresso social e do cuidado da criação, sob o signo da caridade”.
O papa disse que a piedade popular pode alimentar a “cidadania construtiva” dos cristãos e que este conceito é muitas vezes mal compreendido pelos teólogos e intelectuais.
Para o papa, é necessário desenvolver “um conceito de laicidade que não seja estático e rígido, mas evolutivo e dinâmico, capaz de se adaptar a situações diversas ou imprevistas, e de promover uma cooperação constante entre as autoridades civis e eclesiásticas para o bem da comunidade inteira, cada um dentro dos limites da sua própria competência e do seu próprio espaço”.
Trata-se de um “laicismo saudável” que promove “um diálogo aberto, franco e fecundo” e um diálogo constante entre o mundo religioso e o mundo secular, entre a Igreja e as instituições civis e políticas.
Por fim, encorajou os jovens a participarem ainda mais ativamente na vida sociocultural e política, “com o impulso dos ideais mais saudáveis e a paixão pelo bem comum”.