Em sintonia com a Carta Encíclica Laudato Sì, na qual o Papa Francisco escreve sobre o cuidado com a Criação, uma iniciativa surgida no Canadá consegue há 6 anos colocar em prática os ensinamentos do Papa e combater a pobreza ao mesmo tempo promover o cuidado com nossa “casa comum” ao “transformar” plástico que seria despejado no meio ambiente em alimento para os mais necessitados utilizando uma plataforma digital, trata-se do Plastic Bank.

David Katz, fundador e atual CEO da Plastic Bank esteve recentemente no Vaticano e pôde partilhar brevemente com o Papa Francisco como a iniciativa tem sido exitosa em lugares como Haiti e Filipinas, onde pessoas que passam necessidade podem comprar alimentos usando como “moeda” o plástico que provavelmente terminaria nos rios e oceanos destes países. David contou à ACI Digital como teve início o projeto que tem contribuído com desenvolvimento de algumas das periferias mais carentes do planeta.

“Eu cresci numa ilha no Oeste do Canadá e testemunhei como o excesso de plástico vinha parar na praia e como isto afetava o meio ambiente e as nossas vidas diárias. Em certa ocasião, vi o trabalho de um fotógrafo que mostrava o corpo decomposto de milhares de pássaros em ilhas remotas, em concreto o de um filhote de albatroz, cuja mãe não distinguia o plástico do alimento e o alimentou com aqueles pedaços. O filhote morreu porque já não podia regurgitar. Ali havia tanto plástico que a mãe acabou dando o material para o filhote. As pessoas acham que o acúmulo de plástico nos oceanos é um fenômeno recente, mas não é. Eu vi com meus próprios olhos as consequências negativas deste impacto e disse a mim mesmo: isto precisa mudar! Ali eu soube que devia estar ao serviço da Criação”, disse.

“Plastic Bank na verdade é o nome de um projeto que mostra a abundância, aliás, a infinitude de vida que há no amor e no serviço. Nós buscamos apenas criar valor de modo que todas as pessoas involucradas e claro, o nosso meio ambiente, saiam ganhando”, afirmou o canadense após ter cumprimentado o Santo Padre na última Audiência Geral na Praça de São Pedro antes da pausa de verão.

No projeto da Plastic Bank, através de um aplicativo, as pessoas que trouxerem plástico para ser reciclado podem transformar aquela quantidade de material reciclável em recurso para comprar alimentos. Com tecnologia de última geração, o projeto três vezes premiado pela ONU, torna possível que as pessoas necessitadas sejam as primeiras a trazer o que seria descartado para “transformar” aquilo em alimento para ser consumido.

Em sua entrevista a ACI Digital, David Katz ofereceu também algumas cifras alarmantes que retratam os problemas denunciados pelo Papa na Laudato Sí e que segundo o mesmo são consequências da “cultura do descarte” e não só do descarte material, mas também o descarte da dignidade humana.

“Cerca de apenas 10% de todo o lixo jogado nas lixeiras é na verdade reciclado. Todo o resto termina de alguma maneira impactando negativamente o ambiente. Estamos falando de 350 Bilhões de quilos de plástico apenas esse ano!”, asseverou.

Plastic Bank também proverá iniciativas para paróquias, com o fim de envolver os paroquianos, sobretudo os jovens, no trabalho solidário de gerar valor para suas Igrejas locais e ajudá-los a assumir o papel de custodiar a Criação.

“Nossa plataforma está em sintonia com a proposta de vivência do amor de Jesus, ao prover um caminho em que as pessoas se colocam ao serviço umas das outras, gerando valor com o mesmo material que em outras ocasiões seria simplesmente jogado no ambiente. Ademais queremos que os jovens paroquianos se desafiem de forma sadia uns aos outros a trazer cada vez mais material para que este seja vendido e reciclado e assim toda a diocese se enriquece com esta espécie de “competição” onde o ambiente também sai ganhando. A participação de jovens nos nossos projetos é fundamental, só no Haiti temos conseguido dar educação para mais de 200 jovens através de nossa plataforma e a ideia é seguir fazendo muito mais”, afirma o fundador da Plastic Bank que deu ao Papa um presente.

“Nós demos de presente ao Papa um rosário e um bracelete, feitos com as mesmas redes que, assim como trazem alimento, trazem tantas vezes o plástico que nos causa dano. Estes brindes são feitos com materiais recicláveis e nós os vendemos na nossa loja para que os fundos sejam revertidos aos mais necessitados, criando uma cultura de solidariedade”, recorda o fundador e CEO.

“Há lugar para nossa plataforma para que uma paróquia em uma diocese como Lisboa, trazendo plástico cuja reciclagem gere uma valor maior, venha a ajudar uma paróquia no Brasil onde, aliás já temos uma equipe. Trata-se de um verdadeiro aplicativo de banco, trata-se de dinheiro que transferimos digitalmente aonde as pessoas de maior necessidade estão. Assim, promovemos globalmente a solidariedade e buscamos que a próxima geração conheça um ambiente mais de acordo com a Criação divina do que aquele que a nossa geração conheceu e o papel da Igreja é fundamental”, assinalou.

“O Papa Francisco está muito consciente da grave crise ambiental em que vivemos. Nossa época presencia a maior devastação do meio ambiente que o homem já conheceu. Nenhum outro Papa teve que lidar com o problema neste nível. Acredito que estamos lidando com a maior ameaça à humanidade de toda a nossa existência e que o planeta ficará bem e seguirá onde está, nós porém, para existir nele, teremos que pagar um alto preço. E isto afeta a todos e requer de todos uma resposta”, concluiu.

Para conhecer a iniciativa, visite:

https://www.plasticbank.com/

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