O ex-cardeal Theodore McCarrick foi acusado de abusar sexualmente de um adolescente pelo sistema de Justiça americano. O crime que teria ocorrido na década de 70, nos Estados Unidos acarreta três acusações contra McCarrick, as primeiras que enfrenta na Justiça comum.

McCarrick foi expulso do estado clerical pelo papa Francisco em 2019, depois que a Santa Sé o considerou culpado de “solicitação no Sacramento da Confissão e pecados contra o Sexto Mandamento com menores e adultos, com o fator agravante de abuso de poder”.

McCarrick enfrenta três acusações de agressão indecente e abuso contra pessoa com mais de 14 anos. A denúncia foi feita no dia 28 de julho em Dedham, em Massachusetts, por um detetive da polícia de Wellesley. O oficial cita uma entrevista de mais de duas horas feita no dia 11 de janeiro de 2021 com uma suposta vítima, e outra, de quatro horas, feita em 25 de janeiro.

McCarrick é acusado de abusar de um menor que na época, 8 de junho de 1974, tinha 16 anos, durante a recepção do casamento do irmão da suposta vítima. Os incidentes teriam ocorrido nas instalações do Wellesley College, uma faculdade no oeste de Boston, Massachusetts.

De acordo com a suposta vítima, McCarrick se aproximou do menor a pedido do seu, preocupado por estar se afastando da Igreja e fazendo “travessuras”. “Precisamos ir lá fora e ter uma conversa”, disse McCarrick, de acordo com os documentos judiciais.

Depois que ambos conversaram e discutiram enquanto caminhavam pelo local, a suposta vítima teria parado para urinar em um arbusto. McCarrick, então, teria tocado o pênis da suposta vítima. Segundo a denúncia, ao voltar à recepção, McCarrick levou o até closet e disse-lhe que ele precisava confessar-se. A suposta vítima disse que “sabia o que ia acontecer” e “não quis fazer uma cena no casamento de seu irmão e incomodar a todos, porque tinha mais respeito por sua mãe, seu pai e seu irmão do que por ele mesmo naquele momento”. McCarrick então teria combinado o abuso sexual com a oração e a confissão.

A vítima disse que McCarrick estudou no liceu de Fordham com seu tio, que o apresentou à família. O avô da vítima “adotou” o agora ex-cardeal, que chegou a participar de viagens da família, além de ter celebrado para ela missas, batizados e funerais.

De acordo com os documentos judiciais, a vítima “denunciou vários incidentes de abuso por parte de McCarrick, a maioria dos quais ocorreu fora de Massachusetts”, em estados como Nova Jersey, Nova York e Califórnia.

McCarrick foi ordenado sacerdote em 1958 e tornou-se bispo auxiliar de Nova York em 1997. Desde 1981, foi bispo de Metuchen, em Nova Jersey, e depois arcebispo de Newark, em 1986.

De 2001 a 2006 foi arcebispo de Washington, onde finalmente se retirou.

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McCarrick foi criado cardeal em 2001, mas renunciou ao colégio de cardeais depois que as acusações de abuso sexual de um menor apareceram, em junho de 2018.

Logo, apareceram denúncias de abuso sexual serial de menores, seminaristas e sacerdotes. McCarrick foi expulso do estado clerical em fevereiro de 2019.

A denúncia penal localiza McCarrick em Dittmer, no estado de Missouri, no Centro de Renovação de Vianney. Segundo a sua página oficial na internet, o centro é “um ambiente seguro e de apoio para a reabilitação e reconciliação de sacerdotes e irmãos religiosos”. Está sob a responsabilidade da congregação Servos do Paráclito, que há muito tempo se dedica ao tratamento de sacerdotes e religiosos com problemas de abuso sexual ou consumo de drogas.

A CNA, agência em inglês do Grupo ACI, noticiou que McCarrick, em 1971, tornou-se o secretário do então arcebispo de Nova York, o cardeal Terence Cooke, e morou na casa curial ao lado da catedral de São Patrício. De acordo com Jeffrey Anderson, conhecido advogado de vítimas de abuso sexual, os abusos denunciados criminalmente teriam ocorrido quando McCarrick morava naquela casa curial.

Nos anos seguintes, ele fez vínculos com famílias católicas da região. McCarrick chamava os filhos adolescentes daquelas famílias de seus “sobrinhos” e “sobrinhas” e aceitava o apelido de “Tio Ted”. Viajava regularmente com adolescentes, inclusive à noite.

A desonra pública de McCarrick em 2018 e sua expulsão do estado clerical um ano depois surpreendeu os católicos nos Estados Unidos e no resto do mundo, desatando uma crise internacional na hierarquia da Igreja. Por esse motivo, o papa Francisco convocou uma reunião sem precedentes dos bispos de todo o mundo em 2019 para abordar temas de abuso sexual e a responsabilidade da Igreja.

As consequências das acusações contra McCarrick em 2018, além dos relatos sobre a omissão de líderes da Igreja que ao longo dos anos souberam dos possíveis casos de má conduta, também contribuíram para que Francisco promulgasse o documento Vos estis lux mundi, uma nova disposição no direito canônico que permite que os bispos sejam investigados e julgados por não atuar ao saber das denúncias.

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