O rosário se tornou um símbolo do extremismo violento de direita nos Estados Unidos, diz artigo publicado no domingo (14) em The Atlantic, uma das revistas mais importantes e antigas dos EUA.

O artigo na revista que sai dez vezes por ano desde 1857 com artigos sobre política e cultura desencadeou um frenesi de reações entre os católicos. Alguns reagiram com humor, outros se disseram preocupados com o que consideram um sentimento anticatólico.

A revista mudou o título do artigo. Logo que apareceu era: "Como o rosário se tornou um símbolo extremista". Depois, virou: "Como a cultura extremista de armas está tentando cooptar o rosário". Uma imagem de buracos de bala em forma de rosário foi substituída pela imagem de um rosário.

As mudanças deixaram intacta a tese do artigo de que há uma conexão entre o rosário e o extremismo. A alegação do autor foi baseada, em parte, em suas observações sobre o uso do rosário nas redes sociais e rosários vendidos online.

“O rosário adquiriu um significado militarista para os católicos radicais-tradicionais (ou “rad trad”)”, escreve Daniel Panneton sobre o sacramental que vem sendo usado por católicos há séculos.

“A cultura da milícia, um fetichismo da civilização ocidental e as ansiedades masculinistas tornaram-se os pilares da extrema direita nos EUA – e os católicos radicais agora passaram a residir nessa companhia”, escreve Panneton.

Solicitado a comentar o artigo, Robert P. George, professor de teoria política da Universidade Princeton e ex-presidente da Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos (USCIRF), disse à CNA: "Parece-me que quem está politizando o rosário e tratando-o como uma arma na guerra cultural é ... Daniel Panneton. Eu não sei nada sobre o sujeito além do que ele diz no artigo. Eu nunca tinha ouvido falar dele. Embora seja difícil não ver os clichês anticatólicos clássicos talvez ele não seja um intolerante. Talvez ele apenas esteja estressado e precise tomar uma ou duas aspirinas e deitar um pouco”.

Chad Pecknold, professor de teologia da Universidade Católica da América, disse à CNA que a publicação do artigo aponta para um conflito "teopolítico" na cultura.

"O núcleo politicamente de elite na mídia liberal de esquerda odeia a civilização ocidental e eles pretendem derrubar todos os sinais naturais e sobrenaturais dela. que é teologicamente central para a civilização que eles sentem que mais ameaça seu zigurate progressivo. É um sinal do conflito teopolítico que agora nos domina; mesmo assim, eles subestimam severamente o poder de Nossa Senhora de reinar vitoriosa sobre o mal", disse Pecknold.

O padre Pius Pietrzyk, OP, dominicano, disse à CNA: "O artigo é uma longa lista de imprecisões, falácias lógicas e distorções".

Para ele, o autor não consegue entender que "a noção de 'combate espiritual' tem estado com a Igreja desde tempos imemoriais. Lembre-se de que uma visão tradicional da Confirmação é que ela fez de alguém um 'soldado de Cristo'".

 

"O problema é que o The Atlantic parece não entender o que significa metáfora. De forma alguma, a noção de rosário como 'combate' implica violência física", acrescentou Pietrzyk.

No Twitter, o padre Aquinas Guilbeau, OP, reagiu ao artigo com uma foto de dois frades vestidos de branco usando seus tradicionais rosários em volta da cintura. “AVISO: A imagem abaixo contém rosários”, dizia a legenda.

O romancista e ensaísta Walter Kirn comentou que o próprio artigo do The Atlantic serve como um exemplo de “extremismo”.

Eduard Habsburg, embaixador da Hungria na Santa Sé, reagiu reconhecendo que o rosário é de fato uma arma – usada há séculos contra o mal.

Panneton deixa claro em seu artigo que não se trata apenas do rosário. Ao longo de sua argumentação, ele se refere às crenças católicas como evidência de “extremismo”.

Ele vê visões extremas sobre masculinidade na fé católica. Ele escreve: “O militarismo também glorifica uma mentalidade guerreira e noções de masculinidade e força masculina. Essa fusão do masculino e do militar está enraizada em ansiedades mais amplas sobre a masculinidade católica”.

“Mas entre os homens católicos radicais-tradicionais, essas preocupações tomam um rumo extremista, enraizadas em fantasias de defender violentamente a família e a igreja de saqueadores”, continua ele.

A defesa da Igreja do direito à vida dos nascituros também é evidência de laços com extremistas de direita, segundo Panneton. “A convergência dentro do nacionalismo cristão é cimentada em causas comuns, como a hostilidade em relação aos defensores do direito ao aborto”, escreve ele.

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Pietrzyk, o padre dominicano entrevistado pela CNA, disse: "O autor toma posições católicas básicas sobre a natureza da Igreja, a moralidade cristã e coisas semelhantes, e afirma que elas são de alguma forma 'extremistas'. Este é um desvio clássico."

Desde 1571, os papas exortam os católicos a rezar o rosário. Ao fazê-lo, muitas vezes empregaram termos militares para essas “armas” de oração. Em 1893, o Papa Leão XIII viu o rosário como um antídoto para os males da desigualdade nascidos da Revolução Industrial e, durante a Segunda Guerra Mundial, Pio XI exortou os fiéis a rezá-lo na esperança de que “os inimigos do nome divino (... ) possam finalmente ser dobrados e levados à penitência e retornar ao caminho reto, confiando no cuidado e proteção de Maria”.

Mais recentemente, o Papa São João Paulo II, o Papa Bento XVI e o Papa Francisco recomendaram o rosário como uma poderosa ferramenta espiritual.

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