No segundo dia da viagem a Eslováquia, o papa Francisco se encontrou com um grupo de jovens no Estádio Lokomotiva, na cidade Kosice. O pontífice escutou alguns testemunhos e pronunciou um discurso.

A seguir, o discurso completo do papa Francisco:

Queridos jovens, amados irmãos e irmãs, dobrý večer [boa tarde]!

Causou-me alegria ouvir as palavras de D. Bernard, os vossos testemunhos e as vossas perguntas. Fizestes-me três às quais gostaria de encontrar resposta juntamente convosco.

Começo por Peter e Zuzka, com a vossa pergunta sobre o amor no casal. O amor é o maior sonho da vida, mas custa. É lindo, mas não é fácil, como aliás todas as coisas grandes da vida. É o sonho por excelência, mas não é um sonho fácil de interpretar. Roubo-vos uma frase: «Começamos a perceber este dom com olhos totalmente novos».

Na verdade, como dissestes, são necessários olhos novos, olhos que não se deixam enganar pelas aparências. Amigos, não banalizemos o amor, porque o amor não é só emoção e sentimento; isto, quando muito, será o início. O amor não é ter tudo e súbito, não obedece à lógica do usa e lança fora. O amor é fidelidade, dom, responsabilidade.

Hoje a verdadeira originalidade, a verdadeira revolução é rebelar-se contra a cultura do provisório, é ir além do instinto e do instante, é amar por toda a vida e com todo o próprio ser. Não estamos cá para ir vivendo, mas para fazer da vida um empreendimento grandioso. Todos vós tereis em mente grandes histórias que lestes nos romances, vistes em algum filme inesquecível, ouvistes em algum conto comovente.

Se pensardes bem, nas grandes histórias há sempre dois ingredientes: um é o amor, outro é a aventura, o heroísmo. Andam sempre juntos. Para tornar grande a vida, precisamos de ambos: amor e heroísmo. Fixemos Jesus, contemplemos o Crucifixo: estão presentes os dois, um amor sem limites e a coragem de dar a vida até ao fim, sem meias medidas. Aqui, diante dos nossos olhos, temos a Beata Ana (Kolesárová), uma heroína do amor. Diz-nos para apostarmos em metas altas. Por favor, não deixemos transcorrer os dias da vida como episódios de uma telenovela.

Por isso, quando sonhardes o amor, não acrediteis nos efeitos especiais, mas que cada um de vós é especial. Cada qual é um dom, e pode fazer da vida um dom. Esperam-vos os outros, a sociedade, os pobres. Sonhai uma beleza que vá para além da aparência, para além das tendências da moda. Sem medo, sonhai formar uma família, gerar e educar filhos, passar uma vida inteira partilhando tudo com outra pessoa, sem vos envergonhardes das próprias fragilidades, porque existe ele, ou ela, que as acolhe e ama, que te ama tal como és. Os sonhos que temos, dizem-nos a vida que desejamos. Os grandes sonhos não são o carro potente, o vestido da moda ou as férias extravagantes. Não deis ouvidos a quem vos fala de sonhos e, em vez disso, vende-vos ilusões: são manipuladores de felicidade. Fomos criados para uma alegria maior: cada um de nós é único e está no mundo para se sentir amado na sua singularidade e amar os outros como ninguém o pode fazer no seu lugar. Não se vive sentado no banco de suplentes, à espera de substituir qualquer outro. Não! Cada um é único aos olhos de Deus. Não vos deixeis «homogeneizar»: não somos feitos em série, somos únicos e livres, e estamos no mundo para viver uma história de amor com Deus, para ter a ousadia de decisões grandes, para nos aventurarmos no risco maravilhoso de amar. Eu vos pergunto: Acreditais nisto? Eu vos pergunto: E sonhais isto?

Gostaria de vos dar outro conselho. Para que o amor dê fruto, não esqueçais as raízes. Quais são as vossas raízes? Os pais e sobretudo os avós: prepararam-vos o terreno. Regai as raízes, ide ter com os avós: far-vos-á bem. Fazei-lhes perguntas, reservai tempo para ouvir as suas histórias. Hoje há o perigo de crescer desenraizados, porque temos tendência a correr, a fazer tudo depressa: aquilo que vemos na internet pode chegar-nos imediatamente a casa; basta um clique e aparecem no visor pessoas e coisas. Depois acontece tornarem-se mais familiares do que os rostos que nos geraram. Cheios de mensagens virtuais, corremos o risco de perder as raízes reais. Desligar-nos da vida real, fantasiar no vazio, não faz bem; é uma tentação do maligno. Deus quer-nos bem assentes na terra, ligados à vida; nunca fechados, mas sempre abertos a todos. Enraizados e abertos. Vocês entenderam? Enraizados e abertos.

Mas – observar-me-eis – o mundo pensa de forma diferente. Fala-se muito de amor, mas na realidade vigora outro princípio: cada um pense por si. Queridos jovens, não vos deixeis condicionar por isto, pelo que está errado, pelo mal que alastra. Não vos deixeis prender pela tristeza ou pelo desânimo resignado de quem diz que nada mudará jamais. Se dermos crédito a isto, adoecemos de pessimismo.

E vocês, já viram um jovem pessimista? Viram que rosto tem? Um rosto amarelado, um rosto amargo. O pessimismo te deixa doente de amargura. Envelhece-se por dentro. Envelhece-se jovem. Hoje há tantas forças desagregadoras, tantos que culpam tudo e todos, amplificadores de negatividade, profissionais de lamentações. Não lhes deis ouvidos, porque a lamentação e o pessimismo não são cristãos; o Senhor detesta a tristeza e o fazer-se de vítima. Não estamos feitos para fixar a face na terra, mas para levantar o olhar ao céu, aos outros, à sociedade.

E, quando nos sentirmos em baixo, porque todos na vida temos uns momentos um pouco baixos, todos conhecemos esta experiência. E quando estamos caídos, que podemos fazer? Há um remédio infalível para erguer-se. Aquilo que nos referistes tu, Petra: a Confissão. Perguntaste-me: «Como pode um jovem ultrapassar os obstáculos no caminho para a misericórdia de Deus?».

 Também aqui é uma questão de olhar, de olhar o que é mais importante. Se vos perguntar «em que pensais quando vos ides confessar?», tenho quase a certeza da resposta: «nos pecados». Mas – pergunto-vos – são verdadeiramente os pecados o centro da Confissão? Deus quer que te aproximes d’Ele pensando em ti, nos teus pecados, ou n’Ele? O que Deus quer: N’Ele! Qual é o centro: os pecados ou o Pai que perdoa todos os pecados? O Pai! Não vamos confessar-nos como pessoas castigadas que se devem humilhar, mas como filhos que correm para receber o abraço do Pai. E o Pai levanta-nos em qualquer situação, perdoa-nos todos os pecados. Escutem bem isso: Deus perdoa sempre! Compreenderam? Deus perdoa sempre!

Deixo-vos um pequeno conselho: depois de cada Confissão, permanecei alguns momentos a recordar o perdão que recebestes. Guardai aquela paz no coração, aquela liberdade que sentis dentro de vós: não os pecados, que já não existem, mas o perdão que Deus vos deu. a carícia de Deus Pai. Este, guardai-o; não deixeis que vo-lo roubem. E na próxima vez que vos fordes confessar, lembrai-vos disto: vou receber de novo aquele abraço que me fez muito bem. Não vou a um juiz para regularizar as contas; vou a Jesus que me ama e cura. Neste momento, deixe-me dar um conselho aos sacerdotes. Eu diria aos sacerdotes que se sentem no lugar de Deus Pai, que sempre perdoa, abraça e recebe.

Demos a Deus o primeiro lugar na Confissão. Se o protagonista for Ele, tudo se torna belo e confessar-se torna-se o sacramento da alegria. Sim, da alegria: não do medo e do julgamento, mas da alegria. E é importante que os padres sejam misericordiosos. Nunca curiosos, nunca inquisidores, por favor, mas irmãos que dão o perdão do Pai, que sejam irmãos que acompanham neste abraço do Pai.

Mas alguém poderia dizer: «Seja como for, eu sinto vergonha; não consigo superar a vergonha de me ir confessar». Não é um problema; trata-se de uma coisa boa. Se te envergonhas, quer dizer que não aceitas aquilo que fizeste. A vergonha é um bom sinal, mas, como qualquer sinal, convida a ir mais longe. Não fiques prisioneiro da vergonha, porque Deus nunca Se envergonha de ti. Ama-te mesmo no ponto em que te envergonhas de ti mesmo. E ama-te sempre.

E digo outra coisa, na minha terra aqueles que são de fachada, que fazem tudo errado, nós os chamamos de “sem-vergonhas”.

Uma última dúvida: «Não consigo perdoar-me, pelo que nem sequer Deus poderá perdoar-me, pois cairei sempre nos mesmos pecados». Ouve! Mas Deus, quando é que Se ofende? Quando Lhe vais pedir perdão? Não! Nunca Se ofende... Deus sofre quando pensamos que Ele não pode perdoar-nos, pois é como se Lhe dissesses: «És fraco no amor». Dizer isto a Deus é feio. Ao contrário, Deus alegra-Se em nos perdoar, todas as vezes.

Quando nos levanta, acredita em nós como na primeira vez. Ele não desanima. Somos nós que desanimamos; Ele não. Não vê pecadores a etiquetar, mas filhos a amar. Não vê pessoas erradas, mas filhos amados; porventura feridos, e então Ele tem ainda mais compaixão e ternura. E de cada vez que nos confessamos – nunca o esqueçais –, faz-se festa no Céu. Seja assim também na terra.

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Por fim... Peter e Lenka, na vida, experimentastes a cruz. Obrigado pelo vosso testemunho. Perguntastes como «encorajar os jovens para não terem medo de abraçar a cruz». Abraçar: é um verbo significativo. Abraçar ajuda a vencer o medo. Quando somos abraçados, readquirimos confiança em nós mesmos e na vida. Então deixemo-nos abraçar por Jesus, pois, quando abraçamos Jesus, reabraçamos a esperança. A cruz, não se pode abraçar por si só; o sofrimento não salva ninguém. É o amor que transforma o sofrimento. Portanto, é com Jesus que se abraça a cruz; nunca sozinho! Se se abraça Jesus, renasce a alegria. E a alegria de Jesus, no sofrimento, transforma-se em paz.

Queridos jovens, desejo-vos esta alegria, mais intensamente do que qualquer outra coisa. Desejo que a leveis aos vossos amigos. Não sermões, mas alegria. Não palavras, mas sorriso, proximidade fraterna. Agradeço-vos por me terdes escutado e peço-vos uma última coisa: não vos esqueçais de rezar por mim. Ďakujem [obrigado]!

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