MADRI, 17 de ago de 2004 às 15:55
O diretor geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas do Ministério de Cultura, Rogelio Blanco anunciou que em breve a Espanha poderá completar seu arquivo do Tribunal da Inquisição graças a um acordo de intercâmbio de documentos com a Santa Sé.Conforme informou Blanco, em setembro haverá uma reunião com Dom. Alejandro Cifres, diretor do arquivo do Santo Ofício, “para completar os processos mais relevantes do Tribunal da Inquisição na Espanha, já que estes se iniciavam aqui, mas as apelações e recursos perante a Santa Sé ficavam no Vaticano e não voltavam”.
“Hoje dispomos de uma informação incompleta sobre os mesmos que pretende desculpar-se com esta troca de documentos microfilmados: nós facilitamos ao Arquivo da Santa Sé os inquéritos da parte espanhola dos quais carece, e este proporciona ao Estado espanhol a parte romana, fechando um círculo de informação extremamente interessante para o conhecimento da História”, explicou.
Blanco indicou ao jornal ABC de Madri que “toda a informação que possamos obter neste intercâmbio passará a engrossar a Seção de Inquisição do Arquivo Histórico Geral de Salamanca. Além disso, temos a intenção de incorporá-la ao Plano de Arquivos Estatais em Rede (AER), projeto que precisa ser impulsionado e melhorado, para que, através da Internet, esses recursos possam ser consultados pelos pesquisadores de qualquer parte do mundo, especialmente da Iberoamérica, aonde também atuou o Tribunal da Inquisição espanhola, e há muito interesse por esta questão”.
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Recurso valioso para conhecer a história
No mês de junho passado Dom Alejandro Cifres, diretor do Arquivo da Congregação para a Doutrina da Fé, explicou que a iniciativa é parte de um projeto cujo “objetivo é catalogar todos os recursos inquisitoriais existentes na Itália e procedentes de qualquer Inquisição, isto é a medieval, a espanhola ou a romana”.
“Os historiadores distinguem três inquisições: a medieval, exercida pelos bispos locais, ou pela Santa Sé com caráter pontual e esporádico (por exemplo, a Cruzada contra os Albigenses); a espanhola (e mais tarde, por imitação, a portuguesa), criada a finais de 1400 pelos Reis Católicos com o beneplácito e bulas papais, com atuação restringida ao território da Coroa espanhola (e Portuguesa), ou seja, também na América e nos territórios europeus (em particular italianos) dependentes dela; e uma terceira inquisição, a romana, a mais moderna, fundada pelo Papa Paulo III em 1542 e inspirada no modelo centralista espanhol, mas com âmbito teoricamente universal”, explicou.
“Estudar ou completar os respectivos arquivos, o da espanhola conservado no Arquivo Histórico Nacional, e o da romana (meu arquivo) significa pôr em relação documentário duas realidades mais unidas do que à primeira vista pudesse parecer”, assinalou naquela oportunidade Dom. Cifres.
Segundo Dom. Cifres, “na pesquisa histórica é fundamental o contexto. Os fatos e os textos não podem se separar do ambiente, da época, das pessoas, em definitiva, do entorno que os viu nascer. Quanto mais ampliamos esse contexto, mais se facilita um aprofundamento objetivo, livre de preconceitos, dos fatos que estudamos. No caso da Inquisição, tanto a espanhola como a romana, dispor da documentação mais completa permitirá estudá-la com mais objetividade”.