A Comissão Independente (CI) para Estudos dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal apresentou hoje (13) seu relatório final. Segundo o documento, foram validados 512 testemunhos sobre casos entre 1950 e 2022. O coordenador da comissão, o psiquiatra Pedro Strecht, disse que esses testemunhos permitem calcular um “número mínimo, muito mínimo, de 4815 vítimas”.

A comissão foi instalada em janeiro de 2022, com apoio da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). O trabalho da CI foi baseado na coleta de testemunhos e análise de arquivos históricos de instituições católicas. Até outubro do ano passado, a comissão recebeu 564 testemunhos, dos quais 512 foram validados.

Para o coordenador da CI, Pedro Strecht, pelos testemunhos é possível calcular uma rede de vítimas “muito mais extensa”. “Não é possível quantificar o número total de crimes”, embora se estime um mínimo de 4815, disse durante coletiva de imprensa na manhã de hoje, na Fundação Calouste Gulbenkian.

O psiquiatra, porém, ressaltou que o número de abusadores no seio da Igreja é “baixo”. “Continua a ser importante não confundir a parte com o todo”, disse.

Segundo o relatório, 48% das vítimas revelaram os abusos pela primeira vez no contato com a comissão.

Os dados revelam que 52% das vítimas são do sexo masculino, a maioria se assume como católico e os locais onde aconteceram os abusos foram, sobretudo, “seminários, colégios internos e instituições de acolhimento, confessionários, sacristia e casas dos padres”. Foram registrados casos de abusos em todos os distritos, com destaque para Lisboa, Porto, Braga, Santarém e Leiria.

O relatório mostrou que 96% dos abusadores eram do sexo masculino e, desses, 77% eram padres na época em que o abuso aconteceu. Além disso, falou em “abusos continuados”.

A maior parte dos casos testemunhados aconteceu entre 1960 e 1990. A idade média das vítimas na época dos abusos é de 11 anos. Atualmente, segundo o relatório, essas vítimas têm, em média, 52 anos.

 “São muito mais do que um número ou uma mera estatística”, disse Pedro Strecht. Para ele, “talvez seja difícil que, a partir de agora, tudo fique igual”.

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A comissão independente enviou 25 casos para o Ministério Público. Além disso, até o final de fevereiro, deverá ser enviada para a Igreja Católica uma lista com o nome dos supostos abusadores ainda vivos.

O psiquiatra Daniel Sampaio, membro da comissão, disse que “não basta um acompanhamento espiritual” dos abusadores, mas é necessária também uma “psicoterapia intensiva”.

O relatório final da CI foi entregue ontem (12) à presidência da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). O bispo de Leiria-Fátima e presidente da CEP, dom José Ornelas, disse que o documento será lido “com toda a atenção” para “fazer jus aos dramas que foram revelados” e à “seriedade” do trabalho desenvolvido.

Está marcada para às 16h (hora local) de hoje uma coletiva de imprensa com dom Ornelas e os membros do Conselho Permanente da CEP sobre o relatório final da CI.

A CEP também já anunciou que, ao final do retiro do episcopado, em 3 de março, fará uma assembleia extraordinária para analisar o relatório.

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