LIMA, 8 de jan de 2007 às 03:30
A controvérsia em torno da cumplicidade do diário New York Times (NYT) na promoção da legalização do aborto na América Latina veio crescendo nos últimos dias logo que diversos meios nos Estados Unidos, Canadá e América Latina recolhessem o reconhecimento do editor de leitores do jornal que um de seus mais extensos artigos se apoiou em informação falsa e manipulada.
A controvérsia começou em 9 de abril de 2006, quando o jornalista Jack Hitt, um colaborador do NYT que escreve sistematicamente a favor do aborto, publicou um extenso artigo apoiado na reportagem a duas mulheres, uma das quais era Karina del Carmen Herrera Clímaco, uma salvadorenha supostamente condenada a 30 anos de cárcere por abortar; e a quem Hitt colocou como exemplo da “desumanidade” das leis contra o aborto na América Latina.
No extenso artigo, que ainda segue sendo utilizado como propaganda por organizações abortistas latino-americanas como “Mulher e Saúde no Uruguai” (MISU), Hitt afirmava que “o problema não era somente que neste país tão católico uma tímida mulher de 24 anos de idade (Herrera Clímaco) pudesse sentir-se envergonhada de contar a sua história a um homem mais velho. Estava também o estigma criminal”.
No artigo, Hitt mostrava sua clara posição a favor do aborto e colocava como vítima e heroína a Karina del Carmen Herrera Clímaco, de quem afirmava que, “como toda pessoa que está na prisão, inabilitou os detalhes de sua história ao ponto de que já não soam verdades nem mentiras. Comprimiu-a em um denso e singelo conto de inocência”.
Seguidamente, o autor indicava que o assunto ao final “era algo assim: Ela (Herrera Clímaco) tinha abortado às 18 semanas, para nada diferente a um aborto em Washington D.C., um fato totalmente legal nos Estados Unidos. Só que abortou em El Salvador”.
A retificação
O artigo de Hitt suscitou a indignação de numerosas organizações pro-vida da América Latina, algumas das quais ficaram em contato com a agência informativa Lifesite News, a qual, com o apoio de organizações pro-vida em El Salvador, revelou a realidade dos fatos e forçou ao NYT a admitir o engano.
Em efeito, o passado 31 de dezembro de 2006, Byron Calame, editor de leitores do NYT, explicou em um artigo titulado “Verdade, justiça e aborto na revista Times” que o caso de Karina del Carmen Herrera Clímaco não tinha que ver com um aborto de uma bebê de 18 semanas, senão com o assassinato a sangue frio de uma bebê recém-nascida que tinha sido estrangulada.
Os documentos da corte, que Hitt se negou a revisar para seu artigo, demonstram além de toda prova que Herrera Clímaco assassinou por asfixia a sua filha recém-nascida, tempo depois do parto. A justiça a tinha condenado por assassinato em primeiro grau, não por aborto.
“Sem ter revisado os documentos da corte com as explicações e o falho, o autor do artigo, Jack Hitt, um escritor free-lance, sugeria que a ‘verdade’ era diferente”, diz Calame.
O Editor do NYT admitiu também que “o cuidado no relatório e a edição deste exemplo (o artigo do Hitt de 9 de abril) não cumpriu com os padrões normais da revista”.
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Calame, que representa aos leitores ao interior do jornal, realizou sua própria investigação interna sobre a razão pela qual os editores responsáveis por Hitt no NYT nunca corroboraram sua história, nem solicitaram provas tão elementares como os papéis judiciais do caso de Herrera Clímaco.
“O Sr. Hitt nunca revisou a sentença de sete mil e 600 palavras do caso Clímaco para preparar sua história. E ele mesmo me comentou que nenhum editor ou verificador de dados lhe perguntou se tinha revisado a decisão do painel de juizes”, sublinhou Calame.
“A pedido meu, um colaborador do Times em El Salvador foi até a corte e sem fazer nenhuma coordenação prévia, saiu uns minutos depois com uma cópia do falho. Resultou ser o mesmo que LifeSiteNews.com difundiu”, adicionou o editor do NYT.
Blogs e imprensa
Os mais populares “blogs” de análise de notícias nos Estados Unidos ecoaram ao reconhecimento do editor de leitores do NYT; mas também à resistência dos editores responsáveis pelo Hitt a publicar uma desculpa aos leitores.
A imprensa da América Latina também denunciou o caso. Por exemplo, O “Jornal de Hoje” de El Salvador dedicou a primeira página e duas páginas interiores no passado 4 de janeiro ao tema sob o título “Polêmica por falsa abortista: ONG promotora de aborto solicitava dinheiro por Internet para liberar uma mulher que estrangulou a seu filho recém-nascido”.
Em efeito, o editor de leitores do NYT informa que, para realizar sua reportagem, o jornalista-ativista utilizou um tradutor gratuito proporcionado pela organização mundial pró-abortista IPAS para suas entrevistas com a Herrera Clímaco.
Conforme Calame, a mesma multinacional abortista “utilizou o artigo da revista sobre a sentença da senhora Clímaco para pedir doações em seu sítio Web de modo que ‘se conseguissem advogados que pudessem apelar no caso’ e que ajudassem à organização a ‘continuar com seu trabalho de defesa’ em toda a América Central’”.
O IPAS retirou o artigo de sua página Web logo que Calame se contatasse com a mencionada organização.
O “Jornal de Hoje” qualificou o uso do artigo por parte do IPAS de “fraude cibernética”; enquanto que a líder pro-vida salvadorenha Julia Cardeal questionou a intenção do NYT: “Acaso causar indignação nos Estados Unidos para que pressionem e poder assim legalizar o aborto?”.