14 de mar de 2025 às 19:31
Jay Bhattacharya, indicado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, para ser diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), disse em sua audiência de confirmação da semana passada que estava “absolutamente comprometido” em encontrar alternativas às vacinas desenvolvidas usando linhas de células de bebês abortados.
Respondendo se proibiria o uso de tecido fetal abortado em pesquisas financiadas pelo NIH, Bhattacharya, professor da faculdade de medicina da Universidade Stanford e economista de saúde, disse que buscaria alternativas éticas ao uso de pesquisas médicas baseadas em linhas celulares retiradas de tecido fetal colhido de bebês abortados décadas atrás, o que lhe rendeu elogios de bioeticistas católicos.
O indicado de Trump para dirigir o NIH disse que a questão surgiu no desenvolvimento das vacinas contra a covid-19, desenvolvidas com linhas celulares derivadas de aborto.
“Na saúde pública, precisamos garantir que os produtos da ciência sejam eticamente aceitáveis para todos. E, portanto, ter alternativas que não sejam eticamente conflitantes com as linhas de células fetais não é só uma questão ética, mas uma questão de saúde pública. Precisamos garantir que todos estejam dispostos a aceitar os tipos de progresso que fazemos, e, portanto, estou absolutamente comprometido com isso”, disse Bhattacharya.
O primeiro governo Trump: um histórico ambíguo
Em 2019, o governo Trump-Pence proibiu efetivamente pesquisas financiadas pelo governo federal dos EUA feitas em tecido fetal abortado — medida que o governo Biden rapidamente desfez.
O primeiro governo Trump também estabeleceu um Conselho Consultivo de Ética em Pesquisa em Tecido Fetal do NIH, que foi elogiado pela USCCB em 2020, depois do conselho fazer uma recomendação contra o financiamento federal de 13 propostas de pesquisa usando tecido fetal.
O padre Tad Pacholczyk, neurocientista e especialista em ética sênior do Centro Nacional de Bioética Católica, disse ter esperança de que o atual governo Trump retome e fortaleça seus esforços anteriores para eliminar o uso de tecido fetal abortado.
Pacholczyk, que atuou no Conselho Consultivo de Ética em Pesquisa de Tecidos Fetais do NIH no primeiro governo Trump em 2020, disse que os membros do conselho deram “recomendações quase unânimes para recusar financiamento para propostas de pesquisa que dependessem de linhas celulares e tecidos derivados de abortos”.
“A maioria das propostas de subsídios que buscavam usar tecidos fetais de abortos não foram aprovadas pelo comitê”, disse Pacholczyk, em grande parte devido a preocupações éticas, procedimentos de consentimento informado e disponibilidade de alternativas éticas.
“Até onde sei, nenhum governo anterior tomou medidas tão intencionais para restringir o uso de células fetais derivadas de abortos diretos em pesquisas. Esses esforços importantes para eliminar seu uso em pesquisas precisam continuar, e espero que o governo que está retornando fortaleça esses esforços”, disse Pacholczyk.
Pacholczyk também disse estar preocupado sobre a forma como o governo Trump lidou com a COVID-19, dizendo que o dinheiro dos contribuintes foi destinado ao desenvolvimento de vacinas contra a COVID-19 "que dependiam de células derivadas de aborto para sua produção ou teste, sem empregar seu próprio conselho consultivo de ética".
O uso de linhas de células fetais foi controverso, com a USCCB dizendo que poderia ser moralmente aceitável usar uma vacina com conexão com tecido fetal abortado se não houvesse alternativas.
“Claramente, o dinheiro dos impostos dos cidadãos americanos não deve ser usado para incentivar pesquisas biomédicas antiéticas, porque isso pode resultar numa forma de coerção do contribuinte, pela qual ele involuntariamente se torna cooperador do mal”, disse Pacholczyk.
O bioeticista David Prentice — especialista em pesquisa com células-tronco e ex-vice-presidente e diretor de pesquisa do centro de pesquisa pró-vida Instituto Charlotte Lozier — recebeu com satisfação os comentários de Bhattacharya.
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“Estou animado com a promessa do dr. Bhattacharya de interromper o uso de tecido fetal e células fetais derivadas de aborto. O efeito de uma proibição da pesquisa de tecido fetal seria realmente positivo, afastando os cientistas de pesquisas improdutivas e antiquadas em direção a práticas que já demonstraram eficácia em levar tratamentos aos pacientes”, disse Prentice à CNA, agência em inglês da EWTN News.
O bioeticista disse que a reversão feita pelo governo Biden “atrasou a ciência ética e produtiva”.
“O governo Biden aboliu a revisão ética da ciência e abriu a porta para mais financiamento de pesquisas antiéticas. A reversão de Biden dos esforços do primeiro governo Trump para se afastar da pesquisa antiética de tecido fetal na verdade atrasou a ciência ética e produtiva”, disse Prentice.
O bioeticista disse que essa decisão tem um efeito cascata na saúde pública.
“Como disse o dr. Bhattacharya, isso tem implicações significativas para a saúde pública, porque o público está preocupado com a produção ética de medicamentos e tratamentos”, disse Prentice.
Alternativas de pesquisa
Bioeticistas disseram que o uso de bebês abortados não é só antiético — muitas vezes é desnecessário.
Dan Kuebler, biólogo, palestrante católico e reitor da Escola de Ciências Naturais e Aplicadas da Universidade Franciscana em Steubenville, Ohio, EUA, disse que existem alternativas éticas viáveis.
Tecido fetal abortado é tipicamente obtido de abortos eletivos porque é mais fresco, disse Kuebler.
Células fetais são menos imunogênicas, o que significa que são mais fáceis de transplantar, mas Kuebler disse que outras células-tronco não imunogênicas estão disponíveis.
Prentice disse que tanto o tecido fetal quanto as linhas de células fetais “são derivados de aborto eletivo, são obtidos pela destruição deliberada de uma vida humana jovem e existem devido a esse ato antiético”.
“Essas crianças não morreram devido a causas naturais, mas suas vidas foram intencionalmente encerradas com o objetivo deliberado da intervenção sendo a morte delas”, disse também Prentice.
Mas existem alternativas éticas, como células-tronco pluripotentes, tecnologia CRISPR e células-tronco adultas.
“Mudar para fontes éticas não vai desacelerar o avanço científico do modo que as pessoas costumam dizer. Isso vai nos fazer mudar a forma como fazemos isso e os tipos de células que usamos, mas não vai inibir a capacidade de desenvolver células para transplante, células para desenvolvimento de vacinas e assim por diante”, disse Kuebler.
“Com nossa capacidade de usar e manipular células-tronco adultas e células-tronco pluripotentes induzidas por humanos, a necessidade de tecido fetal para pesquisa está se tornando obsoleta. Nossa capacidade de desenvolver organoides a partir de tecido adulto também está tornando isso obsoleto”, disse o biólogo.