PEQUIM, 4 de mar de 2020 às 09:09
Aparecem novas fotos e vídeos que mostram católicos rezando do lado de fora das igrejas fechadas pelo governo na Diocese de Mindong, na China.
As fotos e o vídeo proporcionados à revista Bitter Winter, publicadas em 1º de março, mostram os católicos chineses rezando na escuridão do lado de fora das igrejas fechadas, uma das quais estaria na cidade de Saiqi. A revista também publicou fotos de documentos das autoridades locais que fecham igrejas por razões de segurança contra incêndios e instalam câmeras de vigilância no exterior.
Várias igrejas católicas na Diocese de Mindong foram fechadas pelo governo nos últimos meses. Todos os templos que fecharam, segundo relatórios, estão filiados a sacerdotes e leigos católicos que se negaram a se registrar na Associação Patriótica Católica Chinesa (CPCA, na sigla em inglês), que é aprovada pelo Estado.
Bitter Winter informou que em 16 de janeiro, foram fechadas mais de dez igrejas na diocese, em uma área que continua sendo muito leal à Igreja Católica clandestina.
Estima-se que 90 mil católicos e 69 sacerdotes residem na Diocese de Mindong, a grande maioria dos quais está filiada à Igreja clandestina.
O governo argumentou “medidas de controle contra incêndios deficientes” para cinco das igrejas, disse a revista.
A China abriga mais de dez milhões de católicos, com seis milhões registrados como membros da CPCA, segundo as estatísticas oficiais. Milhões de católicos pertencem à Igreja clandestina, que, ao contrário da CPCA, não é supervisionada pelo Partido Comunista e sempre esteve em comunhão com a Santa Sé.
Um acordo alcançado em setembro de 2018 entre o Vaticano e a China sobre a ordenação dos bispos tinha a intenção de levar a CPCA à comunhão com Roma e unificar a Igreja na China. Segundo alguns relatórios, a perseguição do governo à Igreja clandestina se intensificou depois da assinatura do acordo.
Um relatório de janeiro da Comissão Chinesa dos Estados Unidos indicou que os católicos chineses sofrem “uma crescente perseguição” depois do acordo, onde o regime estava “demolindo igrejas, tirando cruzes e ainda detendo o clero clandestino”. Segundo os relatórios, os sacerdotes e bispos foram detidos ou se esconderam.
De acordo com fotos e vídeos produzidos por Bitter Winter, os membros da igreja de Buxia, na cidade de Saiqi, rezaram às 4h, de 19 de janeiro. No vídeo, gravado no escuro, as velas queimam do lado de fora de um edifício enquanto as pessoas param e cantam.
Outra imagem, da igreja católica de Huanghouli, mostra câmeras de vigilância voltadas para a entrada. Segundo os relatórios, as câmeras foram instaladas depois que o templo foi fechado.
As imagens também revelam um aspecto de “antes e depois” de uma igreja católica na aldeia de Dongzhao, onde, segundo os relatórios, foram retirados o altar, as estátuas e objetos religiosos.
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A residência do bispo diocesano, que foi o lar do ex-bispo Dom Vincent Guo Xijin, também foi fechada. Segundo relatórios, o Prelado ficou sem lar durante meses depois de se negar a se registrar na CPCA.
Este Prelado foi detido pela primeira vez durante a Semana Santa de 2018, depois que se negou a assinar um documento de registro na CPCA. Em setembro de 2018, quando o Vaticano chegou ao acordo provisório com a China, que levou sete bispos ilegítimos à comunhão com Roma, foi pedido a Dom Guo que renunciasse como Bispo de Mindong, o que ele fez, aceitando um posto como bispo auxiliar.
Entretanto, Dom Guo se negou sistematicamente a assinar documentos para se registrar na CPCA, apesar do incentivo do novo Bipo de Mindong, Dom Vicent Zhan Silu.
Depois que Dom Guo se negou a se registrar, as autoridades chinesas fecharam sua residência, aparentemente por violações à segurança contra incêndios e, desde então, informou-se que fugiu da polícia.
Em recente entrevista à CNA – agência em inglês do Grupo ACI –, Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, Bispo Emérito de Hong Kong e crítico do acordo entre o Vaticano e a China, disse que Dom Guo está "na rua".
"Eu disse que poderia ser um exagero que ele estivesse na rua, mas na verdade é certo, porque o governo não permite que ninguém o aceite", disse.
As diretrizes do Vaticano publicadas em junho de 2019 assinalaram que as exigências para o registro civil do clero devem ser realizadas “com a garantia de respeitar a consciência e as profundas convicções católicas das pessoas envolvidas” e que também “compreende e respeita a decisão de quem, conscientemente, decide que não pode se registrar nas presentes condições”.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.
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— ACI Digital (@acidigital) March 3, 2020