Vaticano, 2 de jun de 2022 às 14:00
O papa Francisco criticou na quarta-feira (1º) as pessoas que “se dizem guardiãs de tradições, mas de tradições mortas”, dizendo que não avançar é perigoso para a Igreja hoje. Francisco falava aos organizadores de uma conferência sobre educação. Para Francisco é vital progredir “extraindo das raízes”.
A conferência foi organizada para avaliar o trabalho realizado até agora em relação ao Pacto Global pela Educação proposto por Francisco.
“Agradeço-vos por tudo o que fazeis a serviço da educação, que é também a contribuição específica que estais a oferecer ao processo sinodal da Igreja. Continuem caminhando nessa direção, do passado para o futuro, crescimento contínuo”, disse.
“E esteja atento ao ‘retrocesso’ tão em voga hoje, que nos faz pensar que, dando um passo atrás, podemos preservar o humanismo”, acrescentou o papa.
Francisco disse que “há a moda – em todas as épocas, mas nesta época da vida da Igreja eu considero perigosa – que em vez de buscar nas raízes para avançar – o que significa boas tradições – nós 'recuamos', não subindo ou descendo, mas para trás”.
“Esse ‘retrocesso’ nos torna uma seita; faz você "fechar" e corta seus horizontes. Essas pessoas se autodenominam guardiãs de tradições, mas de tradições mortas.”
O Papa Francisco sublinhou que “a verdadeira tradição católica cristã e humana … cresce, progride”.
Guardiães da tradição, Traditionis custodes, em latim, é o título e as duas primeiras palavras do motu proprio com o qual o papa restringiu drasticamente o uso da liturgia tradicional, em julho do ano passado. “Guardiães da tradição, os bispos, em comunhão com o bispo de Roma, constituem o princípio visível e o fundamento da unidade nas suas Igrejas particulares”, começa o documento.
Na conferência de quarta-feira, o papa disse que a verdadeira tradição é “o que aquele teólogo do século V descreveu como um crescimento constante: ao longo da história, a tradição cresce, progride: ut annis consolidetur, dilatetur tempore, sublimetur aetate”.
Francisco se referia a são Vicente de Lerins, que escreveu sobre o desenvolvimento do ensinamento da Igreja, dizendo que ele “se solidificou ao longo dos anos, se estendeu com o tempo e refinou com a idade”. O papa já fez essa citação várias vezes desde sua eleição em 2013, inclusive em uma carta sobre a encíclica Amoris laetitia em 2018.
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O papa não mencionou a liturgia ou a doutrina católica em seu discurso de 1º de junho, mas concentrou seu discurso na educação. “A educação, por sua vez, está sempre enraizada no passado, mas não para por aí: é direcionada para ‘iniciativas voltadas para o futuro’, onde o velho e o novo convergem para criar um novo humanismo”, disse.
Francisco disse que a Eneida, de Virgílio, um dos maiores poetas da língua latina, contém uma imagem que “pode servir para ilustrar a missão dos educadores, que são chamados a preservar o passado … e guiar os passos dos jovens para o futuro”.
“Um exemplo eloquente de como enfrentar a crise pode ser encontrado na figura épica de Enéias, que em meio às chamas de sua cidade em chamas, carrega nos ombros seu pai idoso Anquises e pega o jovem filho Ascânio pela mão, levando os dois para a segurança”, disse Francisco.
“Enéias se salva, mas não sozinho. Ele traz consigo seu pai, que representa seu passado, e seu filho, que representa o futuro. E assim ele segue em frente”, acrescentou.
Segundo o papa, essa representação da tradição sendo respeitada e preservada o lembrou o que o compositor austríaco Gustav Mahler (1860-1911) disse: ‘A tradição é a garantia do futuro’, não uma peça de museu.
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— ACI Digital (@acidigital) January 15, 2019