Hinos de Natal soaram dentro dos muros da maior prisão de Roma enquanto detentos e guardas prisionais cantavam juntos "Noite Feliz" e trocavam o sinal da paz entre si em uma missa que o papa Francisco celebrou para marcar a primeira abertura de uma porta santa jubilar em uma prisão da história.

A missa do papa hoje (26) no Complexo Prisional de Rebibbia, em Roma, na festa de santo Estêvão, o primeiro mártir cristão, marcou o início do Jubileu da Esperança da Igreja, simbolizando a redenção e a possibilidade de recomeço para os presos.

A visita do papa começou com um ritual solene, quando ele se levantou de sua cadeira de rodas para bater seis vezes na porta santa de bronze da capela da prisão, a Igreja do Pai Nosso. Do outro lado da porta, a igreja estava lotada com cerca de 100 presos, além de policiais, capelães, voluntários, carcereiros e suas famílias aguardando a chegada do papa desde antes do nascer do sol.

“A primeira Porta Santa eu abri no Natal em São Pedro. Eu queria que a segunda fosse aqui, em uma prisão”, disse hoje o papa Francisco aos presos. “Eu queria que cada um de nós aqui, dentro e fora, tivesse a possibilidade de abrir a porta de nossos corações e entender que a esperança não decepciona”.

Enquanto as outras quatro portas santas abertas aos peregrinos do jubileu que visitam Roma ficam todas em basílicas da Cidade Eterna, essa quinta porta santa só é acessível aos presos e funcionários da prisão, que o papa Francisco disse ser "uma catedral de dor e esperança".

Paolo Impagliazzo, secretário-geral da Comunidade Católica de Sant'Egidio, foi voluntário no ministério prisional de Rebibbia nos últimos 20 anos.

“Temos mais de 1, 5 mil presos aqui em Rebibbia”, disse Impagliazzo à CNA, agência em inglês da EWTN News. Ele disse que um grupo de presos que participam da capelania da prisão e que geralmente comparecem à missa da prisão foram escolhidos de diferentes partes da unidade prisional para participar da missa que o papa celebrou.

Ele disse que um dos ministros da prisão formou um pequeno coral entre os presos que estavam praticando juntos nas semanas que antecederam a visita do papa.

Os prisioneiros também participavam da liturgia ao trazer as ofertas no ofertório, enquanto os guardas da prisão liam as leituras das Escrituras.

Para Impagliazzo, esse momento no Jubileu da Esperança é um lembrete de que os prisioneiros não estão “confinados aos seus erros”.

“Eles fazem parte de uma jornada, de uma jornada cristã junto com outros cristãos em todo o mundo”, disse Impagliazzo.

Na homilia improvisada do papa, Francisco falou diretamente aos prisioneiros, ao dizer que uma das graças do jubileu é “abrir os corações à esperança”.

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“Não percam a esperança. Segurem-se na âncora da esperança”, disse o papa Francisco.

Ao fim da missa, o papa reservou um tempo para cumprimentar pessoalmente cada prisioneiro presente e estendeu suas saudações aos que permaneceram em suas celas.

“Rezo por vocês todos os dias”, disse o papa Francisco aos presos. “Eu realmente penso. Não é uma figura de linguagem. Eu penso em vocês e rezo por vocês. Desejo-lhes muita paz”.

Os prisioneiros deram vários presentes ao papa, incluindo uma reprodução em miniatura da porta santa da prisão, feita de madeira recuperada de barcos de migrantes, e uma cesta com itens artesanais da seção feminina da prisão. Em troca, o papa Francisco deu um pergaminho com uma mensagem de esperança.

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O bispo auxiliar de Roma, dom Benoni Ambarus, que supervisiona as iniciativas de caridade da diocese, disse que o dia é um "sonho que cultivamos há muito tempo". Dom Ambarus foi celebrante no altar da missa concelebrada pelo papa.

O papa Francisco anunciou sua intenção de abrir uma porta santa em uma prisão pela primeira vez em um jubileu ordinário em sua bula papal Spes Non Confundit (“A Esperança Não Decepciona”), na qual pediu que o ano santo da Igreja fosse um momento em que “os governos (...) tomem iniciativas que lhes restituam esperança: formas de anistia ou de perdão”.

“No Ano Jubilar, seremos chamados a ser sinais palpáveis de esperança para muitos irmãos e irmãs que vivem em condições de dificuldade”, escreveu o papa Francisco na bula papal. “Penso nos presos que, privados de liberdade, além da dureza da reclusão, experimentam dia a dia o vazio afetivo, as restrições impostas e, em não poucos casos, a falta de respeito”.

“A fim de oferecer aos presos um sinal concreto de proximidade, eu mesmo desejo abrir uma Porta Santa numa prisão, para que seja para eles um símbolo que os convida a olhar o futuro com esperança e renovado compromisso de vida”, escreveu também o papa.

Ao deixar a prisão de Rebibbia, o papa parou para cumprimentar os 300 presos e funcionários que o esperavam do lado de fora da capela.

O papa também falou a um jornalista de TV italiano que encontrou na beira da estrada, do lado de fora da prisão, da janela do carro branco Fiat 500 que o levava de volta à Cidade do Vaticano.

Ao refletir sobre sua visita, o papa Francisco disse: “Toda vez que chego a uma prisão, pergunto-me: Por que eles e não eu?”

“Como todos podemos cair, o importante é não perder a esperança, agarrar-se a essa âncora da esperança”, disse o papa.

“Temos que acompanhar os prisioneiros”, disse também Francisco. “Jesus diz que no dia do julgamento seremos julgados por isso: ‘Eu estava na prisão, e vocês me visitaram’ ”.