O Bispo de Pemba, Dom Luiz Fernando Lisboa, falou durante reunião do Parlamento Europeu na quinta-feira, 3 de dezembro, e apresentou a situação de urgência humanitária vivida em Moçambique, onde os ataques terroristas já deixaram milhares de mortos e deslocados.

O Prelado brasileiro participou da reunião por videoconferência e descreveu a situação da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, onde, segundo ele, “há 3 anos começou uma guerra com homens armados e desde então já temos mais de 2 mil mortos e mais de 500 mil deslocados. Mais de meio milhão de pessoas deslocadas…”.

“É uma tragédia humana, é uma crise humanitária muito forte porque as pessoas, a maioria, saiu [de suas casas] deixando tudo para trás. Saiu das suas aldeias e deixou tudo para trás”, relatou.

De acordo com Dom Lisboa, muitas pessoas “tiveram as suas casas e os seus bens queimados, muitos perderam entes queridos, familiares, tem também meninas raptadas… Alguns pais reclamam que há muito tempo não veem as suas filhas, porque muitas meninas foram raptadas”.

Diante dessa situação, o Bispo de Pemba indicou que a população tem muitas necessidades. “Não param de chegar pessoas em vários distritos e nós estamos tentando atender nas necessidades mais básicas, que é a alimentação, água, roupas, esteiras, cobertores, arranjar um lugar para ficar”.

Nesse sentido, agradeceu a ajuda solidária que recebe de países como Brasil, Portugal e Espanha. Porém, ressaltou que não é o suficiente, “porque são 500 mil pessoas”. “As nossas cidades estão superlotadas e inclusive começam a sair da província, estão já em outras províncias vizinhas e há informação de que já chegaram ao centro do país e até na cidade capital. Então, nós precisamos de apoio, de ajuda, para que essas famílias sejam atendidas condignamente”, acrescentou.

Uma guerra que traz sofrimento

Em uma recente entrevista à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), Dom Luiz Fernando Lisboa afirmou que o que se vive em Cabo Delgado é uma situação de “guerra”. “É uma guerra que tem trazido muito sofrimento a todos nós”, declarou.

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Segundo ele, tudo começou “com um ataque ao posto policial, depois às aldeias distantes, passando pelas aldeias maiores até chegar ao centro das cidades”. Em três anos, contou, “quatro cidades já foram praticamente esvaziadas”, devido aos ataques perpetrados por terroristas que reivindicam ser do Estado Islâmico.

Um dos últimos ataques ocorreu contra a missão de Nangologo, a segunda maior da Diocese de Pemba. Dom Lisboa relatou que a missão “foi totalmente destruída, a Igreja, a casa dos padres, a casa das irmãs, a rádio comunitária, o ambulatório”.

Entretanto, o Prelado assinalou que “os cristãos não são o principal alvo dos terroristas”. Nesse sentido, recorodu que “já foram queimadas muitas igrejas cristãs importantes como essa que eu citei, a missão de Nangololo. A igreja histórica de Mocímboa da Praia foi toda queimada e muitas capelas rurais. Mas também foram queimadas mesquitas”.

Dom Lisboa disse que, “assim como foram mortos catequistas, animadores de comunidades, assim como foram presas duas religiosas, também foi morto um chefe muçulmano e outras lideranças”.

“Entre os líderes religiosos aqui em Cabo Delgado, em Moçambique, nós temos um bom relacionamento e nunca houve problema entre nós. Os próprios muçulmanos se distanciam dessa guerra e não aceitam que tentem atribuir uma guerra por motivos religiosos. Eles dizem que estão usando a capa da religião para esconder outros interesses que são sobretudo interesses econômicos”, afirmou.

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