O novo Prefeito da Congregação para o Clero, Cardeal Claudio Hummes, explicou que a análise marxista da fé "leva a materialismo e ao ateísmo e inclusive à revolução armada".

Em uma entrevista publicada pelo jornal O Globo, o Cardeal foi consultado sobre a relação do Vaticano com a Teologia da Libertação, combatida pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, quando era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e assegurou que o uso da análise marxista trouxe muita polêmica à Igreja.

"O que foi um grande fato de conflito foi o uso da análise marxista dentro da teologia. Isso produziu um grande desacordo entre o Papa e alguns teólogos da libertação que fizeram esse uso. Além disso a análise marxista leva a materialismo e ao ateísmo e inclusive à revolução armada", indicou o novo Prefeito.

"Com a Teologia da Libertação, alguns teólogos estavam usando a análise marxista como análise da realidade, como se a análise marxista fosse científica. O Papa João Paulo II fez uma advertência sobre isso e claro que o Cardeal Ratzinger e eu também o fizemos", afirmou.

"A análise marxista é uma análise muito mais ideológica que científica", explicou.

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Do mesmo modo, foi consultado sobre os problemas sociais que afetam muitas comunidades católicas e esclareceu que há temas urgentes como "vencer a pobreza, a questão do emprego, a questão do salário justo, o direito dos trabalhadores. Uma ética contínua de pé".

Neste sentido, precisou que "o mundo mudou. Claro que mudei como todos mudamos e devemos mudar com a história. A gente não pode usar o mesmo discurso e a mesma prática de 1980 hoje", referindo-se ao apoio que nesse tempo concedeu a quem se opôs à ditadura militar no Brasil.

Agora, o Cardeal Hummes se prepara para viajar ao Vaticano em algumas semanas para assumir seu novo cargo, enquanto se aguarda a nomeação de seu sucessor à frente da Arquidiocese de São Paulo.

O Cardeal diz estar "otimista" com o Pontificado do Bento XVI e espera "boas surpresas". Para o Cardeal Hummes, o mundo criou uma imagem do Santo Padre que não é real. "É um homem muito inteligente, muito sábio, muito fino, muito amável, muito bondoso".

"O mundo tinha feito dele uma caricatura, pelo fato de que devia cuidar da doutrina da fé, e aí, de vez em quando, devia dizer: ‘Olha, isto não está dentro da fé’", afirmou.