APARECIDA, 17 de mai de 2007 às 14:09
O Presidente da Conferência de Provinciais Jesuítas na América Latina, Pe. Ernesto Cavassa, SJ, expressou em coletiva de imprensa durante a V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, a esperança de que a teologia do Pe. Jon Sobrino será reivindicada com o tempo, e que, portanto, a notificação da Congregação para a Doutrina da Fé ficará defasada historicamente.
Em 14 de Março deste ano, a Congregação para a Doutrina da Fe publicou uma Notificação sobre algumas obra do sacerdote jesuíta Jon Sobrino, assinalando a existência de algumas proposições que "não estão conforme com a doutrina da Igreja" em duas das obras de Sobrino: "Jesus Cristo libertador. Leitura histórico-teológica de Jesus de Nazaré" e "A fé em Jesus Cristo. Ensaio das vítimas".
Os enganos que aponta a Congregação se referem aos orçamentos metodológicos nos que Sobrino funda sua reflexão teológica, que questiona à divindade de Jesus Cristo, a encarnação do Filho de Deus, a relação entre Jesus Cristo e o Reino de Deus, a autoconsciência de Jesus Cristo e, finalmente, o valor salvífico de sua morte.
Na Nota explicativa, que conta com a aprovação do Papa Bento XVI, reconhece-se que o teólogo libertacionista manifesta em suas obras preocupação pelos pobres, preocupação que é "certamente a da Igreja inteira".
Entretanto, recorda fazendo alusão à Instrução "Libertatis conscientia" de tal Congregação, que "dita opção não é exclusiva" e que por isso "a Igreja não pode expressá-la mediante categorias sociológicas ou ideológicas redutivas, que fariam desta preferência uma opção partidarista e de natureza conflitiva".
Interrogado por um militante alemão vinculado à organização "Ameríndia" sobre a censura às obras de Jon Sobrino, o Pe. Cavassa respondeu textualmente:
"A notificação a Jon Sobrino não é uma condenação mas sim uma notificação. É muito distinto. dentro da notificação, este é o modo de mais baixa categoria que a hierarquia da Igreja tem para publicar, pois tem todo o direito, dos pontos que não compartilha e o faz à luz pública porque isso é o que deve fazer".
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"Pode estar em desacordo com alguns pontos de sua teologia, mas não pode dizer absolutamente que a Igreja não reconhece o testemunho do Jon. Isso o diz expressamente a notificação. E é muito importante que o faça".
"A notificação não diz absolutamente nada sobre uma sanção que lhe impeça o ensino acadêmico, portanto isto fica fora da notificação. A notificação se refere a alguns pontos teológicos em duas de suas obras, que pelo resto são temas debatidos, questões disputadas, que a maioria delas não são próprias. Ele as recolhe a sua vez de outros. A maior parte das vezes de teólogos europeus. Essas formulações que ele tem nessas obras foram previamente passadas por outros teólogos companheiros com a finalidade de ver se isto está ou não está dentro da fé da Igreja. Em geral a maioria das vezes a resposta foi positiva".
Continuando com sua resposta, o jesuíta adicionou: "Não é a primeira vez que se notifica a um teólogo da Igreja com este tipo de supostos enganos ou desavenças que a hierarquia possa ter. Os mesmos teólogos dos anos 50 (que) eram considerados como alheios à ortodoxia da Igreja, foram os teólogos do Concílio 10 ou 13 anos depois".
Tomando o exemplo do controvertido teólogo e antropólogo jesuíta Pierre Theilard de Chardin, muitas de cujas idéias –como a do "Cristo Cósmico" ou "o Ponto Omega"– seguem sendo rechaçadas pela doutrina da Igreja, o Presidente da Conferência de Provinciais Jesuítas na América Latina assinalou que "ao Padre Chardin lhe pediu deixar de publicar coisas (e) é um dos que mais contribui reconhece à fé da Igreja. Esta relação ente carisma e instituição não é nova na Igreja e nos vai acompanhar sempre".
ACI Digital perguntou ao Pe. Cavassa se podia clarificar sua resposta, pois dela se coligia que em dez anos se terminaria comprovando que a que estava equivocada era a Congregação para a Doutrina da Fé e não o Pe. Sobrino; mas o Provincial jesuíta peruano respondeu "não sei se do que foi dito se pode tirar a conclusão que o jornalista da ACI Digital extraiu. Acredito que é uma interpretação que não é a mais adequada"; e desistiu de esclarecer, passando a responder outro tema.
ACI Digital o abordou novamente de maneira pessoal, para confirmar sua posição sobre o tema. Entretanto, o Pe. Cavassa se reafirmou em sua postura respeito de que o tempo terminará reivindicando a Sobrino: "houve casos nos que a Congregação esteve equivocada, eu não posso saber o que vai passar no futuro, Acaso o pode saber você?", foi a resposta conclusiva do jesuíta.