"Espero de todo meu coração que não haja cisma, e rezo por isso", disse o cardeal Camillo Ruini ao jornal italiano Il Foglio. Ruini, vigário emérito para a Diocese de Roma, fez o comentário em entrevista publicada hoje, 4 de maio, por causa do desafio de padres e bispos alemães à proibição da Santa Sé às bênçãos para uniões homossexuais.

A Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) publicou em 15 de março deste ano um "Responsum ad dubium", uma resposta a uma dúvida, com a aprovação do Papa Francisco. Respondendo à pergunta: "a Igreja tem o poder de abençoar as uniões de pessoas do mesmo sexo"? A CDF respondeu que não.

No dia 10 de maio, na Alemanha, sacerdotes católicos planejam um evento no qual abençoarão uniões do mesmo sexo. O nome da iniciativa é "dia de bênçãos para aqueles que se amam".

“Ninguém na Igreja, tem o poder de abençoar as uniões homossexuais”, disse o cardeal Ruini. “Certamente as pessoas podem ser abençoadas, mas para que se convertam, não para que sejam confirmadas em seu pecado. O próprio Deus abençoa o pecador para que se deixe transformar por Ele e assim supere o pecado, mas Deus não pode abençoar o pecado”.

“Quero sublinhar a força deste posicionamento: Não se trata de algo que a Igreja decidiu não realizar, mas de algo que a Igreja não pode realizar”, afirmou.

"A Igreja hoje é contra toda discriminação injusta de pessoas homossexuais e deseja que elas sejam acolhidas na comunidade cristã com respeito e consideração. O objeto da discussão está na avaliação moral das relações homossexuais e das uniões que as praticam", afirmou Ruini na entrevista.

"De acordo com o constante ensino da Sagrada Escritura, do Antigo e do Novo Testamento e da tradição eclesial, os atos homossexuais são intrinsecamente desordenados porque não são idôneos para transmitir a vida e não se baseiam em uma verdadeira complementaridade afetiva e sexual", acrescentou.

“Portanto, em nenhum caso eles podem ser aprovados", concluiu.

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Sobre o risco de um cisma, o cardeal, de 90 anos de idade, fez referência à carta de 2019 na qual o papa Francisco pediu aos católicos alemães que mantivessem a "ligação com a Igreja universal".

"Estas palavras do papa oferecem um padrão e uma direção valiosa", disse Ruini. "Não nego, portanto, que haja o risco de um cisma, mas confio que, com a ajuda de Deus, ele possa ser superado".

Dom Ruini, que foi vigário para a Diocese de Roma entre 1991 a 2008, e presidente da Conferência Episcopal Italiana durante 16 anos se une assim ao cardeal George Pell, que comandou a Secretaria para Economia no Vaticano entre 2014 e 2019, e também expressou preocupação pelo risco de um cisma na Igreja na Alemanha.

Em entrevista ao canal EWTN no último 28 de abril, Pell afirmou: "há uma porcentagem da Igreja alemã que parece estar obstinada a caminhar na direção errada".

O bispo britânico Philip Egan de Portsmouth também se diz preocupado com o "Caminho Sinodal" da Igreja Alemã possa levar a um "cisma de fato". O Caminho Sinodal é uma série de reuniões entre bispos e leigos na Alemanha que busca modificar práticas pastorais no país. Entre as propostas discutidas estão a mudança da doutrina moral sobre sexualidade, incluindo o homossexualismo, a ordenação de mulheres e o fim do celibato.

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