Roma, 1 de jun de 2022 às 15:22
Julio Luis Martínez Martínez, padre jesuíta espanhol, disse à revista jesuíta americana America Magazine, em 27 de maio, que a exortação apostólica Amoris laetitia, que o papa Francisco escreveu sobre o amor na família, “desatou os nós” sobre o matrimônio deixados pelos papas são Paulo VI e são João Paulo II ao estabelecerem a proibição dos métodos anticoncepcionais e reafirmar o conceito de mal objetivo, que independe de circunstâncias.
Julio Luis Martínez Martínez é professor de teologia moral, ex-reitor da Pontifícia Universidade Comillas de Madri e professor visitante da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
No texto, o jesuíta faz reflexões sobre “discernimento pastoral” e a moral. Para ele, o papa são Paulo VI, na encíclica Humanae vitae (Vida Humana) “tornou muito difícil a prática do discernimento em termos de moralidade pessoal” e que o papa são João Paulo II fez a mesma coisa na encíclica Veritatis splendor (Esplendor da verdade).
O papa são Paulo VI publicou a encíclica Humanae vitae em 25 de julho de 1968. O documento profético proíbiu o controle artificial da natalidade pouco depois de a indústria farmacêutica ter lançado no mercado a pílula anticoncepcional. São paulo VI avisou que, da adoção dos anticoncepcionais, se seguiriam a degradação moral, a perda de respeito às mulheres e o uso dos métodos artificiais de contracepção como políticas de Estado. Até cardeais de várias partes do mundo ficaram contra são Paulo VI à época.
São João Paulo II publicou a encíclica Veritais splendor em 6 de agosto de 1993. Na introdução, o santo polonês escreveu que “hoje, porém, parece necessário refletir sobre o conjunto do ensinamento moral da Igreja, com a finalidade concreta de evocar algumas verdades fundamentais da doutrina católica que, no atual contexto, correm o risco de serem deformadas ou negadas”.
"É essencial desatar os nós que a Veritatis splendor colocou na moral católica", escreveu o padre Martínez. Segundo ele, esses “nós” começaram 25 anos antes com a Humanae vitae, que não conseguiu "discernir e considerar as circunstâncias ao lidar com o matrimônio e a família humana” de forma precisa.
A encíclica de são João Paulo II introduziu o conceito de "mal intrínseco" ou inerente, algo que Martínez considera "um conceito filosófico controverso que levantou sérias dificuldades para a teologia moral".
Para o jesuíta Martínez, em Amoris laetitia o papa Francisco, também ele jesuíta, deu a teólogos e pastores, e a todos em geral, a tarefa de “tentar ver como aplicar o discernimento em todos os campos da vida moral”.
É um erro opor o magistério dos papas
"Amoris laetitia não deve ser lida em oposição à Humanae vitae ou Veritatis splendor, isso é um erro", disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, Francisco Javier "Patxi" Bronchalo, padre da diocese espanhola de Getafe.
“É querer fazer uma oposição entre o ensinamento de Paulo VI, João Paulo II e o de Francisco, em vez de lê-lo em continuidade e ler Amoris laetitia como contribuição a todo o ensinamento anterior”.
Padre Bronchalo também disse que “o magistério de Paulo VI e João Paulo II na moral não vem para dar um nó, mas para iluminar”.
“A Veritatis splendor fala da consciência e da importância de sua formação reta, que é justamente o que vai desatar os nós morais. E Paulo VI na Humanae vitae não põe nós, mas dá uma palavra esclarecedora sobre questões que estão se metendo na Igreja, por causa da revolução sexual”.
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O padre espanhol disse que são Paulo VI “é um profeta do que tudo isso vai trazer, como a destruição da família, algo que está acontecendo”.
“Não devemos confrontar ou nos dedicar a enfrentar o magistério dos papas, somos cristãos”, concluiu.
Discurso perigoso e falso
"Não há nada mais perigoso e falso do que um discurso perfeitamente construído e aparentemente coerente, que vai intercalando entre os postulados indiscutíveis as opiniões pessoais que pretendem alcançar o status de ensino teológico", disse padre Juan Antonio Moya Sánchez, cônego da catedral da Encarnação de Almería, Espanha, e doutor em Psicologia, em relação ao que disse o jesuíta.
“Ainda mais grave, quando o que está em jogo são os princípios morais da fé católica”, lamentou padre Moya.
“O professor Julio Martínez aproveita a exortação do papa Francisco Amoris laeitia para voltar a uma questão que já havia sido condenada pelo papa Pio XII: a moral situacional”, alertou o doutor em psicologia.
A moral de situação defende a ideia de que não haveria princípios morais absolutos ou males objetivos. O certo ou o errado dependeriam das circunstâncias em que as pessoas que fazem as escolhas morais se encontram.
“Os documentos do papa devem sempre ser entendidos no âmbito da tradição magisterial da Igreja e, claro, do magistério pontifício. Não é correto opor a Amoris laetitia à Humanae vitae ou à Veritatis splendor, como se deduz deste artigo, assim como não convém opor a necessidade do discernimento à existência de princípios morais sólidos e bem fundamentados”, destacou.
Padre Moya Sánchez também disse à ACI Prensa que "colocar em dúvida que existem atos intrinsecamente maus, isto é, que por sua própria natureza são destrutivos e perniciosos para os seres humanos, ou afirmar que este conceito não é mais útil na sociedade ou na Igreja, cria uma grave confusão na consciência moral das pessoas e contribui para o declínio da vida cristã”.
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— ACI Digital (@acidigital) April 11, 2016