O papa Francisco criticou hoje (19) a rigidez e as consequências negativas de não aceitar mudanças, internado no Hospital Policlínico Agostino Gemelli, em Roma, onde está há 34 dias.

"Se não aceitarmos mudar, se nos fecharmos em nossa rigidez, nos hábitos ou nas nossas formas de pensar, corremos o risco de morrer", disse o papa na catequese que havia preparado para a audiência geral de hoje.

"A vida está na capacidade de mudar para encontrar uma nova maneira de amar", disse Francisco.

No texto divulgado pela Santa Sé para a quinta audiência geral cancelada por causa de sua internação, o papa Francisco falou sobre o diálogo entre Jesus e Nicodemos, narrado no capítulo terceiro do Evangelho de são João.

O papa disse que Nicodemos, fariseu e membro do Sinédrio, vai a Jesus à noite, detalhe simbólico que sugere a escuridão interior que ele mesmo experimentou.

"Nicodemos é um homem que se encontra na escuridão das dúvidas, naquela escuridão que experimentamos quando não entendemos mais o que está acontecendo em nossas vidas e não vemos claramente o caminho a seguir", disse Francisco.

No entanto, apesar de sua confusão, Nicodemos busca Jesus porque sente que Ele pode lhe dar a luz de que precisa. O papa, então, cita a frase do Evangelho: “A luz verdadeira veio a este mundo, que ilumina todo o homem” (cf. Jo 1, 9).

Em seu diálogo com Jesus, Nicodemos não entende imediatamente suas palavras, porque continua a pensar com sua "própria lógica e categorias humanas", disse o papa Francisco.

O papa descreveu Nicodemos como um homem com uma identidade bem definida e um importante papel público, que "sente a necessidade de mudar, mas não sabe por onde começar".

Assim, Francisco disse como, em seu diálogo com Nicodemos, Jesus fala sobre “um novo nascimento, que não só é possível, mas até necessário em alguns momentos do nosso caminho”.

O papa Francisco disse que a expressão usada no Evangelho tem um duplo significado, pois pode ser traduzida como nascer novamente "do alto" ou "de novo".

Um jogo de palavras que, segundo o papa, revela que "se permitirmos que o Espírito Santo gere em nós uma vida nova, nasceremos de novo".

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"Vamos recuperar aquela vida que talvez estivesse se extinguindo em nós", disse também Francisco.

O papa Francisco partiu dessa passagem do Evangelho de são João para dizer que as mudanças às vezes são "assustadoras".

"As mudanças às vezes nos assustam. Por um lado, elas nos atraem, às vezes as desejamos, mas, por outro lado, preferimos permanecer nas nossas comodidades. É por isso que o Espírito nos incentiva a enfrentar esses medos", disse o papa, dizendo que Jesus diz a Nicodemos, um mestre em Israel, que os israelitas também estavam com medo enquanto caminhavam pelo deserto.

Francisco destacou que Nicodemos, ao longo do Evangelho de João, passa por um processo de transformação que se conclui no momento da Paixão, quando "ele se mostra abertamente como Seu discípulo, trazendo perfumes para o sepultamento do Senhor".

Olhando diretamente o medo para ser libertado

Assim, o papa Francisco justificou o exemplo de mudança que Nicodemos experimentou e convidou os fiéis a olhar para o Crucificado nos momentos de incerteza e medo.

"Só olhando diretamente para o que nos causa medo é que podemos começar a nos libertar. Nicodemos, como todos nós, poderá olhar para o Crucificado, Aquele que derrotou a morte, a raiz de todos os nossos medos", disse o papa.

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"Levantemos também nós o olhar para Aquele a quem traspassaram, deixemos também nós sermos encontrados por Jesus", exortou Francisco.

O papa Francisco, que iniciou com essa catequese um ciclo de reflexões sobre os encontros de Jesus narrados nos Evangelhos, quis destacar o valor dos encontros na vida cotidiana.

"Há encontros que iluminam a vida e trazem esperança", disse o papa.

"Pode ocorrer que alguém simplesmente nos dê uma palavra que não nos faça sentir sozinhos na dor pela qual estamos passando. Às vezes, também pode haver encontros silenciosos, em que nada é dito, mas também esses momentos nos ajudam a retomar o caminho", disse Francisco.