A crescente violência no Haiti e o assassinato do presidente Jovenel Moïse na madrugada desta quarta-feira, 7 de julho, deve ter impacto no fluxo de haitianos que buscam sair do país, disse o padre Paolo Parise, da Missão Paz, que acolhe migrantes em São Paulo (SP).

O preidente Jovenel Moïse, de 53 anos, foi assassinado na madrugada de hoje, 7 de julho, em sua casa, na capital Porto Príncipe. A informação foi confirmada pelo primeiro ministro interino do Haiti, Claude Joseph. “O presidente foi morto na casa dele por estrangeiros que falavam inglês e espanhol. Eles atacaram a residência do presidente da República”, disse. A primeira-dama, Martine Moïse, foi ferida no ataque e está hospitalizada.

Após o ocorrido, Claude Joseph decretou estado de emergência no Haiti, até que seja definido quem assumirá o poder, já que ele é primeiro-ministro interino e o presidente da Suprema Corte, que poderia assumir a Presidência, morreu de covid-19 no mês passado e ainda não foi substituído.

“A situação do Haiti continua há tempos caracterizada por uma grande instabilidade política, com aumento da violência, gangues disputando o território e ultimamente sendo colocada em discussão por alguns grupos a legitimidade do presidente Moïse, que foi assassinado”, disse à ACI Digital o padre Paolo Parise, da Congregação dos Missionários de São Carlos, os scalabrinianos.

Moïse assumiu a presidência do Haiti em 2017 e, desde então, enfrentava protestos, sendo acusado de tentar instalar uma ditadura. Ele foi eleito em outubro de 2015, em meio a eleições conturbadas. O pleito foi anulado e repetido em novembro de 2016, quando Moïse venceu no primeiro turno. O presidente e seus apoiadores, então, afirmavam que seu mandato de cinco anos teve início em 2017. Mas, a oposição afirmava que o mandato teria acabado em fevereiro de 2021 e, por isso, exigia sua renúncia.

O presidente dissolveu o Parlamento e governava por decreto desde janeiro de 2020, já que não houve eleições no Haiti nos últimos anos. Ele também queria promover uma reforma constitucional. Um referendo constitucional estava agendado par abril, mas foi adiado para 27 de junho e depois para 26 de setembro, por causa da pandemia.

Em meio à crise política, o Haitia também viu aumentar a violência, com a luta de gangues contra a polícia por controle das ruas. A tudo isso se soma ainda a pobreza e a escassez de alimentos.

Neste cenário, o padre Parise disse à ACI Digital que “já é grande o número de deslocamentos internos no Haiti, com as pessoas tendo que sair de seus bairros por causa da violência”. Agora, “Podemos prever um maior número de haitianos chegando”, disse o sacerdote que acolhe milhares de migrantes na Missão Paz.

Segundo o padre Parise, atualmente os migrantes haitianos veem o Brasil como “oportunidade de trânsito, a fim de chegar a países como França, Estados Unidos”. Essas pessoas deixam seu país por causa “da pobreza, das tensões sociais e políticas e também questões ambientais, como terremotos”, disse.

Além disso, afirmou que os haitianos “confiam muito na Igreja”, tanto no Haiti como no Brasil. Parise contou que “a maioria dos locais de acolhidas para esses migrantes em São Paulo é da Igreja. E, apesar de a maioria dos migrantes haitianos que chegam ao Brasil ser evangélica, isso não impede que busquem a estrutura da Igreja católica”. Na Missão Paz, por exemplo, de 2010 até hoje já foram acolhidos mais de 25 mil haitianos.

Já no Haiti, padre Parise contou que a Igreja Católica atua “a serviço da vida”. Segundo ele, os scalabrinianos realizam um trabalho que passa pela reconstrução do país, de casas, escolas, hospitais, com projetos desenvolvidos por voluntários e missionários.

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