28 de mar de 2025 às 12:31
“Eu penso que o Carlo escolheu o Brasil”, disse à ACI Digital o padre Marlon Múcio, de Taubaté (SP), ao citar vários fatores que ligam o futuro santo ao Brasil. O milagre da beatificação de Carlo Acutis, por exemplo, aconteceu em Campo Grande (MS). E no dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Para o sacerdote, “o Carlo é muito brasileiro”, embora nunca tenha visitado o país.
Carlo Acutis será canonizado em 27 de abril, no Jubileu dos Adolescentes, no Vaticano, depois do reconhecimento de um segundo milagre por sua intercessão: a cura de Valeria Valverde, de 21 anos, da Costa Rica, que estava perto da morte depois de ferir gravemente a cabeça em um acidente de bicicleta em 2022.
Ele foi beatificado em 10 de outubro de 2020, depois do reconhecimento da cura milagrosa do brasileiro Matheus Vianna, de Campo Grande, que sofria de uma malformação congênita conhecida como pâncreas anular.
Para o padre Marlon Múcio, a história do milagre da beatificação é um dos elementos que ligam Carlo ao Brasil.
“Primeiro, o milagre para a beatificação dele aconteceu numa festa de Nossa Senhora Aparecida, numa comunidade dedicada à Nossa Senhora Aparecida, onde o padre, conhecendo o Carlo, expôs a relíquia e pediu para os fiéis pedirem graças, milagres”, disse o padre Marlon. “Depois, o dia litúrgico do Carlo passa a ser o dia de Nossa Senhora Aparecida”, 12 de outubro, dia em que Carlo Acutis morreu, em 2006.
O milagre da beatificação aconteceu em 2013, na capela de Nossa Senhora Aparecida, pertencente à paróquia de São Sebastião. Matheus Vianna, então com três anos, foi levado pelo avô e recebeu uma bênção do pároco, padre Marcelo Tenório, com a relíquia de Carlo. Depois disso, ficou curado.
O padre Fábio Vieira, de Corumbá (MS), que viveu com a família de Carlo durante um ano e é um dos maiores propagadores da devoção ao futuro santo no Brasil, contou à ACI Digital que ele e padre Marcelo estiveram na Itália em 2012 e conheceram a família Acutis. “Ele trouxe uma relíquia e eu trouxe outra. Todo 12 de outubro, eu fazia em Corumbá uma missa votiva ao Carlo para dar a bênção às crianças e ele em Campo Grande”, disse, destacando que foi em um desses momentos que aconteceu o milagre.
Para o padre Marlon Múcio, “o Carlo escolheu, de fato, o Brasil e os céus confirmaram. Essas coincidências de Deus nas ocasiões de Nossa Senhora Aparecida mostram a ligação que nós temos no céu e na terra”.
Nossa Senhora Aparecida talvez fosse uma das poucas coisas que Carlo conhecia do Brasil. Segundo o padre Fábio Vieira, o futuro santo não visitou o país, somente o pai dele, Andrea Acutis, que foi a Manaus (AM) a trabalho. “O que Carlo fez em relação ao Brasil foi uma pesquisa sobre Nossa Senhora Aparecida”, em uma pesquisa sobre as aparições de Nossa Senhora no mundo, que culminou em uma exposição sobre o tema.
“De um modo geral, ele conhecia o futebol, como todo jovem, e Nossa Senhora Aparecida”, disse padre Fábio. “Se ele tinha alguma coisa mais afetiva, ficou no coração dele, ele nunca veio ao Brasil. E tudo foi acontecendo aqui depois”.
O padre Marlon Múcio destacou que há outra ligação entre Carlo Acutis e o Brasil no local onde está o túmulo do futuro santo, o santuário do Despojamento, em Assis, Itália.
As Irmãs Missionárias Capuchinhas, congregação fundada pelo venerável frei João Pedro de Sexto São João, em 1904, em Belém (PA), têm uma missão em Assis, a fraternità Chiara d’Assisi, que fica no santuário do Despojamento. Atualmente, estão nessa missão as religiosas brasileiras Francisca Erineuda Bento e Vanda Monteiro, além da moçambicana Clara Lourenço. Elas cuidam do santuário e acolhem diariamente peregrinos de todo o mundo que querem visitar o túmulo de Carlo Acutis.
No Brasil, está a primeira paróquia universitária do mundo dedicada ao beato Carlo Acutis, que pertence à diocese de Santo Amaro (SP) e fica dentro do Centro Universitário Católico Ítalo Brasileiro. A paróquia foi erigida em 25 de janeiro de 2023 e tem uma relíquia de primeiro grau de Carlo, doada pela mãe dele, Antônia Salzano.
Uma devoção do Brasil para o mundo
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Para o padre Fábio Vieira, a devoção a Carlo Acutis “foi do Brasil para o mundo”. “O Brasil abraçou”, disse à ACI Digital. “Agora, se a gente for querer fazer um caminho racional para entender por que, nós não vamos chegar. Se a gente for pelo caminho da graça, nós vamos ter, mais ou menos, um encontro com os sinais”, disse.
“A devoção ao Carlo começou no Brasil de uma forma muito anônima, muito pequena, aqui no Mato Grosso do Sul. E de repente, foi um boom”, disse o padre.
“Nem lá em Assis se sabia que aquele jovem candidato a santo estava sepultado lá. Nem a Itália sabia. Falo isso porque tantas vezes passei nas ruas de Assis com dona Antonia [Salzano, mãe de Carlo] e ninguém sabia nem quem era. Dona Antonia andava na rua tranquilamente. Depois da beatificação, tudo mudou, ela não pode sair na rua”, acrescentou.
Segundo o sacerdote, depois da beatificação, em 2020, a devoção começou a se espalhar. “E coincidiu que eu estava lá [na casa da família Acutis, na Itália] e comecei a criar o apostolado no Brasil”.
“Quando eu estava lá recebia muitos e-mails, cartas do Brasil pedindo relíquias. Dos outros países quase não chegava. Do Brasil, as caixas de e-mail da associação estouravam”, contou.
Para o sacerdote, todas essas ligações entre o Brasil e Carlo Acutis são “o Brasil protagonizando uma grande ação do Espírito Santo para o mundo através de um jovem”.
O padre Fábio destacou que o Brasil é um país “de grande maioria jovem” e o Carlo Acutis “caiu no encantamento da juventude”. “No Nordeste principalmente, você não tem noção o que é o Nordeste com o Carlo Acutis”, disse o padre, que no último carnaval participou de um retiro em Campina Grande (PB), com “80 mil pessoas”, das quais muitos eram jovens e ficaram “em um silêncio” para ouvi-lo falar sobre Carlo.
Para o sacerdote, o que atrai os jovens brasileiros em relação ao Carlo Acutis, “no primeiro momento”, é “a imagem” dele, “a beleza”, porque “nós vivemos num mundo imagético”. “É o que eu vejo que vai me atrair, principalmente para os jovens. O que eles buscam nos outros? O que eles buscam nas coisas? Eles buscam beleza”, disse.
“Estamos acostumados com o santo de batina, o santo de hábito, de um outro estilo, os padres consagrados que se santificaram. De repente, um jovem que se veste como os jovens dos nossos tempos e que se tornou santo”, destacou.
Mas, o sacerdote ressaltou que, “mais do que a beleza física do Carlo, é a sua beleza interior, a sua beleza transcendental, que vem depois”.
Para o padre Fábio, a beleza física que atrai os jovens em relação ao Carlo “não é uma beleza isolada”, mas sim um aspecto que chama a atenção e, em seguida, leva os jovens a “buscarem conhecer, saber, pesquisar quem é”.
A partir daí, descobrem que “Carlo é a beleza prefigurada da santidade, do amor, do bem, de tanta coisa bonita”.
Nathália Queiroz colaborou com esta matéria.