PARIS, 24 de jul de 2020 às 12:00
Embora tenha sido amplamente divulgado em todo o mundo o incêndio de 18 de julho que danificou a catedral gótica de São Pedro e São Paulo, em Nantes (França), instituições alertam sobre o número crescente de ataques contra igrejas na Europa que não são cobertos pelos meios de comunicação internacionais.
Desde 2010, o L’Observatoire de la Christianophobie (Observatório da Cristofobia), com sede em Paris, França, documenta incidentes anticristãos em todo o mundo. Mês a mês, usando um mapa interativo, ele os classifica em seis tipos: incêndio criminoso, assassinato, vandalismo, roubo, bombardeio e sequestro.
Após o incêndio de sábado em Nantes, a organização noticiou vários incidentes menos difundidos na França, incluindo a destruição de um crucifixo na Île-d'Arz, na Bretanha, danos às pinturas de uma igreja em Auxerre e a decapitação de uma estátua da Virgem Maria em montaud.
O Ministério do Interior francês registrou 996 atos anticristãos em 2019, uma média de 2,7 por dia, embora se calcule que o número real possa ser maior, dado que as autoridades não contam incêndios por causas indeterminadas.
O diretor de pesquisa do Instituto Acton, Samuel Gregg, indicou à CNA, agência em inglês do Grupo ACI, que essa série de incidentes obrigou as autoridades francesas a abordar o tema abertamente.
Gregg indicou que nos últimos dois anos o governo da França começou a falar publicamente sobre os ataques, ao não poder esconder devido a sua magnitude e visibilidade.
"Tanto o presidente Emmanuel Macron como seu novo primeiro-ministro, Jean Castex, falaram à força, por exemplo, sobre o recente ataque à catedral de Nantes", acrescentou.
A diretora do Observatório sobre a Intolerância e a Discriminação contra os Cristãos na Europa (OIDACE) em Viena, Ellen Fantini, destacou que, embora os incidentes anticristãos registrados oficialmente tenham permanecido estáveis nos últimos dois anos (1.063 em 2018 e 1.052 em 2019), aumentaram 285% entre 2008 e 2019.
Em entrevista à CNA, Fantini destacou que, entre os países que informam os ataques, os números estão aumentando e destacou que “de acordo com dados fornecidos à OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa) pelo Reino Unido, os crimes anticristãos dobraram de 2017 para 2018”.
Além disso, assinalou que é complicado afirmar a razão sobre o aumento desses ataques, no entanto, pode-se observar uma relação entre o número de ataques contra igrejas e o aumento de movimentos radicais.
"Eu disse antes que as igrejas são 'pará-raios' para ativistas. E cada grupo tem suas próprias razões para optar por atacar uma igreja. As igrejas podem representar o ‘patriarcado’, ‘a autoridade', 'a tradição', 'a homofobia', 'o Ocidente cristão', etc.”, acrescentou.
Fantini destacou que a maneira mais eficaz de responder aos ataques é por meio de ações locais, que partem das próprias comunidades e dos fiéis, que devem se manifestar quando as igrejas são atacadas e exigir proteção.
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“Na França, uma excelente iniciativa começou no ano passado chamada Protège ton église (Proteja sua igreja). Jovens católicos se organizam em cidades da França para cuidar de suas igrejas à noite, para deter ou denunciar pacificamente o vandalismo e, em geral, tornar sua presença conhecida", acrescentou.
"Os governos também devem começar a proteger as igrejas da mesma maneira que fazem com outros locais de culto vulneráveis", assinalou.
Da mesma forma, Gregg indicou que os bispos franceses como o Arcebispo de Paris, Dom Michel Aupetit, falaram sobre os ataques e sugeriu que os prelados da Europa sigam o exemplo e falem publicamente sobre esse assunto.
"É uma oportunidade para gerar debates mais amplos sobre questões que vão desde o lugar da religião na Europa moderna até a contribuição insubstituível do cristianismo para o desenvolvimento da civilização ocidental", acrescentou.
Pe. Benedict Kiely, fundador do Nasarean.org, uma instituição de caridade que apoia cristãos perseguidos, indicou à CNA que os cristãos não devem assistir em silêncio enquanto as igrejas são atacadas.
As igrejas "devem receber proteção adequada das autoridades civis e qualquer ataque a igrejas ou imagens religiosas deve ser tratado pelo que são: crimes de ódio", comentou.
“Em segundo lugar, devemos levantar a voz para denunciar esses ataques contínuos e não nos deixar intimidar. Nossos líderes devem ser corajosos", acrescentou.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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