BERLIM, 17 de dez de 2019 às 11:00
No início de seu polêmico "processo sinodal", os bispos da Alemanha expressaram seu compromisso de "avaliar" a doutrina católica sobre a homossexualidade e a moral sexual e o que diz respeito aos sacramentos da ordem sacerdotal e do matrimônio.
Após algumas consultas realizadas em Berlim no início do mês, o chefe da Comissão de Matrimônio e Família da Conferência Episcopal Alemã afirmou que os bispos estiveram de acordo em que a homossexualidade é uma "forma normal" da identidade sexual humana.
“A preferência sexual do homem se expressa na puberdade e assume uma orientação heterossexual ou homossexual. Ambas pertencem às formas normais de predisposição sexual, que não podem ou devem ser alteradas com a ajuda de uma socialização específica”, indicou o Arcebispo de Berlim, Dom Heiner Koch, em uma declaração divulgada pela conferência episcopal no dia 5 de dezembro.
O Arcebispo indicou que esses "desenvolvimentos" foram possíveis graças à Amoris laetitia, a exortação apostólica do Papa Francisco sobre o matrimônio e a família. Nesse sentido, disse o Prelado, a Igreja deve considerar os mais recentes avanços científicos e teológicos sobre a sexualidade humana.
A declaração segue uma consulta formal de quatro bispos diocesanos em Berlim sobre o tema “A sexualidade do homem: como deve ser discutida científica e teologicamente; e julgada eclesiologicamente?”, realizada em 5 de dezembro.
Além de Dom Koch, os outros prelados assistentes foram Dom Franz-Josef Bode, Bispo de Osnabrück, Dom Wolfgang Ipolt, Bispo de Görlitz, Dom Peter Kohlgraf, Bispo de Mainz, bem como outros bispos auxiliares da Comissão de Fé e Família do Episcopado, teólogos, médicos e especialistas em direito canônico.
Dom Koch disse que o evento consistiu em uma "discussão sólida apoiada pelas ciências humanas e pela teologia" e que, depois de Amoris laetitia, as relações sexuais de pessoas divorciadas em uma nova união "nem sempre podem ser qualificadas como pecado mortal", por isso, não se justifica a exclusão destas pessoas “da recepção da Eucaristia”.
O Arcebispo de Berlim também disse que o processo sinodal, que deve durar dois anos e que começou em 1º de dezembro, "deve começar sem qualquer posição preconceituosa" sobre o ensinamento da Igreja e sem pontos de vista fixos, mas com uma abertura para levar em conta "os recentes avanços científicos".
Segundo o Prelado, os participantes do evento concordaram que "a sexualidade humana implica uma dimensão de luxúria, procriação e relacionamento" e, como a orientação sexual é considerada invariável, "qualquer forma de discriminação contra pessoas com orientação homossexual" deve ser rejeitada, como “o Papa Francisco destacou explicitamente” em Amoris laetitia.
O comunicado de imprensa dos bispos alemães indica que também foi discutido se o magistério da Igreja estava "atualizado" em relação aos atos homossexuais e se os métodos contraceptivos para "casais casados e não casados" ainda deveriam ser condenados pela Igreja.
Os resultados desta consulta teológica em Berlim serão compartilhados com o processo sinodal por meio de um fórum intitulado "Vida em relações bem-sucedidas: O amor vivo na sexualidade e os casais”, que começará em fevereiro de 2020.
Por outro lado, várias organizações diocesanas e sinodais que são financiadas com o chamado imposto da Igreja ou Kirchensteuer, fizeram diversas exigências públicas para mudar o ensinamento da Igreja a respeito das bênçãos das uniões homossexuais ou da ordenação de mulheres.
Um desses grupos chegou a solicitar inclusive a aprovação do aborto quando "uma mulher ou um casal decidiu fazê-lo".
Em uma entrevista publicada em um site financiado pelos bispos alemães, a subdiretora da Associação das Mulheres Católicas Alemãs (KFD) exigiu que possam receber a ordem sacerdotal e assinalou que “a ordenação sacramental das diaconisas” seria um primeiro bom gesto nesta direção.
A grave crise da Igreja na Alemanha
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Nos primeiros dias de setembro, o Cardeal Reinhard Marx, presidente da Conferência Episcopal Alemã, disse que "pode-se chegar à conclusão de que faz sentido, sob certas condições e em certas regiões, permitir sacerdotes casados". Essas declarações se tornam mais importantes já que o Cardeal participou de 6 a 27 de outubro no Vaticano do Sínodo da Amazônia, cujo documento final propõe a possibilidade de ordenar homens casados como sacerdotes.
Os participantes do Sínodo também aprovaram majoritariamente a proposta para a criação de um rito amazônico e expressaram seu apoio à possibilidade de ordenar diaconisas.
O Cardeal também fez outras declarações controversas nas quais encorajou o acesso à comunhão dos divorciados em nova união, promoveu que os sacerdotes católicos concedam a bênção a casais homossexuais e sugeriu que os leigos pregassem na Missa.
Em uma entrevista em 2018, o vice-presidente da Conferência Episcopal Alemã, Dom Franz-Josef Bode, disse que, se a ordenação de sacerdotes casados na Amazônia for autorizada, os bispos alemães insistirão em ter a mesma permissão. Em janeiro desse ano, ele também disse que era a favor de abençoar casais homossexuais.
Por outro lado, Dom Franz-Josef Overbeck, Bispo de Essen e presidente da Adveniat, instituição de ajuda da Igreja na Alemanha para a América Latina, disse que o Sínodo da Amazônia "é um ponto sem retorno" para a Igreja e que "nada será como antes” depois deste encontro.
O Prelado também apoiou publicamente a “greve das mulheres” contra a Igreja na Alemanha, convocada por um grupo de católicas após o não do Papa Francisco à ordenação de diaconisas.
Em meados de julho deste ano, a Conferência Episcopal da Alemanha divulgou algumas estatísticas do ano de 2018, entre as quais destaca que, no período, mais de 216 mil fiéis decidiram abandonar a Igreja Católica.
Além disso, dos 23 milhões de batizados no país, de uma população total de 83 milhões, a porcentagem daqueles que participam da Missa Dominical é de 9,3%, ou seja, cerca de 2,1 milhões.
No caso dos sacerdotes que servem nas dioceses do país, o número caiu para 1.161 em 2018, quando havia mais de 17.000 no ano 2000.
As estatísticas também indicam que no ano 2000 havia 13.241 paróquias na Alemanha. Em 2018, caíram para 10.045.
As estatísticas de 2018 não fornecem nenhuma informação sobre o sacramento da Reconciliação ou da Confissão, uma prática que parece ter sido quase completamente abandonada pelos católicos do país, incluindo os sacerdotes.
Confira também:
Igreja na Alemanha aprova estatutos do polêmico "processo sinodal" https://t.co/9awoDhdfzI
— ACI Digital (@acidigital) November 26, 2019