18 de mar de 2025 às 11:47
Um turista de 54 anos morreu no domingo (16) depois de passar mal nas escadarias que levam ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro (RJ). O caso levou à interdição dos transportes ao monumento por parte do Procon-RJ, com a liberação apenas na manhã de hoje (18), depois de uma vistoria.
O turista gaúcho Jorge Alex Duarte passou mal nas escadarias do Corcovado, que dão acesso ao Cristo Redentor, por volta das 7h39 de domingo, quando o posto de saúde do local ainda estava fechado. A nora da vítima, a enfermeira Melissa Schiwe, fez os primeiros socorros e logo depois chegaram outras pessoas para ajudá-la, inclusive o vigário do santuário do Cristo Redentor, padre João Damasceno. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) foi acionado e chegou às 8h13. Mas, Jorge não resistiu e morreu no local. Segundo declaração de óbito, ele sofreu “morte súbita de origem cardíaca” com “hipertensão essencial e uso de tabaco”.
O corpo de Jorge foi levado para a capela Laudato Si, do santuário do Cristo Redentor, e velado pelos familiares que o acompanhavam, com a presença do padre João Damasceno.
“O Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor sente muito pela morte do visitante e está auxiliando a família desde o momento que soube sobre o ocorrido, prestando auxílio nos serviços funerários e se colocando à disposição da família”, disse o santuário em nota.
O corpo de Jorge Alex Duarte já foi levado para São Leopoldo (RS). O vigário do santuário Cristo Redentor, padre João Damasceno, também viajou para a cidade gaúcha, onde fez o velório de Jorge, hoje, às 10h30, no Crematório e Cemitério Cristo Rei.
Também hoje, às 12h, será celebrada uma missa pela alma de Jorge Alex Duarte no santuário Cristo Redentor, pelo reitor do santuário, padre Omar Raposo.
Responsabilidades
Depois do ocorrido, o Procon-RJ fez uma vistoria na manhã de ontem (17) e interditou o Trem do Corcovado e as vans das Paineiras, que levam os turistas até o Cristo, por falta de assistência médica no horário de funcionamento do monumento. Os acessos só foram liberados na manhã de hoje, depois de nova vistoria.
O santuário do Cristo Redentor pertence à arquidiocese do Rio de Janeiro. Ele está no Parque Nacional da Tijuca, que é administrado pelo Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente.
O ICMBio disse que a concessionária Trem do Corcovado é a responsável pela “manutenção e pleno funcionamento do Poto de Primeiros Socorros no Alto do Corcovado”, conforme “previsto no contrato fiscalizado” pelo instituto.
Segundo o Trem do Corcovado, os socorristas começam a trabalhar às 8h, horário de chegada do primeiro trem ao alto do Corcovado. Mas, como o turista subiu de van, ele chegou antes. A concessionária disse que, no caso de domingo, os socorristas teriam chegado ao local onde Jorge passou mal às 7h50, mas “não houve possibilidade alguma de salvamento apesar dos socorristas chegarem com o desfibrilador no mesmo instante e, em seguida, o SAMU”.
Em nota, o santuário Cristo Redentor disse que o ICMBio “é a autoridade pública responsável por garantir a correta execução do contrato de concessão firmado com as concessionárias Trem do Corcovado e Paineiras Corcovado”.
“Isso significa que, ainda que a operação do posto médico tenha sido delegada à concessionária Trem do Corcovado, o dever de fiscalização e de garantir que o serviço esteja em funcionamento é exclusivamente do ICMBio”, disse o santuário, acrescentando que, se o órgão “tivesse exercido sua função de forma diligente e identificado a falha na prestação de serviço, deveria ter aplicado as sanções cabíveis conforme previsto no contrato”.
Para o santuário, “a tentativa do ICMBio de transferir toda a responsabilidade à concessionária é uma manobra inaceitável, que escancara a negligência do órgão e sua incapacidade de garantir a segurança e o bem-estar dos visitantes”.
O santuário diz ainda que “o Alto Corcovado não possui ambulância, acessibilidade universal, pontos de hidratação, brigadistas, banheiros adequados com acessibilidade, escadas rolantes e elevadores em pleno funcionamento, nem internet e sinal de telefonia de acesso público que permita que os visitantes possam fazer ligações”.
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O santuário também informou que a arquidiocese do Rio de Janeiro “vai disponibilizar uma ambulância, com equipamentos de atendimento médico e primeiros socorros, para suporte a todas as atividades religiosas no Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor”.
Reunião entre órgãos responsáveis
Ontem, a Secretaria de Estado de Defesa do Consumidor e o Procon-RJ convocaram uma reunião com os órgãos responsáveis pela operação e administração das visitas ao Cristo Redentor. No encontro, ficou decidido que os postos de saúde do movimento vão funcionar durante todo o expediente de visitação e uma ambulância estará disponível no local enquanto houver turistas. Também foi definida a criação de uma comissão para fiscalizar a acessibilidade no local.
Em nota publicada depois da reunião, o Parque Nacional da Tijuca/ICMBio disse que, “para aumentar a segurança dos visitantes do parque, irá custear uma ambulância que ficará de plantão durante todo o horário de visitação, localizada no Alto Corcovado”. O equipamento contará “com recursos do Instituto, via encargos acessórios, após a concessionária Trem do Corcovado enviar um ofício fazendo esta solicitação”.
O instituto também disse que “estão em andamento” as tratativas junto ao Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) “para a rápida aprovação dos projetos de acessibilidade em todo o Alto Corcovado” e “as obras devem iniciar o quanto antes”.
Impasses entre ICMBio e arquidiocese do Rio de Janeiro
O caso da morte do turista e da interdição do acesso ao Cristo Redentor trouxe à tona novamente os impasses entre o ICMBio e a arquidiocese do Rio de Janeiro a respeito da administração do local.
Em nota, o santuário Cristo Redentor disse que “a arquidiocese do Rio de Janeiro busca a todo momento colaborar com o desenvolvimento do Alto Corcovado, mas esbarra nos entraves burocráticos impostos pelo ICMBio”. Segundo o santuário, “diversos projetos estão sem o devido andamento sem nenhuma justificativa legal para tal”, entre os quais estaria o projeto de “colocar uma ambulância de prontidão no Alto Corcovado”.
O santuário disse ainda que “existem dois Projetos de Lei tramitando no Congresso que objetivam devolver o Complexo do Alto Corcovado à arquidiocese do Rio de Janeiro, responsável por sua construção há quase um século”.
Em setembro de 2021, o impasse entre as duas instituições ganhou destaque quando o reitor do santuário, padre Omar Raposo, foi barrado no acesso ao alto do Corcovado por seguranças do Parque Nacional da Tijuca. Ele estava acompanhado por algumas pessoas e ia celebrar um batizado na capela Nossa Senhora Aparecida, que fica embaixo do monumento do Cristo Redentor. Na época, o santuário disse que episódios como este vinham acontecendo “de maneira recorrente”.
Em dezembro de 2021, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, editou um decreto que reconheceu à Mitra Arquiepiscopal do Rio de Janeiro a legitimação fundiária da área do monumento do Cristo Redentor e seu conjunto arquitetônico.
Em abril de 2022, arquidiocese do Rio de Janeiro e o governo federal firmaram um protocolo de intenções e um acordo de convivência, a fim de definir normas para o ordenamento público do acesso ao Corcovado, ao Santuário do Cristo Redentor e para a gestão do Parque Nacional da Tijuca.
Entre outras medidas, ficou estabelecido o livre acesso da arquidiocese ao monumento, independentemente do horário e foi garantida à Igreja parte da arrecadação das receitas com os ingressos, no caso das entradas inteiras, que são pagos por brasileiros e turistas estrangeiros. Os recursos devem ser destinados a projetos sociais da Igreja e à manutenção do monumento.
Na época da assinatura dos acordos, o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Ornai João Tempesta, recordou em suas redes sociais que, “em 1922, o então presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, concedeu o topo do morro do Corcovado, local onde a estátua está situada, à Igreja Católica, com a missão pastoral que desempenhamos até os dias de hoje”.
As obras de construção do Cristo Redentor começaram em 4 de abril de 1922. O monumento foi inaugurado em 12 de outubro de 1931. Já a unidade de conservação surgiu mais tarde, porque o Parque Nacional da Tijuca foi criado apenas 30 anos depois, pelo decreto nº 50.923 do então presidente Jânio Quadros.