RIO DE JANEIRO, 24 de fev de 2020 às 20:40
Na noite deste domingo, 23, a Estação Primeira de Mangueira protagonizou um desfile repleto de ofensas ao cristianismo, representando Jesus como uma mulher, ridicularizando a fé católica e exaltando valores defendidos pela chamada teologia da libertação, condenada por São João Paulo II, mesmo após um pedido prévio da Arquidiocese do Rio de Janeiro para que a tradicional escola de samba carioca não ofendesse o sentimento religioso dos milhões de católicos brasileiros.
O tema do desfile da Estação Primeira da Mangueira foi tomado da passagem bíblica de Jo 8,32, em que que Jesus diz “A verdade vos libertará”. Entretanto, longe de exaltar valores religiosos, a escola protagonizou uma série de ofensas aos cristãos começando por ridicularizar a figura de Jesus Cristo ao representá-lo como uma mulher no desfile.
Quem associou o tema da Mangueira à teologia da libertação foi um dos seus maiores expoentes no Brasil, o ex-franciscano Leonardo Boff, que se define como ecoteólogo de matriz católica e cujos ensinamentos de algumas obras foram questionados pelo então Cardeal Joseph Ratzinger.
Em entrevista em um portal de notícias da Band, Boff comentou o samba enredo da Mangueira afirmando que partilha com a escola de samba carioca a visão de um Jesus Cristo mais humano – menos o Jesus Glorioso, mais o amigo e defensor dos pobres.
“Essa dimensão de Jesus foi especialmente enfatizada pela Teologia da Libertação, que tem nos oprimidos e nos crucificados na história seu ponto de partida e de ação. Ela quer, como Jesus, libertar toda esta gente. Essa é a mensagem clara do enredo da Mangueira”, declara o teólogo, que critica a reação mais extremista ao trabalho de Vieira: “os ultra-conservadores de hoje representam os que tramaram a liquidação de Jesus”.
“A Mangueira, com seu enredo e sua arte, fez uma pregação melhor do que qualquer uma, de padre, de bispo ou de cardeal”, afirmou Boff ao Portal Setor1.
O carnavalesco e idealizador do desfile é Leandro Vieira, que diz que a temática do desfile era de cunho social e não visava ofender a religião. Vieira quis apresentar um “Jesus da gente”, nascido no morro e que assume os diversos rostos dos moradores da favela, e para tal representou-o como uma mulher acorrentada com uma coroa de espinhos em uma das alas, como um jovem negro crucificado em um carro alegórico e sendo golpeado pela polícia como um ladrão.
Segundo o G1, site de notícias do grupo Globo, “Leandro diz que não inventou nada na história. Ao contrário, para criar o enredo, além de ler a Bíblia, ouviu padres, pastores e teólogos e fez uma vasta pesquisa sobre o tema. Ele diz que as fantasias e alegorias têm objetivo de chamar a atenção para crimes de ódio e intolerância.”
Leandro Vieira não especifica quais padres, teólogos ou grupos cristãos ele ouviu em sua pesquisa. Entretanto, a mesma matéria de 29 de janeiro veiculada pelo G1, fala de um encontro de Leandro com Tábata Tesser, uma das líderes das auto-proclamadas Católicas Pelo Direito de Decidir em São Paulo, que são um grupo ligado ao feminismo que promove o Aborto e a ideologia de Gênero, em aberta contradição à doutrina Católica.
"Grupos que pregam o obscurantismo, o conservadorismo radical, vão ver blasfêmia no desfile. Os verdadeiros cristãos vão perceber que o samba é um hino que poderia ser cantado nas igrejas pelos grupos jovens", disse Tesser ao G1 e enfatizou: "A Mangueira está resgatando os valores do humanismo e contando a história de Jesus, esse homem que pode assumir outras formas. E que esse mundo tão intolerante precisa conhecer”, disse Tábata.
Antes do desfile, ao tomar conhecimento do tema e do samba enredo da Estação Primeira de Mangueira, a Arquidiocese do Rio manifestou-se junto de outras 17 entidades religiosas pedindo que os responsáveis evitassem o desrespeito à fé católica. A carta é assinada por Claudine Milione Dutra, Coordenadora Jurídica da Mitra Arquidiocesana do Rio de Janeiro.
A missiva da arquidiocese da capital fluminense, datada em 23 de janeiro de 2020 expressava:
“Solicitamos que, pautados nos princípios da boa fé, tolerância e respeito sejamos ouvidos em nosso intuito de instá-los a observar atenciosamente o próximo desfile, para que este seja realizado de modo a não ofender, chocar, agredir ou escarnecer da fé de centenas de milhões de brasileiros e de bilhões de pessoas no mundo inteiro. A liberdade de expressão é um excelente instrumento para instaurar no nosso país a cultura da paz, da justiça e do amor humano, por isso, não pode jamais se prestar a incitar o ódio. Ainda mais em um palco com a visibilidade que oferece o Carnaval do Rio de Janeiro.
“Diante desse contexto, gostaríamos de exortá-los a realizar uma reflexão acerca do desfile carnavalesco a ser realizado neste ano de 2020, de tal maneira que se respeite a fé das pessoas”.
“Pedimos um momento de reflexão para que seja evitada qualquer ofensa ao sentimento religioso, valor tão caro à nossa sociedade”, afirmava a carta enviada à Liga das Escolas de Samba do Rio.
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Católicos do Rio de Janeiro manifestaram repúdio ao desfile da Mangueira, qualificado de “Blasfemo” pelo deputado estadual Marcio Gualberto, quem solicitou há pouco a retirada de uma imagem que representava a Virgem Maria com um órgão genital masculino.
“O desfile blasfemo da Mangueira foi construído a partir de uma visão teológica marxista, já devidamente condenada pela Igreja Católica, e que se auto-intitula "teologia da libertação". É mais uma escravização ideológica”, afirmou o Deputado.
O desfile blasfemo da Mangueira foi construído a partir de uma visão teológica marxista, já devidamente condenada pela Igreja Católica, e que se auto-intitula "teologia da libertação". É mais uma escravização ideológica.
— Márcio Gualberto (@depmgualberto) February 24, 2020
Outro parlamentar que expressou repudio ao desfile da Mangueira foi Chris Tonietto, Deputada Federal pelo Rio de Janeiro, quem postou na sua rede social Facebook:
"Na letra e nas fantasias, a blasfêmia banalizou-se como nunca na história do carnaval brasileiro (que já traz na memória muitos achincalhes à fé católica). Nosso Senhor Jesus Cristo, apresentado como um "herói das minorias" (minorias estas apresentadas como "oprimidas pela sociedade" no desfile), é representado como homossexual, como mulher, como um criminoso perseguido pela polícia e de diversas outras formas desrespeitosas no malfadado desfile. O mesmo ocorre com sua Santíssima Mãe".
O vilipêndio à fé cristã da esmagadora maioria da população brasileira (condenado no artigo 208 do Código Penal) precisa ter fim, e encontrar uma resposta à altura!", escreveu a deputada.
Por sua parte, o sacerdote da Arquidiocese do Rio de Janeiro, Padre Nivaldo Junior, deixou uma postagem em seu Facebook mostrando indignação frente ao desfile, pedindo que sejam respeitados a fé e os valores cristãos, repudiando em concreto a representação de um Jesus mulher.
Confira:
Deputados pedem retirada de imagem blasfema da Virgem Maria de exposição no Rio https://t.co/zaI42oHUOg
— ACI Digital (@acidigital) February 21, 2020