O bispo emérito de Hong Kong, de 90 anos, teria sido detido em 11 de maio por seu papel como administrador do 612 Humanitarian Relief Fund (Fundo de ajuda Humanitária 612), que ajudou manifestantes pró-democracia a pagar despesas judiciais em suas defesas.

O jornal Standard informou que os administradores do fundo foram presos na noite de quarta-feira. O fundo, iniciado em 2019, foi dissolvido no ano passado depois que a polícia de segurança nacional ordenou que compartilhasse detalhes operacionais, disse o jornal.

Zen, que deixou o cargo de bispo de Hong Kong em 2009, é um defensor declarado do movimento pró-democracia.

Em 2020, a Lei de Segurança Nacional entrou em vigor, criminalizando como “sedição” e “conluio estrangeiro” liberdades civis antes protegidas. Hong Kong passou do domínio britânico para o do governo comunista de Pequim em 1999. Um acordo entre China e Reino Unido garantia liberdades civis e políticas em Hong Kong que não existem na China continental. A lei de 2020 foi um passo importante na diminuição dessas liberdades e na subordinação de Hong Kong a Pequim. Desde 2018 há um acordo entre a Santa Sé e Pequim cujo conteúdo é secreto, mas que dá ao governo comunista chinês poder na nomeação de bispos. O acordo visava regularizar a situação da igreja na China. O governo comunista só reconhece a igreja oficial, cujos bispos são escolhidos pelo partido. A Santa Sé, até o acordo assinado pelo papa Francisco, só reconhecia a Igreja clandestina. O acordo não alterou o padrão de perseguição aos católicos na China ou em Hong Kong.

Antes da implementação da Lei de Segurança Nacional, Zen e muitos outros católicos disseram que ela seria usada para silenciar a Igreja em Hong Kong.

A prisão de Zen é um dilema para a Santa Sé, que, em função do acordo com a China, evitou críticas públicas à repressão violenta do movimento pró-democracia em Hong Kong. O arcebispo Paul Gallagher, o equivalente da Santa Sé a um ministro das Relações Exteriores, disse em junho de 2021 que não estava convencido de que falar sobre a situação em Hong Kong faria diferença.

Benedict Rogers, ativista britânico de direitos humanos, lamentou as prisões. Rogers, fundador da ONG Hong Kong Watch e convertido ao catolicismo, disse: “Condenamos as prisões desses ativistas cujo suposto ‘crime’ foi financiar assistência jurídica para manifestantes pró-democracia em 2019. As prisões de hoje sinalizam, sem sombra de dúvida, que Pequim pretende intensificar sua repressão aos direitos e liberdades básicos em Hong Kong. Pedimos à comunidade internacional que ilumine essa repressão brutal e exigimos a libertação imediata desses ativistas.”

O Grupo Parlamentar de Todos os Partidos para a Liberdade de Religião ou Crença, um grupo interpartidário de parlamentares do Reino Unido, também condenou a prisão de Zen. “Este é mais um exemplo das crescentes restrições da China aos direitos humanos fundamentais”, disse um post do grupo no Twitter.

David Alton, membro independente da Câmara dos Lordes, a câmara alta do Parlamento do Reino Unido, descreveu a prisão do cardeal como “um ato de intimidação ultrajante”.

No início desta semana, John Lee foi nomeado executivo-chefe de Hong Kong, sucedendo Carrie Lam, que ocupou o cargo desde 2017. Tanto Lee quanto Lam são católicos batizados.

O bispo de Hong Kong, o jesuíta Stephen Chow Sau-yan, assumiu o comando de sua diocese em dezembro de 2021. Em sua primeira entrevista, publicada em fevereiro deste ano, ele destacou a importância de proteger a dignidade humana.

 

“Acho inaceitável que a dignidade humana seja ignorada, pisoteada ou eliminada completamente. Deus nos deu essa dignidade quando nos criou à sua imagem e semelhança. E, portanto, é universal porque vem do amor de Deus”, disse Chow.

Em março, o Papa Francisco gravou uma breve mensagem em vídeo para os católicos em Hong Kong. “Desejo que sejam bons cidadãos e que sejam corajosos diante dos desafios da época”, disse.

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