Um presépio feito por artesãos de Belém causou polêmica na semana passada por incluir um keffiyeh (lenço de cabeça) palestino com o Menino Jesus na manjedoura — mas, segundo o organizador do projeto, o lenço de cabeça foi uma decisão de última hora para representar os palestinos.

O keffiyeh pôde ser visto na apresentação do presépio de Belém ao papa Francisco na Aula Paulo VI, no Vaticano, em 7 de dezembro. Quatro dias depois, em 11 de dezembro, o lenço de cabeça, a manjedoura e a imagem de Jesus foram retirados do presépio sem explicação.

O keffiyeh xadrez preto e branco é há décadas um símbolo da causa palestina usado em qualquer parte do mundo. Com o conflito em curso na Faixa de Gaza entre o grupo radical islâmico Hamas e as Forças de Defesa de Israel, o adereço foi criticado por poder sugerir uma tomada de posição anti-Israel.

Johny Andonia, artista de 39 anos de Belém que chefiou o projeto, disse que o lenço só é um símbolo para representar ou mostrar a “existência” dos palestinos.

Matteo Bruni, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, disse à CNA, agência em inglês da EWTN News, que a Santa Sé segue a tradição de colocar o Menino Jesus no presépio na noite de Natal. É típico que o presépio completo seja apresentado ao papa antes da imagem de Jesus ser retirada, deixando a manjedoura vazia até o início oficial do Natal.

Ao falar à CNA por telefone da ilha de Chipre, onde tem residência artística até maio do ano que vem, Andonia disse que não esperava tantas reações ao keffiyeh, pelo qual ele também assumiu responsabilidade.

Johny Adonia. Beata Michalska
Johny Adonia. Beata Michalska

“Na verdade, isso ocorreu de forma espontânea, porque soubemos que o Menino Jesus tem que ser coberto ou mesmo estar ausente até 24 de dezembro, e [o coordenador local] sugeriu cobri-lo com um keffiyeh”, disse o artista na última sexta-feira (13).

“E eles disseram não, não, para não cobri-lo. E então ele perguntou, posso colocá-lo então sob [o menino Jesus] e as pessoas… encarregadas naquele período aceitaram colocar o keffiyeh sob o menino Jesus, e foi assim que aconteceu”.

Andonia disse discordar de comentários de alguns setores de que o keffiyeh indica violência ou a erradicação de outros.

“É só sobre reconhecimento. Esse keffiyeh representa as pessoas que apresentaram o presépio”, disse Andonia.

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O artista disse também que não acredita que a Santa Sé vai recolocar o keffiyeh quando a manjedoura e o menino Jesus forem devolvidos na véspera de Natal.

Segundo a agência de notícias americana Associated Press (AP), a embaixada de Israel junto à Santa Sé se recusou a dizer se reclamou do keffiyeh ou se pediu que o lenço fosse removido.

Andonia, que é pintor e artista plástico, nasceu em Jerusalém, mas viveu toda a sua vida em Belém. Ele é professor na Dar al-Kalima University College of Art and Culture em Belém.

Depois da embaixada da Palestina junto à Santa Sé, em Roma, entrar em contato com o artista em abril do ano passado sobre a ideia de um presépio de Belém ser exibido no Vaticano, Andonia disse que decidiu entrar em contato com artesãos locais para criar a estrutura a partir de materiais tradicionais, que ele disse ter “raízes profundas” na área, especialmente madeira de oliveira e madrepérola.

A instalação redonda, de quase três metros de altura, feita por mais de 30 artesãos de Belém, também inclui pedra, cerâmica, vidro, feltro e tecido.

Evidências mostram o uso de madeira de oliveira em Belém desde o século IV d.C., na construção da basílica da Natividade, disse Adonia. E monges franciscanos começaram a usar madrepérola no artesanato da região no século XVII.

O presépio é “um presente dos belemitas”, disse Adonia.

Embora não seja religioso, o artista disse que ser a ponte entre a Santa Sé e os artesãos de Belém foi, no entanto, profundamente significativo para ele.

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“A maioria [das pessoas envolvidas] eram pessoas de fé, e ter seu trabalho no Vaticano com o papa, isso foi algo [significativo] para elas”, disse Adonia.

“Vivi minha vida observando pessoas criarem presépios, e elas têm orgulho disso, então também significou algo para mim fazer parte disso e dar essa oportunidade aos indivíduos, e apoiá-los até mesmo financeiramente. O projeto foi financiado pelas autoridades palestinas, então também foi uma espécie de ajuda [financeira], nessa situação atual, para eles”.