A renúncia do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau torna Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador do Canadá, o provável sucessor dele depois da eleição geral prevista para outubro.

Segundo pesquisa da empresa pública de comunicação do Canadá, Canadian Broadcasting Corporation, em 6 de janeiro, os candidatos do Partido Conservador, de Poilievre, têm o apoio de 44% dos eleitores canadenses. Os liberais ficaram muito atrás, só com 20%, e o partido esquerdista Novo Partido Democrático, que apoia o governo minoritário de Trudeau desde 2022, teve um apoio ainda menor, com 19%.

Poilievre nasceu em Alberta, a província mais conservadora do Canadá. Casado desde 2017 com a venezuelana Anaida, ele mora em Ottawa, capital do país, onde o casal cria seus dois filhos pequenos.

Seguem abaixo estão alguns outros fatos relevantes sobre o possível futuro primeiro-ministro do Canadá, de 45 anos:

1. Ele foi adotado ainda bebê

Segundo a biografia Pierre Poilievre: A Political Life, do jornalista Andrew Lawton, publicada no ano passado, a mãe biológica de Poilievre, Jacqueline Farrell, na época com 16 anos, deu-o para adoção por meio de uma agência da Igreja quando ele nasceu em Calgary em 1979. Seus pais adotivos eram Marlene e Donald Poilievre, casal de professores de língua francesa que mais tarde também adotou o meio-irmão biológico do político, Patrick.

Seus pais adotivos se separaram quando Pierre tinha cerca de 12 anos, e Donald mais tarde revelou ser homossexual. Embora Pierre tenha vivido posteriormente com Marlene, ele manteve um relacionamento positivo com seu pai adotivo que continua até hoje.

2. Ele foi criado como católico

Os pais adotivos de Poilievre criaram-no como católico, e outra ligação católica significativa veio através do seu avô biológico nascido na Irlanda, Patrick Farrell, que permaneceu profundamente comprometido com sua fé católica até sua morte em 2017 e era próximo do seu neto quando Pierre era adulto.

Mas a prática religiosa atual de Poilievre não é clara. Segundo um artigo recente de Lawton que examinou as posições de Poilievre sobre questões morais, embora Poilievre “tenha sido criado como católico e faça referências ocasionais a Deus em seus discursos… nenhum de seus amigos e colegas que falaram comigo disse que a fé, de sua perspectiva, desempenhou um papel significativo em sua vida adulta”.

Poilievre, porém, publicou uma mensagem de Páscoa no ano passado nas redes sociais que parecia professar uma fé cristã ativa.

“Hoje os cristãos celebram a ressurreição de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Por meio de Seu sacrifício, Ele pagou o preço final por nossos pecados e derrotou o poder da própria morte para que pudéssemos nos alegrar em Sua promessa de vida eterna”, disse Poilievre na mensagem.

3. Ele ganhou um prêmio por um ensaio universitário sobre o que faria se se fosse primeiro-ministro

Até o ensino médio, Poilievre não era um leitor ávido e preferia esportes e atividades ao ar livre. Depois que uma lesão nas costas encerrou sua carreira na luta livre, ele entrou na política, consumindo vorazmente escritos de pensadores conservadores como Milton Friedman.

Influenciado por sua mãe adotiva, que era politicamente atuante como apoiadora de causas conservadoras, Poilievre foi voluntário ainda no ensino médio para arrecadar fundos para a campanha eleitoral de Jason Kenney, católico que se tornaria ministro do governo do primeiro-ministro conservador Stephen Harper e mais tarde seria como primeiro-ministro da província de Alberta. Kenney ficou “impressionado” com a incrível perspicácia política de seu jovem voluntário autodidata.

“Nunca esquecerei isso. Ocorreu-me com a força de uma revelação que esse cara era um sábio absoluto, um gênio”, disse Kenney, segundo a biografia escrita por Lawton.

Essa precocidade política também ficou evidente no ensaio Construindo o Canadá através da Liberdade , que Poilievre apresentou aos 20 anos, quando era estudante de graduação na Universidade de Calgary, para um concurso intitulado “Como primeiro-ministro, eu faria...”. O ensaio, de 2,5 mil palavras, foi elaborado em uma única sessão de redação que durou uma noite inteira e lhe rendeu um prêmio de C$ 10 mil (cerca de R$ 42,3 mil) , articulou uma visão que se alinha com as prioridades que ele enfatizou desde que se tornou líder dos conservadores em 2022.

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“O que escrevi foi que precisamos de capacitar as pessoas, colocando mais dinheiro nas suas mãos. Basicamente, precisamos colocar o governo em uma dieta financeira. Os políticos devem tornar-se funcionários do povo, e não o contrário”, disse Poilievre ao jornal estudantil da Universidade de Calgary.

4. Ele foi eleito pela primeira vez quando tinha 25 anos

Poilievre deixou a universidade antes de se formar e mudou-se para Ottawa, capital do Canadá, para dedicar-se integralmente à política. Ele foi candidato conservador na área de Ottawa e teve uma vitória inesperada nas eleições federais de 2004.

Sua inteligência, sua agressividade e seu domínio de questões complexas logo renderam ao jovem parlamentar a reputação de excelente orador. Depois dos conservadores de Stephen Harper assumirem o controle do governo nas eleições de 2006, sua estrela política continuou a crescer e em 2013 ele foi nomeado ministro do gabinete.

Quando Harper foi derrotado por Trudeau em 2015, Poilievre manteve o seu assento no Parlamento do Canadá e assumiu um papel de liderança como crítico da oposição em questões financeiras sob a liderança de Andrew Scheer e Sean O'Toole, dupla conservadora que serviu sucessivamente como líderes de seu partido em tentativas fracassadas de destituir Trudeau nas eleições federais canadenses de 2019 e 2021. Quando O'Toole renunciou depois da segunda derrota, Poilievre entrou na corrida para a liderança do partido e venceu por uma margem esmagadora em setembro de 2022.

5. Seu foco principal está nas questões econômicas

Poilievre é por vezes comparado ao presidente eleito dos EUA, Donald Trump, devido aos paralelos entre as abordagens políticas dos dois homens, inclusive em questões econômicas.

Tal como Trump, Poilievre é um defensor ferrenho dos negócios e um oponente ferrenho das políticas econômicas de impostos elevados e de desperdício instituídas no governo Trudeau, que Poilievre culpa por destruir empregos canadenses e estabelecer preços fora do alcance da média de orçamentos familiares. O slogan característico do líder conservador é "Axe the Tax" (Corte o imposto), em referência à sua promessa de revogar permanentemente o imposto sobre o carbono do governo Trudeau sobre as vendas de gasolina e outros combustíveis hidrocarbonetos, aparentemente para combater mudanças climáticas globais.

Poilievre também priorizou a redução da regulamentação governamental do setor habitacional do Canadá, para incentivar a construção de novas casas que as famílias trabalhadoras e os jovens possam pagar.

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Tal como no caso de Trump, as prioridades políticas de Poilievre nem sempre se enquadram perfeitamente nas categorias tradicionais do conservadorismo americano. Ambos se apresentam, em vez disso, como defensores da classe média, da classe trabalhadora e dos setores mais jovens marginalizados, cujos interesses econômicos e culturais foram ignorados pelas elites políticas dos seus países.

“Na verdade, nunca falo sobre esquerda ou direita. Eu realmente não acredito nisso”, respondeu Poilievre com desdém a um jornalista em outubro de 2023.

6. Apoia o aborto e promete não introduzir restrições

Embora no início da sua carreira Poilievre tenha sido considerado pelos pró-vida como um apoiador geral da sua causa, isso mudou.

Em sua campanha pela liderança do Partido Conservador do Canadá em 2022, Poilievre disse que um governo federal liderado por ele não introduziria legislação para restringir o aborto, que é legalizado no Canadá sem quaisquer restrições desde que a Suprema Corte do país, em 1988, derrubou a lei do aborto então em vigor.

Em dezembro de 2023, a mulher de Poilievre, Anaida, disse a um meio de comunicação de língua francesa que ela e o marido são a favor da legalização do aborto.

“Já conversamos sobre isso. Sou uma mulher [da província] de Quebec. Eu cresci aqui. E faz parte dos meus valores”, disse ela.

Segundo o jornal canadense National Post, numa carta que seu gabinete enviou em setembro do ano passado a um apoiador pró-vida que pressionou o líder do Partido Conservador do Canadá sobre sua posição sobre o aborto, Poilievre disse que seu governo “não introduzirá nem aprovará uma lei que proíba o aborto”. Mas, disse, planeja trabalhar para aprovar uma legislação que promova a adoção e dê ajuda a mulheres em gestações de crise, ao dizer que essa abordagem “seria mais benéfica” do que tentar legislar diretamente contra o aborto.

7. Ele é a favor de equiparar uniões homossexuais ao casamento

Talvez não seja surpreendente, dado que o seu pai adotivo está em uma união homossexual, Poilievre também se distanciou dos conservadores sociais no que diz respeito ao seu apoio ao “casamento civil” entre pessoas do mesmo sexo.

“O casamento entre pessoas do mesmo sexo é legal e permanecerá legal quando eu for primeiro-ministro, ponto final”, disse o político em junho do ano passado.

Isso representa uma ruptura com a sua posição pública anterior sobre a questão. Como deputado novato em 2005, ele se opôs ao projeto de lei do governo do Partido Liberal do Canadá para equiparar uniões homossexuais ao casamento no Canadá.

“Senhor Presidente, é uma honra levantar-me hoje em apoio à definição tradicional de casamento”, disse Poilievre em debate parlamentar sobre esse projeto de lei.

8. Ele opõe-se a uma maior expansão da lei canadense de “Assistência Médica na Morte” e apoia os direitos dos pais

Em outras áreas, Poilievre defendeu posições socialmente mais conservadoras.

No ano passado, ele condenou veementemente uma iniciativa liderada pelos liberais para expandir a lei canadense de suicídio assistido por médico para incluir pessoas que sofrem de doenças mentais não terminais. Confrontado com a reação pública contra a ideia, o governo Trudeau suspendeu esse plano porque, segundo o ministro da Saúde do país, Mark Holland, o sistema de saúde canadense “não está pronto” para fazer a expansão.

“Depois de oito anos de Justin Trudeau, tudo parece quebrado e as pessoas se sentem quebradas. É por isso que muitos sofrem de depressão e perdem a esperança. Nosso trabalho é transformar sua dor em esperança, tratar problemas de saúde mental em vez de acabar com a vida das pessoas”, disse Poilievre em fevereiro.

Poilievre também se pronunciou a favor dos direitos dos pais, sobre os esforços de algumas províncias canadenses para exigir o consentimento dos pais antes que os filhos menores de idade possam “mudar de sexo” nas suas escolas.

“Minha opinião é que os pais devem ser a autoridade final nos valores e lições que as crianças aprendem. Acredito nos direitos dos pais, e os direitos dos pais vêm antes dos direitos do governo”, disse Poilievre em 2023, em contraste com Trudeau, que criticou duramente as ações provinciais.

9. Ele é a favor do “Canadá Primeiro”, e não dos recentes apelos de Donald Trump para que o Canadá se torne o 51º Estado dos EUA.

Espera-se que se Poilievre for eleito primeiro-ministro, Trump tenha uma melhor relação com ele do que com Trudeau. Parece uma aposta segura, dado o desdém aberto que Trump expressou nas redes sociais em relação a Trudeau e à sua filosofia de governo.

Mas isso não significa que Poilievre apoie a recente retórica de Trump de que o Canadá deveria considerar tornar-se o 51º Estado dos EUA.

“O Canadá nunca será o 51º Estado. Somos um país grande e independente”, escreveu Poilievre em publicação na rede social X em de 7 de janeiro.

Poilievre disse que um Canadá independente é “o melhor amigo da América”, ao falar sobre o papel do Canadá em ajudar os americanos a retaliar contra o grupo terrorista Al Qaeda depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 contra os EUA e em dar ao país vizinho “bilhões de dólares de energia de alta qualidade e totalmente confiável, por preços muito abaixo do mercado” e comprar “centenas de bilhões de dólares de produtos americanos”.

“O nosso fraco e patético governo do NDP e do Partido Liberal não conseguiu esclarecer estes pontos óbvios”, disse também Poilievre.

“Vou lutar pelo Canadá. Quando eu for primeiro-ministro, reconstruiremos as nossas forças armadas e recuperaremos o controle da fronteira para proteger tanto o Canadá como os EUA. Retomaremos o controle do nosso Ártico para manter a Rússia e a China fora. Reduziremos os impostos, cortaremos a burocracia e rapidamente daremos luz verde a enormes projetos de recursos para trazer salários e produção para o nosso país”.

“Em outras palavras, colocaremos o Canadá em primeiro lugar”, concluiu Poilievre.