A Santa Sé, em colaboração com o Camille and Sandy Kress Project, fez a primeira de uma série de conferências chamada "Judeus e Católicos sobre Ética: Uma Luz para as Nações" esta semana, destacando a importância das tradições de fé no mundo de hoje.

A conferência em Roma, que ocorreu na terça-feira (1) e ontem (2), reuniu estudiosos católicos e judeus de todo o mundo na Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino, também conhecida como "Angelicum", para aprofundar os fundamentos teológicos do diálogo judaico-católico, segundo a declaração Nostra Aetate, publicada pelo Concílio Vaticano II em 1965.

Em mensagem aos participantes da conferência, o presidente da Comissão para as Relações Religiosas com os Judeus da Santa Sé, cardeal Kurt Koch, disse que a reflexão conjunta sobre a ética é mais urgente agora do que no passado, já que ambas as religiões, "que têm suas origens comuns na revelação", são minadas em sociedades que "marginalizam nossos valores morais".

"Como disse o papa Francisco: Judeus e cristãos dividem uma rica herança espiritual que nos permite fazer muito juntos. Num momento em que o Ocidente está exposto a um secularismo despersonalizador, cabe aos crentes buscar uns aos outros e cooperar para tornar o amor divino mais visível para a humanidade' ", disse dom Koch na terça-feira (1).

As duas palestrantes convidadas da conferência - Shira Billet, professora assistente de pensamento e ética judaica no Seminário Teológico Judaico da América, e Judith Wolfe, professora de teologia filosófica na Universidade de St. Andrews, Escócia - disseram que a crença das duas religiões de que cada pessoa é feita à "imagem de Deus" dá aos católicos e judeus uma base para a ética comum, normas e valores.

"Amado é o ser humano que foi criado à imagem de Deus", disse Billet, falando sobre os escritos do rabino Akiva, do primeiro século depois de Cristo. "Deus ama os seres humanos na medida em que os seres humanos são criados à imagem de Deus".

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"Quando Deus disse a Noé e seus filhos: 'À imagem de Deus, o ser humano foi criado', o versículo é uma proibição contra o assassinato", disse Billet, citando Gênesis 9:6. "Deus também ditou a norma moral que se segue disso, que é, não se pode destruir a imagem de Deus em outro ser humano".

Descrevendo o amor de um Deus trinitário que "já define a vida divina em si mesma; o amor entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo" que atrai os seres humanos a participar "daquela vida divina de amor", Wolfe disse que os cristãos são chamados a expressar "a plenitude e generosidade de Deus" para com os outros.

"Toda a ética proposta no Sermão da Montanha fala diretamente sobre isso... dar a outra face, ir além, dar sua túnica", disse Wolfe, falando sobre o quinto capítulo do Evangelho de são Mateus.

"Todas essas ações, em certo sentido, só podem ser feitas com uma profunda convicção de que há o suficiente [e] que podemos dar todas essas coisas e, no entanto, o amor e a plenitude de Deus serão suficientes".

Tendo recebido o mandamento de Deus para ser uma "luz para as nações", judeus e cristãos têm a responsabilidade de ser testemunhas de suas crenças religiosas, particularmente num mundo em que a escassez, a competição e o conflito são forças dominantes, disseram Billet e Wolfe.

Como parte do projeto colaborativo de três anos da Santa Sé com o Camille and Sandy Kress Project, o Angelicum vai sediar duas conferências adicionais no ano que vem e em 2027 para promover o diálogo entre judeus e católicos sobre teologia, antropologia e ética.