O papa Francisco celebrou hoje (1º) a missa da Solenidade de Maria, Mãe de Deus, na basílica de São Pedro, no Vaticano. Ele exortou a confiar o Ano Novo de 2025 a Nossa Senhora e pediu a proteção da vida humana desde o ventre materno.

Abaixo, a homilia do papa Francisco:

No início de um novo ano que o Senhor nos concede, é bom poder erguer o olhar do nosso coração para Maria. Na verdade, Ela, sendo Mãe, remete-nos para a relação com o Filho: leva-nos outra vez a Jesus, fala-nos de Jesus, conduz-nos a Jesus. Assim, a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus faz-nos imergir de novo no Mistério do Natal: Deus fez-se um de nós no seio de Maria, e a nós, que abrimos a Porta Santa para iniciar o Jubileu, recorda-se-nos hoje que “Maria é a porta pela qual Cristo entrou neste mundo” (Santo Ambrósio, Epístola 42, 4: PL, VII).

O apóstolo Paulo resume este Mistério afirmando que «Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher» (Gl 4, 4). Estas palavras – “nascido de uma mulher” – ressoam agora no nosso coração e recordam-nos que Jesus, nosso Salvador, se fez carne e se revela na fragilidade da carne.

Nascido de uma mulher. Antes de mais, esta expressão leva-nos ao Natal: o Verbo fez-se carne. O apóstolo Paulo, ao especificar que nasceu de uma mulher, sente quase a necessidade de nos recordar que Deus se fez verdadeiramente homem através de um ventre humano. Hoje em dia, há uma tentação que fascina muitas pessoas e pode enganar também muitos cristãos: imaginar ou fabricar para nós um Deus “abstrato”, ligado a uma vaga ideia religiosa, a uma fugaz agradável emoção. Ao invés, é concreto, é humano: Ele nasceu de uma mulher, tem um rosto e um nome, e chama-nos a manter uma relação com Ele. Cristo Jesus, o nosso Salvador, nasceu de uma mulher; tem carne e sangue; veio do seio do Pai e, todavia, encarnou no ventre da Virgem Maria; pertence aos altos céus e, apesar disso, habita nas profundezas da terra; é o Filho de Deus e, no entanto, fez-se Filho do homem. Ele, imagem de Deus Omnipotente, veio na fraqueza e, embora não tivesse mácula alguma, «Deus o fez pecado por nós» (2 Cor 5, 21). Nasceu de uma mulher e é um de nós. Por isso mesmo, Ele pode salvar-nos.

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Nascido de uma mulher. Esta expressão fala-nos também da humanidade de Cristo, para nos dizer que Ele se revela na fragilidade da carne. Se Ele desceu no seio de uma mulher, nascendo como todas as criaturas, ei-lo que se mostra na fragilidade de uma criança. É por isso que os pastores, quando foram ver com os seus próprios olhos o que o Anjo lhes tinha anunciado, não encontram sinais extraordinários nem manifestações grandiosas, mas «encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura» (Lc 2, 16). Encontram um recém-nascido indefeso, frágil, necessitado dos cuidados da mãe, de agasalhos e leite, de carícias e amor. São Luís Maria Grignion de Montfort diz que a Sabedoria divina, «embora o pudesse fazer, não quis dar-se diretamente aos homens, mas preferiu dar-se por meio da Virgem Santíssima. Nem quis vir ao mundo na idade de um homem perfeito, independente dos outros, mas como uma pobre pequena criança, necessitada dos cuidados e do sustento da Mãe» (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 139). E assim, em toda a vida de Jesus, podemos confirmar esta escolha de Deus, a escolha da pequenez e do escondimento. Ele nunca sucumbirá ao fascínio do poder divino para realizar grandes sinais e impor-se aos outros, como o demónio lhe tinha sugerido, mas revelará o amor de Deus na beleza da sua humanidade, habitando entre nós, partilhando a vida comum feita de trabalhos e sonhos, compadecendo-se dos sofrimentos do corpo e do espírito, abrindo os olhos aos cegos e revigorando os desanimados. Compadecendo-se! As três atitudes de Deus são misericórdia, proximidade e compaixão: Deus faz-se próximo, misericordioso e compassivo. Não o esqueçamos. Jesus mostra-nos Deus através da sua frágil humanidade, que cuida dos mais frágeis.

Irmãs e irmãos, é bonito pensar que Maria, a jovem de Nazaré, nos leva sempre para o Mistério do seu Filho, Jesus. Ela recorda-nos que Jesus vem na nossa carne e, por isso, o lugar privilegiado onde podemos encontrá-lo é, antes de mais, a nossa vida, a nossa frágil humanidade e a de quem passa por nós todos os dias. Invocando-a como Mãe de Deus, afirmamos que Cristo foi gerado pelo Pai, mas nasceu verdadeiramente do ventre de uma mulher. Afirmamos que Ele é o Senhor do tempo, mas com a sua presença amorosa habita este nosso tempo, mesmo este novo ano. Afirmamos que é o Salvador do mundo, mas podemos encontrá-Lo e devemos procurá-Lo no rosto de cada ser humano. E se Ele, que é o Filho, se fez pequeno para ser segurado nos braços de uma mãe, para ser cuidado e amamentado, então isso significa que ainda hoje Ele vem naqueles que precisam dos mesmos cuidados: em todos os irmãos e irmãs que encontramos e têm necessidade de atenção, escuta e ternura.

Confiemos a Maria, Mãe de Deus, este novo ano que começa, para que como Ela também nós aprendamos a encontrar a grandeza de Deus na pequenez da vida; para que aprendamos a cuidar de toda a criatura nascida de uma mulher, antes de mais protegendo o dom precioso da vida, como faz Maria: a vida no ventre materno, a vida das crianças, a vida de quem sofre, a vida dos pobres, dos idosos, de quem se encontra só, dos moribundos. E hoje, Dia Mundial da Paz, todos somos chamados a acolher este convite que brota do coração materno de Maria: proteger a vida, cuidar das vidas feridas – e há tantas vidas feridas, tantas! –, restituir a dignidade à vida de cada ser “nascido de uma mulher” é a base fundamental para construir uma civilização de paz. Por isso, «faço apelo a um firme compromisso de promover o respeito pela dignidade da vida humana, desde a conceção até à morte natural, para que cada pessoa possa amar a sua vida e olhar para o futuro com esperança» (Mensagem para o LVIII Dia Mundial da Paz, 1 de janeiro de 2025).

Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, espera-nos precisamente ali no presépio. Tal como aos pastores, ela mostra-nos o Deus que nos surpreende sempre e que não vem no esplendor dos céus, mas na pequenez de uma manjedoura. Confiemos-lhe este novo ano jubilar, entreguemos-lhe as nossas questões, preocupações, sofrimentos, alegrias e tudo o que trazemos no coração. Ela é Mãe! Confiemos-lhe o mundo inteiro, para que a esperança renasça e a paz germine finalmente em todos os povos da terra.

A história conta que, em Éfeso, quando os bispos estavam a entrar na igreja, o povo fiel, com bastões nas mãos, gritava: “Mãe de Deus!”. Os bastões, certamente, eram o aviso do que aconteceria se não declarassem o dogma da “Mãe de Deus”. Hoje, nós não temos bastões, mas temos coração e voz de filhos. Por isso, todos juntos, com força e por três vezes, aclamemos a Santa Mãe de Deus. Todos juntos: “Santa Mãe de Deus! Santa Mãe de Deus! Santa Mãe de Deus!”.