Um grupo de mulheres se reuniu em uma manhã fria de dezembro em Roma, não para seu estudo bíblico habitual, mas para levar presentes de Natal a um abrigo para moradores de rua administrado pelas missionárias da Caridade, ordem fundada por santa Teresa de Calcutá, também conhecida como madre Teresa.

As mulheres foram recebidas na porta por uma freira indiana vestida com um sari, a veste feminina indiana tradicional, branco enfeitado com azul. Ela as recebeu e as conduziu pelo abrigo até uma pequena capela. No centro, havia um sacrário simples, com um crucifixo, e as palavras "Tenho sede". A irmã gesticulou para que elas se sentassem e rezasse, então disse em voz baixa:

“Perguntem ao Senhor”, disse ela, “Como posso ser um canal de paz para as pessoas? Como posso ser um sinal de esperança para as pessoas ao meu redor?”

“Como posso me tornar um sinal de esperança para minha família, em que posso estar brigando com meu marido, filhos, amigos? Como posso me tornar o sinal de esperança no lugar onde estamos?”

O tempo do Advento, enraizado na esperança e no anseio pelo Messias, é um tempo em que os cristãos preparam seus corações para a vinda de Cristo. É também um tempo para esmolas e atos de caridade para levar esperança a um mundo cheio de lutas e necessidades. Para as missionárias da Caridade, cujo carisma é servir “os mais pobres dos pobres”, isso não é apenas para um tempo litúrgico. É um modo de vida.

O poder transformador da caridade

María Teresa Ávila Fuentes, estudante de doutorado na Pontifícia Academia São Tomás de Aquino, em Roma, estudou por anos os efeitos cascata do trabalho das missionárias da Caridade. Ela o chama de “poder transformador da caridade”, conceito que ela estuda em sua dissertação.

“Minha pesquisa de doutorado é sobre o poder transformador da caridade e é um estudo pelo prisma dos missionários de Madre Teresa”, disse Fuentes.

A pesquisa de Fuentes examina como os atos simples, mas profundos, de amor das freiras têm impacto não apenas nas comunidades que elas atendem, mas também nos voluntários e leigos que testemunham e participam de seu trabalho.

“É essa ideia de que o amor é expansivo”, disse Fuentes ao citar a encíclica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI em 2009.

“A caridade tem impacto não apenas em micro relações, mas também em macro relações — sociedade, cultura, economia”.

Ela falou sobre histórias de vidas transformadas pelo testemunho das freiras.

“Entrevistei pessoas que adotaram crianças por causa do testemunho das freiras, pessoas que mudaram completamente de carreira ao fazer voluntariado, pessoas que fundaram ONGs ou escolas. Os voluntários costumam dizer que ver o relacionamento das freiras com os pobres — e vivenciar o relacionamento delas com os próprios voluntários — é o que os transforma”.

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As missionárias da Caridade, com sua simplicidade radical, vivem uma profunda confiança na providência de Deus. Elas não arrecadam fundos, nem aceitam reconhecimento por seu trabalho. A presença delas nesta matéria é mediada por testemunhas leigas como Fuentes, já que as próprias freiras não podem ser citadas pelo nome ou fotografadas.

“Precisamente porque elas se tornam tão pequenas e tão vazias, Deus é capaz de preenchê-las tão generosamente”, disse Fuentes à CNA, agência em inglês da EWTN News.

Essa abordagem reflete a crença de madre Teresa de que pequenos atos de amor, feitos com grande devoção, têm o poder de transformar corações e comunidades.

Uma freira disse: “Não precisamos fazer grandes coisas para ser um sinal de esperança. Um sorriso, um olhar compassivo, apenas uma atitude de escuta, uma atitude acolhedora… Ficaremos felizes se tivermos dado cinco minutos a alguém com paciência e amor, então, no fim do dia, fui capaz de fazer algo bom com a graça de Deus. Então, esperamos ser um sinal de esperança para os outros, especialmente neste ano de esperança”.

Advento: um tempo de esperança e caridade

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O Catecismo da Igreja Católica descreve o Advento como um tempo para renovar “esta expectativa do Messias (…) Comungando na longa preparação da primeira vinda do Salvador”.

Este ano, o Advento também leva ao Jubileu 2025 da Igreja, com o tema “Peregrinos da Esperança”, que vai começar em 24 de dezembro, véspera de Natal. Para as missionárias da Caridade e seus colaboradores, esse tema ressoa profundamente. Seu trabalho é uma expressão tangível de esperança — ao levar dignidade aos destituídos, companheirismo aos solitários e um lar para os negligenciados e abandonados.

“O que é bonito”, disse Fuentes, “é que, como elas vivem essa entrega total, você toca a campainha e simplesmente diz: 'Quero ser voluntário', e Deus vai ter algo preparado para você lá com as freiras”.

A própria Fuentes vivenciou essa transformação em primeira mão. Vinda do Estado de Chihuahua, México, ela passou cinco meses como voluntária com as missionárias da Caridade em Calcutá, Índia, uma experiência que ela disse ter mudado o curso de sua vida.

“Eu dava aulas no ensino médio, mas parei, e minha melhor amiga e eu fomos para Calcutá para ser voluntárias em uma casa para crianças com deficiências. Isso me transformou”, disse ela.

Para aqueles inspirados a se voluntariar com as freiras, a ordem lançou um site (link em inglês) com informações de contato de algumas de suas missões.

Quando madre Teresa morreu em 1997, havia quase 4 mil freiras em 594 missões em 123 países. Hoje, as missionárias da Caridade também estão presentes em alguns dos lugares mais perigosos e devastados pela guerra no mundo, como a Faixa de Gaza, a Ucrânia e a Síria.

Os padres missionários da Caridade também criaram o apostolado Tenho Sede, um movimento para leigos crescerem no carisma de madre Teresa para aprofundar sua fé e aprender a servir aos outros com amor e humildade.

“A caridade na verdade, que Jesus Cristo testemunhou com a sua vida terrena e sobretudo com a sua morte e ressurreição, é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira”, escreveu Bento XVI na Caritas in veritate.

“O amor — caritas — é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz. É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta”.