O arcebispo de São Francisco, na Califórnia, dom Salvatore Cordileone, disse que a missa tradicional em latim vai continuar a acontecer em sua diocese.

Ontem, 16 de julho, o papa Francisco publicou o motu proprio Traditionis custodes que restringe o uso da missa tradicional a igrejas que não sejam paróquias determinadas pelo bispo de cada diocese. O motu proprio revoga a licença concedida pelo papa emérito Bento XVI a todos os padres de usar o rito anterior à reforma ditada pelo Concílio Vaticano II. Francisco submeteu esse uso à aprovação dos bispos.

“A missa é um milagre em qualquer forma: Cristo vem a nós na carne sob a aparência de pão e vinho. Unidade sob Cristo é o que importa. Portanto, a missa tradicional latina vai continuar disponível aqui na arquidiocese de São Francisco e oferecida em resposta às legítimas necessidades e desejos dos fiéis”, disse o arcebispo à CNA, agência em inglês do grupo ACI. O arcebispo Cordileone já celebrou ele mesmo o rito antigo da missa na catedral de São Francisco e na basílica do Imaculado Coração em Washington DC.

Outros bispos dos EUA disseram à CNA que a missa latina continuará em suas dioceses. “Quanto à celebração da liturgia romana anterior às reformas de 1970, eu gostaria de reiterar o grande bem pastoral e espiritual que foi experimentado por aqueles que estiveram ou estão ligados a esta forma de liturgia. Também gostaria de reconhecer as muitas contribuições valiosas feitas para a vida da Igreja através dessas celebrações”, disse o bispo Edward Scharfenberger, de Albany, capital do Estado de Nova York.

Scharfenberger e outros bispos foram consultados no ano passado sobre a missa tradicional em latim. O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Luis Ladaria, escreveu aos presidentes das conferências episcopais em março de 2020, pedindo-lhes que distribuíssem um questionário que incluía perguntas como "Na sua opinião, existem aspectos positivos ou negativos na utilização da forma extraordinária?" e "Como é que o motu proprio Summorum Pontificum teve influência na vida dos seminários (ou no seminário da diocese) e outras casas de formação?” O questionário perguntava também se a forma extraordinária respondia "a uma verdadeira necessidade pastoral" ou se era "promovida por um único sacerdote". Pedia-se aos bispos que dissessem se utilizaram pessoalmente o missal de 1962 e que conselhos dariam sobre a missa em latim. Na carta enviada com o questionário, Ladaria disse: "Treze anos após a publicação do motu proprio Summorum Pontificum emitido pelo papa Bento XVI, Sua Santidade o papa Francisco deseja ser informado sobre a aplicação atual do referido documento". As respostas a esse questionário mostraram, segundo o papa Francisco, “a necessidade de intervir”, o que ele fez com as restrições impostas pela Traditionis custodes.

Scharfenberger diz que os questionários foram “devidamente preenchidos e enviados” “Até onde sei, nenhum sumário das várias respostas dos bispos tenha sido fornecido até agora”.

Desde maio, durante a assembleia plenária da conferência episcopal italiana, sabia-se que o papa preparava restrições ao uso da missa tradicional. Em conversa com os bispos, Francisco falou, sem detalhes, sobre os novos regulamentos, segundo apurou a ACI Stampa, agência em italiano do grupo ACI, com dois bispos que participaram da conversa.

Logo depois, que essa notícia foi dada, o bispo emérito de Hong Kong, cardeal Joseph Zen, se disse contrário a restrições ao uso do missa pré-Vaticano II, dizendo que ele não causava divisão na Igreja, a principal alegação de Francisco para as restrições agora impostas. "Pelo contrário”, disse Zen sobre o rito tridentino, “ele nos une aos nossos irmãos e irmãs de todas as idades, aos santos e mártires de todos os tempos, àqueles que lutaram pela sua fé e que encontraram nela um alimento espiritual inesgotável".

O cardeal Robert Sarah, substituído como prefeito da Congregação do Culto Divino do Vaticano em fevereiro deste ano, defendeu o Summorum pontificum em vários tuítes de sua conta no dia 8 de julho. "Seguindo o motu proprio Summorum pontificum, apesar das dificuldades e resistência, a Igreja enveredou-se por um caminho de reforma litúrgica e espiritual, que, embora lento, é irreversível".

Na conversa com os bispos italianos, o papa Francisco teria dito que agiria a pedido de muitos bispos descontentes com a presença da liturgia tradicional em suas dioceses. "Apesar de atitudes clericais intransigentes em oposição à venerável liturgia latino gregoriana, atitudes típicas do clericalismo que o papa Francisco tem denunciado repetidamente, uma nova geração de jovens emergiu no coração da Igreja", tuitou Sarah. "Esta geração é uma das famílias jovens, que demonstram que esta liturgia tem um futuro porque tem um passado, uma história de santidade e beleza que não pode ser apagada ou abolida da noite para o dia".

As restrições ao rito antigo começaram em março deste ano quando a basílica de São Pedro proibiu a missa tridentina na nave principal, restringindo-a a uma única capela no subsolo da basílica.

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