LIMA, 21 de ago de 2006 às 14:24
O Arcebispo da cidade peruana de Huancayo, Dom Pedro Barreto Jimeno, SJ, acusou sem fundamento a agência ACI Prensa de distorcer a verdade e implicou que atacava a vida consagrada pela recente reportagem sobre o Congresso da Confederação Peruana de Religiosos (CONFER), em particular pela referência ao Pe. Gustavo Gutiérrez, promotor da vertente marxista da teologia da libertação.
Convidado como apresentador para desenvolver um tema sobre meio ambiente na jornada de encerramento do simpósio da CONFER, Dom Barreto começou dizendo: "antes eu gostaria muito brevemente de dizer algumas coisas mais pessoais (…) estava ali, muito preocupado com uma nota jornalística que falava deste congresso que estava se realizando e fazia referência expressa ao Padre Gustavo Gutiérrez, ao Padre Arnaíz, e ao Padre Simón Pedro", falando da notícia publicada pela ACI Prensa.
O Prelado assinalou que a notícia tinha lhe causado "uma indignação" pelo que descreveu, de parte da ACI Prensa, como "distorção, eu diria mal intencionada dessa nota jornalística em sua forma e em seu conteúdo, que é o mais grave".
"Mas essa indignação não ficou somente em mim, e digo com toda claridade, mas também com uma profunda dor eclesial porque esta notícia jornalística sai da Igreja Católica. A ACI Prensa é da Igreja Católica", acrescentou Dom Barreto.
"Por isso me vejo obrigado em consciência aqui neste Congresso a título pessoal meu reconhecimento ao religioso dominicano o Padre Gustavo Gutiérrez e seu testemunho de fidelidade à Igreja em momentos difíceis e isso o demonstrou ontem e em muitas experiências. Mas, –acrescentou em seguida- o que sim quero dizer publicamente é que na assembléia os bispos que estamos participando, um dos temas é precisamente um documento da Comissão da Doutrina da Fé que ratifica a decisão do Papa Bento XVI sendo ele Cardeal Prefeito da Doutrina da Fé em 2004 no qual publicamente reconhece que a teologia do Padre Gustavo Gutiérrez está dentro da doutrina católica".
Antecedentes históricos
O Arcebispo peruano considerou como um insulto ao Pe. Gutiérrez a afirmação, que em outras ocasiões a ACI Prensa realizou, de que se trata de um impulsor da vertente marxista da teologia da libertação, afirmação que se apóia exclusivamente nos fatos.
Desde que foi publicada a obra de Gutiérrez "Teologia da libertação. Perspectivas" com data de 31 de dezembro de 1971, uma interminável sucessão de arcebispos, bispos e inclusive a própria Sé Apostólica vieram exigindo que o padre Gutiérrez se retrate e esclareça a influência marxista.
Depois de muitos anos, e de eventos históricos que desqualificaram ainda mais sua obra, o Pe. Gutiérrez apresentou um documento que lhe vinha exigindo o então Cardeal Joseph Ratzinger, da Congregação para a Doutrina da Fé, frente a uma teologia da libertação mal entendida.
Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram
Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:
Estes fatos históricos, assim como o apoio e agradecimento que muitas congregações, institutos e sociedades de vida consagrada manifestaram à ACI Prensa ao longo de seus 26 anos de existência, ao parecer não foram levados em conta por Dom Barreto no momento de emitir um juízo moral sobre a suposta intenção da notícia da ACI Prensa.
O caso Gutiérrez
É sabido que o antigo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé fez uma série de observações ao texto do artigo "A Koinonia Eclesial", escrito pelo Pe. Gutiérrez em resposta ao pedido do dicastério. Isto implicou por parte do Cardeal Ratzinger e da Congregação vaticana o rechaço da primeira versão apresentada pelo controvertido sacerdote peruano, por isso este deveu realizar uma segunda redação que somente concluiu anos depois, em 2004.
Mais ainda, uma recente carta do dicastério presidido atualmente pelo Cardeal William Llevada pede que se dê difusão ao artigo de retificação do Pe. Gutiérrez sobre colocações questionáveis em suas obras; não ratifica nada, pois o decidido pela Ccongregação não precisa ser ratificado.
Este documento do Dicasterio sobre o caso Pe. Gutiérrez é o que Dom Barreto descreve como o "documento da Comissão da Doutrina da Fé que ratifica a decisão do Papa Bento XVI sendo ele Cardeal Prefeito da Doutrina da Fé em 2004 no que publicamente reconhece que a teologia do Padre Gustavo Gutiérrez está dentro da Doutrina Católica".
O primeiro documento simplesmente dá por terminado o longo caminho de retificação de certos pontos cuja elucidação tinha sido requerida ao Pe. Gutiérrez em um artigo; surpreendentemente, para Dom Barreto, isto parece ser igual a que as obras do Pe. Gutiérrez, inclusive as que causaram maior confusão, engano e crise pastorais, ficam livres dos enganos que tinham e que exigiram um longo processo pelo qual o teólogo em um artigo estabeleceu uma posição de acordo com a doutrina da fé.
É precisamente para evitar enganos e confusão que a Sé Apostólica vem pedindo que se difunda esse artigo.
Antigo desconforto
As críticas de alguns setores eclesiais contra a ACI Prensa em relação à teologia e história do Pe. Gustavo Gutiérrez se remontam aos dias em que a ACI Prensa divulgou a preocupação do Papa João Paulo II e da Congregação para a Doutrina da Fé e de seu Prefeito, o então Cardeal Joseph Ratzinger; quem escreveu várias análises críticas da teologia de libertação e inclusive do Pe. Gustavo Gutiérrez e nos que não vacilou em assinalar explicitamente a influência marxista que nela se encontra.