A arquidiocese de São João de Terra Nova, no Canadá, anunciou a venda de 42 propriedades, incluindo 12 igrejas, para indenizar vítimas de abuso físico e sexual no antigo orfanato católico de Mount Cashel.

O orfanato era administrado pela Congregação dos Irmãos Cristãos e ficou conhecido por um escândalo de abuso sexual e acobertamento pela Polícia Real de Terra Nova.

Em 1987, homens que tinham crescido no orfanato denunciaram terem sido vítimas de abuso físico e sexual entre os anos 1950 e 1970. Segundo eles, a arquidiocese tomou conhecimento do abuso, removeu os religiosos culpados, mas não tomou nenhuma outra ação.

Em 1989, a arquidiocese de São João de Terra Nova encomendou uma investigação sobre o abuso sexual de crianças. A comissão responsável criticou duramente a administração arquidiocesana pelo tratamento das denúncias, dizendo que adotou uma política de resposta “mínima”, que muitas vezes não passava de enviar os criminosos para fora da província.

O arcebispo local na época, dom Alphonsus Penney, renunciou por causa das acusações da comissão.

O escândalo de abuso foi revelado ao público no mesmo ano, resultando no fechamento do orfanato em 1990. O prédio foi demolido em 1992 e o terreno vendido como parte de um acordo judicial ordenando compensação financeira para as vítimas.

Os Irmãos Cristãos se desculparam formalmente com as vítimas em 1992 e depois pagaram US$ 16 milhões em indenização. Alguns dos perpetradores foram condenados pela justiça canadense.

“Esta venda de igrejas e a correspondente fusão de paróquias é um processo angustiante e emotivo para todo o povo e para o clero”, disse o arcebispo de São João de Terra Nova, Peter Hundt, num comunicado divulgado em 16 de julho.

Esta semana o Tribunal Superior da província de Terra Nova e Labrador autorizou a venda dos imóveis, que custam aproximadamente 20,6 milhões de dólares canadenses (cerca de 87 milhões de reais).

O comunicado arquidiocesano diz que está planejada a venda de outras "70 propriedades da igreja localizadas nas regiões de Burin e Avalon do Sul", que incluem "todas as igrejas paroquiais, salões e reitorias restantes".

Dom Hundt disse que este processo “traz consigo sentimentos de raiva, perda, tristeza e, para algumas pessoas, às vezes até uma sensação de desesperança”.

“Durante este momento difícil e desafiador, sou extremamente grato a todos os padres e paroquianos, que estão trabalhando arduamente para levar adiante este processo pelo qual buscamos cumprir nossas obrigações legais para com as vítimas de abuso e reestruturar nossa diocese de maneira positiva e sustentável", continuou.

Por fim, dom Hundt pediu aos fiéis que continuem se unindo a ele "para rezar pela graça curativa de Deus para as vítimas de abuso e pelos dons de compreensão, sabedoria e paciência para todos nós, enquanto continuamos passando por este momento de reestruturação e mudança”.

Confira também: