10 de jan de 2025 às 09:47
O Parlamento do Líbano elegeu ontem (9), com uma maioria cristã dividida, o general Joseph Aoun presidente do país. Aoun é comandante das Forças Armadas do Líbano e cristão maronita. O cargo de presidente do país estava vago há mais de dois anos.
Numa sessão parlamentar indecisa até o último minuto, o Parlamento do Líbano, que se reúne na praça Nejmeh, em Beirute, elegeu Aoun na segunda rodada de votação com 99 dos 128 votos. Ele é o 14º presidente da República do Líbano.
A sessão parlamentar começou com objeções levantadas de que a potencial eleição de Aoun violaria a Constituição devido ao seu status como um funcionário público de Categoria Um. Exceções a esse status requereria a aprovação de um presidente.
O primeiro turno de votação não obteve a maioria de dois terços dos votos necessária, o que levou a um recesso de duas horas para permitir mais deliberações antes de um segundo turno ser feito. Esse turno resultou na eleição do novo presidente. Figuras árabes e internacionais importantes como o núncio apostólico no Líbano, dom Paolo Borgia, testemunharam o evento.
Aoun conseguiu o apoio do maior bloco cristão no parlamento, o “Bloco da República Forte”, filiado ao Partido das Forças Libanesas, e seus aliados cristãos na oposição, incluindo o Partido Kataeb e independentes.
O novo presidente não conquistou os votos do segundo maior bloco cristão, o “Bloco Líbano Forte”, filiado ao Movimento Patriótico Livre, aliado do grupo terrorista islamico Hezbollah.
Pela Constituição do Líbano, o presidente do país tem que ser um cristão e o primeiro-ministro um muçulmano.
Discurso inaugural e juramento
Minutos depois de sua vitória, o novo presidente chegou ao Parlamento para fazer seu discurso de posse e prestar juramento constitucional.
“O Líbano, uma nação milenar, sofreu com guerras, bombardeios, ganância e má gestão”, disse Aoun em seu discurso.
Ele falou sobre a necessidade de reformar a conduta política do Líbano, ao dizer: “Estamos numa crise de governança que exige uma mudança em nosso comportamento político”.
“Meu compromisso com o povo libanês hoje é inaugurar um novo capítulo na história do Líbano”, concluiu Aoun com uma promessa.
Um nome conhecido na política libanesa
Aoun não é estranho ao cenário político do Líbano, nem seu nome é desconhecido nacional ou internacionalmente.
Desde que esforços sérios começaram a ser feitos para acabar com a vacância presidencial, o comandante do exército surgiu como um dos principais candidatos para suceder outro ex-comandante do exército e figura proeminente, o general Michel Aoun. Apesar de terem o mesmo sobrenome, os dois presidentes não são parentes.
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O exército libanês e seu comandante têm amplo respeito e admiração, particularmente entre a comunidade cristã. Quase todos os lares do país têm pelo menos um membro da família servindo nas forças armadas, ressaltando a importância nacional da instituição.
Os apelos de Bkerke dão frutos
Enquanto as divisões cristãs dominavam o cenário presidencial, a Igreja Maronita, com sede em Bkerke, sé episcopal do patriarcado católico maronita de Antioquia da Igreja Maronita, tinha uma perspectiva diferente.
Desde o momento em que a vacância do cargo começou, o patriarca maronita, o cardeal Bechara Boutros Al-Rahi, consistentemente pediu a eleição de um novo presidente, instando o parlamento a se reunir e defender a Constituição do país. Al-Rahi rejeitou qualquer adulteração no posto cristão mais alto da nação. Embora ele tenha se abstido de apoiar explicitamente qualquer candidato específico, não houve oposição à candidatura de Aoun.
A principal preocupação era a necessidade de eleger um presidente que pudesse salvaguardar a soberania do Líbano e enfrentar os desafios nacionais e regionais com sabedoria, paz e soluções objetivas, como disse o patriarca em sua homilia da Epifania do Senhor no início desta semana.
Comemorações em sua cidade natal
Assim que a eleição de Aoun foi anunciada, celebrações começaram em Aishieh, sua cidade natal no distrito de Jezzine, no sul do Líbano. Uma grande tela foi instalada dentro da igreja de Nossa Senhora da cidade para que moradores acompanhassem a sessão eleitoral ao vivo. Ruas e praças públicas foram adornadas com fotos do novo presidente, acompanhadas de expressões de orgulho e felicitações.
A atmosfera alegre ocorre ao fim de meses de ansiedade para Aishieh, que fica perto da fronteira e é próxima a vilas xiitas afetadas pelo conflito entre Israel e o grupo terrorista islâmico Hezbollah. Muitos viram a ascensão de Aoun à presidência como um presente e uma forma de justiça para os cristãos do sul do Líbano, que suportaram décadas de guerra, deslocamento e destruição, marcadas por medo e dificuldades persistentes.
Quem é o novo presidente do Líbano?
Aoun tornou-se o 14º presidente na história do Líbano desde a independência do país em 1943. Nascido na cidade de Aishieh, no sul do Líbano, em 1964, ele se juntou ao exército como oficial cadete em 1983 e se formou na Academia Militar do Líbano. Depois de promoções, ele foi nomeado comandante do exército em 8 de março de 2017.
Pouco depois de assumir a liderança militar, Aoun enfrentou um dos desafios mais difíceis de sua carreira: liderar o exército em batalhas contra grupos terroristas nas regiões montanhosas do Vale do Beqaa, no Líbano, perto da fronteira com a Síria. Suas ações decisivas resultaram em uma das vitórias mais significativas de sua carreira militar.