A porta-voz da Conferência Episcopal da França (CEF), Karine Dalle, disse que os líderes católicos do país não pretendem negociar com o governo o ensinamento de que o segredo do confessionário é inviolável.

“Não se pode mudar o direito canônico para França, já que ele é internacional”, disse Dalle. “Um padre que violasse hoje o segredo da confissão seria excomungado”.

“Foi isso que o arcebispo Moulins-Beaufort quis dizer na semana passada depois da publicação do relatório Sauvé, quando disse que o segredo da confissão está acima das leis da república”, disse a porta-voz. “Ele falou a verdade, mas essa verdade não é audível na França para quem não é católico, e não é compreensível na França no meio dos debates sobre o assim chamado ‘separatismo religioso’,” tem de uma lei proposta pelo governo e aprovada em abril deste ano alegadamente para fortalecer o caráter secular da república francesa, mas que é acusada de restringir o direito à liberdade religiosa.

Éric de Moulins-Beaufort, arcebispo de Reims e presidente da CEF, foi convidado a uma reunião com o ministro do Interior da França, Gérald Darmann, por causa do comentário sobre a inviolabilidade do confessionário que fez em entrevista à rádio estatala France Info e que causou celeuma.

Depois da reunião, no dia 12 de outubro, relatos na mídia sugeriram que o arcebispo havia aceitado que os padres devessem informar à polícia as confissões de abusos sexuais. Esses relatos causaram consternação entre os católicos.

A lei francesa há muito tempo reconhece as regras da Igreja sobre a confidencialidade do sacramento da confissão, mas o governo liderado pelo presidente Emmanuel Macron contempla a ideia de mudar a lei para confessores, como se fez para advogados e outros profissionais seculares que têm reconhecido pela lei o direito ao segredo do que ficam sabendo de seus clientes.

“Foram introduzidas algumas condições nos segredos profissionais que obrigam alguns profissionais a relatar às autoridades competentes quando um abuso é cometido contra um menor de menos de 15 anos”, disse Dalle.

“O que o ministro Darmann disse é que, no futuro, a inviolabilidade da confissão poderia se encaixar nesse quadro. Não envolveria todo segredo da confissão, é claro, mas eu não sei aonde isso vai levar”. Darmann foi o autor do projeto da lei que trata do “separatismo religioso”.

“Mas se o Estado diz que haveria uma obrigação de quebrar o segredo da confissão, isso significaria que os padres que o fizessem seriam excomungados por Roma”, disse Dalle.

“Haverá certamente alguns ajustes propostos, que Roma vai aceitar ou não. Mas, não, em nenhum caso o arcebispo de Moulins-Beaufort disse que o segredo da confissão vai ser deixado de lado. Ele nunca disse isso.”

Moulins-Beaufort fez seus comentários por causa da publicação de um relatório sobre abusos sexuais na Igreja na França que revelou cerca de 216 mil menores abusados por padres, diáconos, monges ou freiras de 1950 a 2020.

A comissão responsável pelo relatório foi estabelecida pela CEF em novembro de 2018 e liderada por Jean-Marc Sauvé, um funcionário público de alto escalão.

Entre as 45 recomendações feitas pela comissão há um pedido para a Igreja reconsiderar a inviolabilidade da confissão em casos de abuso.

A Santa Sé defende vigorosamente o segredo da confissão diante de leis que obrigam os padres a denunciar o que ouviram aprovadas em vários países do mundo.

Em junho de 2019, a Penitenciária Apostólica publicou documento reafirmando a doutrina da inviolabilidade do confessionário.

“Sabemos que, se essas regras forem adotadas, nenhum abusador vai se confessar. Isso também é problemático.”

“A mesma coisa é verdade para as crianças, para quem a confissão é um lugar para falar. A confissão permite que a palavra da criança seja libertada. E quando a confissão acaba, o padre espera um pouco e então vai até a criança e pergunta se ela pode falar o que disse de novo, dessa vez fora da confissão”, disse Dalle.

“É isso que os antilericais não querem entender”, disse a porta-voz, “porque eles não conhecem todo esse contexto”.

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