14 de abr de 2025 às 18:16
Foi inaugurado no sábado (12), em Araguaína (TO) o Centro Espírita Os Guardiões, um local que se autodefine como “referência de Quimbanda Luciferiana no Norte”. O evento contou com a participação do juiz do trabalho aposentado Leador Machado, que se apresentou como representante da Comissão Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O arcebispo de Olinda e Recife (PE), dom Paulo Jackson, segundo vice-presidente da CNBB, disse que Leador não faz parte da comissão, e que nenhuma comissão pode representar a CNBB, prerrogativa exclusivamente da presidência e do conselho permanente da entidade.
A quimbanda é uma das chamadas religiões brasileiras de matriz africana, às vezes apresentada uma vertente da umbanda.
Um vídeo da inauguração do centro foi postado pela página do Instagram do babalorixá Álex Souza e Silva (@amantesdaquimbanda). No vídeo, o juiz Leador Machado é apresentado como “representante da Comissão Justiça e Paz da CNBB”. “Ele representa dirigentes da Igreja Católica”, diz a pessoa que o apresenta.
Em seguida, é exibida uma fala do próprio Leador, que diz fazer “parte de um grupo que se chama Comissão Brasileira de Justiça e Paz, que é um grupo ligado à CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil”. Trata-se, segundo ele, de “um grupo ecumênico”.
“É um grupo que congrega outras religiões, outros segmentos religiosos, e procura estabelecer um diálogo entre todas as religiões, um respeito a cada confissão religiosa, a cada cultura religiosa. Quem sabe isso é um movimento cultural, cada um tem o seu, e a gente tem que, acima de tudo, respeitar”.
Leador, que foi candidato a prefeitura de Araguaína em 2020 pelo Partido dos Trabalhadores (PT), diz no vídeo que foi à inauguração do centro depois de ficar sabendo de “agressões” que o local havia sofrido.
Na postagem no Instagram, o babalorixá diz: “Toda a Rede Centro Espírita Os Guardiões, e na ocasião a Unidade Araguaína/TO, recebeu apoio de diversas instituições públicas e religiosas, como a Comissão de Justiça e Paz do Regional Norte 3 da CNBB, representada pelo juiz Leador, somando forças na luta contra o racismo religioso e na promoção do diálogo inter-religioso e do ecumenismo”.
O juiz Leador disse no evento: “Nós, na Igreja Católica, iniciamos um processo de diálogo com as outras religiões, através da nossa Teologia da Libertação, no final dos anos 70, início dos anos 80”. Ele citou as “comunidades eclesiais de base, que viviam em todos os setores, dialogando com as outras religiões”.
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“Isso também, depois de um determinado tempo, sofreu muita perseguição, perseguição, inclusive, de fora, financiada, identificada na Teologia da Libertação, inimigo das classes poderosas aqui no Brasil. Iniciaram um processo de perseguição dentro da nossa própria religião e fora da nossa religião”, acrescentou o juiz.
“Hoje nós somos, na Igreja Católica, uma minoria também. Infelizmente, eles conseguiram criar grupos radicais dentro da própria Igreja e que preguem esse ódio, essa falta de respeito pelo outro, pela diversidade, mas nós continuamos resistindo”, disse Leador, ao se colocar “sempre à disposição”.
O caso foi denunciado nas redes sociais na manhã hoje (14) pela página Educar para o Céu. Em seguida, a página publicou uma resposta dada pelo segundo vice-presidente da CNBB, dom Paulo Jackson, à Confraria Dom Vital, de Recife (PE). O arcebispo disse que Leador Machado “já não é ligado à Comissão Justiça e Paz. Foi, num passado recente. Até antes da nossa presidência”.
Dom Paulo disse que o juiz “não tem autorização para falar em nome da CNBB” e que “nenhuma comissão tem autorização, pelo Estatuto, de falar em nome da CNBB”, pois “só fala em nome da CNBB a Presidência ou o Conselho Permanente”.
Em nota, a CNBB disse que, segundo o seu Estatuto Canônico, “pronunciam-se e agem publicamente, seja em nome próprio, seja em nome de toda a Conferência, a Assembleia Geral, o Conselho Permanente e a Presidência”.
Segundo a conferência, “as comissões episcopais podem se pronunciar dentro de suas respectivas áreas de competência, desde que em consonância com o Conselho Permanente (cf. Art. 77, §1º)” e “os Conselhos Episcopais Regionais podem agir e se manifestar dentro de sua jurisdição, em harmonia com a orientação da Conferência em nível nacional”.
“Assim sendo, nenhuma pessoa física ou jurídica tem capacidade e habilitação canônica e cível para se pronunciar oficial e legitimamente em nome da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), além daquelas precedentemente citadas”, ressaltou.
ACI Digital também entrou em contato o Regional Norte 3 da CNBB, com a Comissão Justiça e Paz do Regional e com o juiz Leador Machado, mas não teve respostas até o fechamento dessa matéria.