BERLIM, 13 de jul de 2020 às 12:00
Dez mulheres de diferentes congregações religiosas da Alemanha publicaram um manifesto exigindo ser admitidas na ordem sacerdotal.
"Mulheres religiosas pela dignidade humana" é o nome desse grupo que publicou um manifesto criticando a perspectiva católica sobre a Eucaristia e a linguagem usada na liturgia.
Segundo informa CNA Deutsch, agência em alemão do Grupo ACI, as signatárias afirmam que seu pedido se baseia em algumas coisas aprendidas durante a pandemia de coronavírus, como que “com a ruptura e a perda do familiar - às vezes simplesmente enraizado - houve primeiro um vazio e depois espaço para um discurso e uma busca comum”.
As religiosas também indicam que o fato de as superioras assumirem a direção espiritual de uma comunidade, mas não poderem presidir a Missa mostra o “desequilíbrio” da Igreja Católica e “uma extrema dependência das mulheres (religiosas) com relação a um homem consagrado”.
Isso levanta a questão de saber se "a forma corretamente celebrada é mais importante que o conteúdo" e citam o "ecoteólogo" e ex-sacerdote Leonardo Boff, cujas obras foram condenadas pela Santa Sé na década de 1980.
“Será que as normas e regulamentos não são muito restritivos na compreensão dos sacramentos? Será que ao encontrar ressonância em mim ou em nós tudo não poderia se tornar um sinal efetivo da presença de Deus?”, questionam as religiosas ao citar Boff.
Para as freiras, é "incompreensível" que a Eucaristia validamente celebrada ainda "dependa da decisão surgida na história da Igreja" de que "apenas um homem que vive o celibato pode ser ordenado sacerdote".
As signatárias também dizem que o entendimento atual da Igreja estabeleceu "relações de poder desfavoráveis" que vão contra "o evento da salvação para todas as pessoas".
As religiosas também lembram que as congregações exigem a Eucaristia diária e isso, agora com a pandemia de coronavírus, não foi possível em alguns casos devido à escassez de sacerdotes.
O manifesto também destaca a reforma de algumas celebrações litúrgicas em sua linguagem para poder "rezar honestamente nós mesmas". "Algumas orações estão formuladas de tal maneira que muitas de nós dificilmente podemos suportar esses textos", afirma o manifesto.
"Queremos que seja dada mais atenção a essa área eclesiástica negligenciada, mas importante", acrescentam.
Em entrevista à agência alemã KNA, a irmã Susanne Schneider, uma das signatárias, disse que “somos católicas romanas e queremos continuar sendo. Queremos, se possível, mudar a Igreja por dentro. Estamos bem conectadas com a Federação das Mulheres, com a Comunidade das Mulheres e com [o grupo de protestos] Maria 2.0 e queremos contribuir com nossas experiências com as muitas propostas de reforma atuais. Até agora, as mulheres religiosas têm sido relativamente humildes e silenciosas em muitas questões. Esse tempo já passou".
O monge beneditino Anselm Grün disse recentemente em uma entrevista que "não há razões teológicas" contra a ordenação de mulheres.
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O que a Igreja Católica ensina sobre a ordem sacerdotal?
O Código de Direito Canônico, a norma que regula a Igreja Católica em todo o mundo, declara no cânon 1024 que "só o varão batizado pode receber validamente a sagrada ordenação".
Em uma entrevista à agência Reuters em 2018, o Papa Francisco garantiu que a porta está fechada para o sacerdócio das mulheres na Igreja Católica porque "dogmaticamente não cabe".
O Santo Padre enfatizou que, embora as mulheres devam ter mais funções na Igreja, é necessário ter em mente que “com a ordem sagrada não se pode, porque dogmaticamente não cabe e João Paulo II foi claro e fechou a porta, e eu não volto em relação a isso. Era algo sério, não um capricho".
Respondendo à pergunta da Reuters sobre o que diria a uma mulher que realmente sente o forte desejo de se tornar sacerdote”, o Pontífice assinalou que "existe a tentação de ‘funcionalizar’ a reflexão sobre as mulheres na Igreja, que devem fazer isso, que tem que ser aquilo outro. Não, a dimensão da mulher vai além das funções. É algo maior”.
Em 1994, o Papa São João Paulo II escreveu a Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis sobre a ordenação sacerdotal reservada somente aos homens.
Neste texto, o Papa Wojtyla destaca que “a ordenação sacerdotal, pela qual se transmite a missão, que Cristo confiou aos seus Apóstolos, de ensinar, santificar e governar os fiéis, foi na Igreja Católica, desde o início e sempre, exclusivamente reservada aos homens".
Nesse documento, o Pontífice também escreveu: “para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos, declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
Confira também:
Para Anselm Grün, não existem "razões teológicas" que impeçam o sacerdócio feminino https://t.co/yNOs7IY4Yl
— ACI Digital (@acidigital) July 6, 2020