Os cristãos de Maaloula, cidade da Síria com grande tradição cristã, vivem com medo crescente desde que o governo da Síria foi derrubado. O medo aumentou com um recente incidente envolvendo uma família cristã e uma família muçulmana.

Uma fonte da Igreja disse à ACI Mena, agência em árabe da EWTN News, sob condição de anonimato, que o regime do ex-presidente Bashar al-Assad proibiu alguns muçulmanos de entrar na cidade ao recuperar o controle de Maaloula há cerca de dez anos devido à colaboração deles com o grupo radical islâmico Frente Al-Nusra em assassinatos, sequestros e atos de vandalismo contra cristãos e igrejas. Com a queda de Assad, essas pessoas voltaram a Maaloula e acusam os cristãos de serem responsáveis por sua expulsão.

“Alguns dos que foram expulsos causaram problemas, e os cristãos eram vistos como alinhados com o regime anterior”, disse a fonte. “Ainda assim, ironicamente, a alegria deles com a queda foi maior do que a dos outros, já que a maioria dos nossos jovens migrou para escapar do serviço militar obrigatório ou da reserva”.

Sobre os recentes ataques a cristãos, a fonte disse que “começaram as ameaças contra cinco famílias cristãs para tomar suas terras”.

“Alguns cristãos também foram instruídos a deixar suas casas e a cidade ou seriam mortos. As razões para essas ameaças incluem antigas vinganças ou acusações contra cristãos de portar armas e se unir às Forças de Defesa Nacional”, organização armada aliada ao regime derrubado.

“Essas ameaças se transformaram em atos quando a casa e o café de Bashar Shahin e sua família foram confiscados, apesar de alguns muçulmanos os terem defendido. Depois de mediação, Shahin foi autorizado a recuperar seus pertences. Duas casas também foram arrombadas e roubadas. Houve outras formas de assédio também, como tiros disparados próximo a um padre que distribuía presentes de Natal para crianças em um jardim de infância”, continuou a fonte.

A fonte disse que a autoridade de fato em Maaloula é um homem ligado à brigada Suleiman Shah, apoiada pela Turquia. Como resultado, moradores locais e líderes religiosos pediram à Hay'at Tahrir al-Sham, organização política e paramilitar islâmica sunita, para intervir.

“Os cristãos em Maaloula não se sentem seguros. Na ausência do Estado que invocamos, a segurança desapareceu — particularmente desde que as armas foram completamente removidas dos cristãos, permanecendo nas mãos de outros. Somos defensores da paz e queremos construir Maaloula de mãos dadas com todos os seus componentes”, disse a fonte.

Maaloula, Síria. ACI MENA
Maaloula, Síria. ACI MENA

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A fonte disse que o principal incidente que aumentou as tensões na cidade ocorreu nas primeiras horas de 26 de dezembro, quando um muçulmano, Abdul Salam Diab, e seu pai invadiram uma fazenda de um homem cristão chamado Ghassan Zakhm, com a intenção de roubá-la. Abdul Salam foi morto no evento.

“Infelizmente, o caso foi enquadrado como uma questão religiosa, retratando os cristãos como agressores contra os muçulmanos, embora tenha sido puramente um incidente isolado”, disse a fonte.

Esse incidente teria levado muitas famílias cristãs a deixar a cidade, já que nenhuma entidade garante mais a sua segurança. Das cerca de 325 famílias cristãs em Maaloula, quase 80 partiram, segundo fontes locais.

Detalhes do incidente de 26 de dezembro

Um morador cristão de Maaloula deu mais detalhes à ACI MENA sobre o incidente de 26 de dezembro.

“Antes do Natal, membros do Hay'at Tahrir al-Sham insistiram que os cristãos decorassem suas casas para evitar qualquer tensão. No entanto, as coisas não ocorreram suavemente”, disse o morador.

“Nas primeiras horas de 26 de dezembro, câmeras de vigilância na fazenda de Ghassan Zakhm registraram indivíduos mascarados quebrando a fechadura do portão da fazenda. Ghassan e seu filho Sarkis foram imediatamente ao local, pedindo que os membros do comitê de segurança os acompanhassem, embora eles não tenham aparecido apesar de suas promessas”.

A fonte disse que, com a chegada dos donos da fazenda, um tiroteio começou entre as duas partes, resultando na morte do intruso, Abdul Salam. Ghassan então se entregou a um padre, Fadi al-Barkil, que o entregou às autoridades em Damasco, capital da Síria, para evitar mais distúrbios.