REDAÇÃO CENTRAL, 17 de ago de 2020 às 14:35
“Por que não foi permitido esse bebê viver?”. Este foi o questionamento levantado pelo presidente da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Ricardo Hoepers, frente ao caso do aborto praticado a uma menina de 10 anos, em sua 22ª semana de gestação.
A criança, do município de São Mateus (ES), engravidou após ser estuprada pelo próprio tio. Na sexta-feira, 14 de agosto, a Justiça do Espírito Santo autorizou o aborto, mas a equipe médica do hospital de Vitória, onde estava internada, se recusou a realizar o procedimento.
Entretanto, a menina foi levada para o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiro (CISAM-UPE), no Recife (PE), onde o aborto foi praticado.
Em um artigo publicado no site da CNBB, Dom Hoepers questionou a decisão de praticar o aborto na menina e ressaltou que esta “é uma história que precisa ser esclarecida”.
“Duas crianças que poderiam viver… teve laudo técnico a favor da vida, teve suporte profissional a favor da vida, teve hospital disposto a cuidar até o fim da gestação, tiveram todas as condições de salvar as duas vidas, mas, de repente, uma transferência, de um Estado para o outro, e toda uma mobilização para que o aborto fosse realizado. Nas mãos de quem ficou a tutela dessa menina, quem decidiu tudo por ela?”, perguntou.
O também Bispo de Rio Grande (RS) assinalou que “foram muitos os envolvidos, mas o silêncio e omissão dos órgãos institucionais que têm a prerrogativa de defender a vida, se entregaram às manobras de quem defende a morte de inocentes” e perguntou: “por quê?”.
Em seguida, ressaltou que o “Ministério Público do Espírito Santo, Conselho Tutelar, Secretários Municipais da Saúde de Vitória e Recife e Secretários Estaduais da Saúde do Espírito Santo e de Pernambuco têm muitas explicações a dar à sociedade brasileira”.
“Por que foi rejeitado um laudo técnico de profissionais e o suporte dos mesmos, obrigando o hospital a dar alta e subitamente transferir a menina-mãe para um hospital em outro Estado? Há claramente um abuso de poder que merece ser investigado”, assinalou.
Além disso, o Prelado destacou que “a violência do estupro e do abuso sexual é infame e horrenda, mas a violência do aborto provocado em um ser inocente e sem defesa é tão terrível quanto. Ambos são crimes”.
“Hoje faço uma prece por todas as crianças que gostariam nascer, brincar, chorar e viver, mas, foram assassinadas antes de nascer! Esperamos explicações e respostas sobre esse caso. Chega de violência! Não ao aborto! Escolhe, pois, a vida (Dt, 30,19)”, completou.
Além de Dom Ricardo Hoepers, outros prelados brasileiros se manifestaram sobre o caso, entre os quais Dom Paulo Bosi Dal’Bó, Bispo de São Mateus (ES), cidade natal da menina.
Em nota publicada nesta segunda-feira, o Prelado informou que, desde que tomou conhecimento do caso, a Diocese realizou “todos os esforços necessários, através de vias legais, para tentar auxiliar da melhor forma possível e encontrar uma solução na qual se preservasse as duas vidas”, tudo com os cuidados para “não expor ainda mais a criança e sua família”.
Segundo ele, “uma equipe de profissionais (dos Estados de São Paulo e Espírito Santo) após uma frutuosa reunião com o bispo e com um padre (professor de Teologia Moral), protocolou junto ao Fórum do município um ofício no qual ofereceu-se uma estrutura hospitalar e de assistência social, capaz de responder com profissionalismo, ética e humanismo às necessidades do caso específico. A família da gestante foi visitada pessoalmente a fim de ser informada de todas as possibilidades de ajuda tão necessárias no momento”.
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“Muito triste e lamentável, enquanto preparo-me para soltar esta nota, recebo a notícia que o aborto já foi realizado”, lamentou o Prelado.
Além disso, Dom Paulo Bosi Dal’Bó assinalou que “a proteção da vida humana, desde a concepção, não exclui de forma alguma uma atitude de compaixão, misericórdia e proteção para com o drama da criança estuprada. Mas humanamente falando, não se repara um mal com outro mal”.
“O útero da Vigem Mãe e o Coração de Deus sangram neste momento, assim como está sangrando o meu coração e os de tantos outros defensores da vida. Unamo-nos em oração e peçamos ao Espírito Santo que nos ilumine, assim como também a todos os que têm responsabilidades pela vida neste momento”, exortou.
Também no domingo, 16 de agosto, o Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Antônio Augusto Dias Duarte, que é médico e atuante na área da bioética, publicou um vídeo no qual exortou a levantar “nossas vozes em defesa daquelas vozes que não podem ser ouvidas porque estão sendo sufocadas”.
Nesse sentido, reforçou que “todas as vidas importam, mas importam muito mais as vidas das crianças. Neste caso, da mãe de 10 anos de idade e do bebê, seu filho, já com cinco meses e meio de vida. Todas as vidas importam, mas importam muito mais as vidas frágeis de crianças, seja em sua gestação, na sua infância”.
Por sua vez, o presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, lamentou o ocorrido e sublinhou que este caso encerra dois crimes hediondos. “A violência sexual é terrível, mas a violência do aborto não se explica, diante de todos os recursos existentes e colocados à disposição para garantir a vida das duas crianças”, declarou.
O Prelado ressaltou que “as omissões, o silêncio e as vozes que se levantam a favor de tamanha violência exigem uma profunda reflexão sobre a concepção de ser humano”.
Segundo o site da CNBB, o presidente da entidade pediu “consolação a Deus para todos os envolvidos nessa desafiadora e complexa situação existencial, que feriu de morte a infância, consternando todo o país.
Dom Walmor salientou que “o precioso dom da vida precisa ser, incondicionalmente, respeitado e defendido”.
“Ante a complexidade do ocorrido, devemos ser humildes, reconhecendo as limitações humanas, e sempre compassivos – sejamos sinais do amor de Deus”, disse.
Confira também:
URGENTE: Menina de 10 anos é submetida a um aborto no Brasil https://t.co/Dom8EIVtEe
— ACI Digital (@acidigital) August 17, 2020