“Ter um irmão, uma irmã que te quer bem é uma experiência forte, impagável, insubstituível. Do mesmo modo acontece para a fraternidade cristã”, destacou o Papa Francisco na manhã desta quarta-feira de cinzas, durante a Audiência Geral, e recordou que os cristãos “vão ao encontro dos pobres e frágeis não para obedecer a um programa ideológico, mas porque a palavra e o exemplo do Senhor nos dizem que todos somos irmãos”.

Depois de falar sobre a mãe, o pai e os filhos, o Pontífice aproveitou a audiência pública da quarta-feira para explicar a importância que têm os irmãos na família e na sociedade. “'Irmão' e 'irmã' são palavras que o cristianismo ama muito” e “graças à experiência familiar, são palavras que todas as culturas e todas as épocas entendem”, afirmou.

Recordando a história do povo de Deus, que recebe sua revelação na vivencia da experiência humana, O Pontífice sublinhou que também “o salmista canta a beleza da relação fraterna e diz: Como é belo e como é doce que os irmãos vivam juntos!” (Sal 132, 1).”.

“E isto é verdade, a fraternidade é bonita! Jesus Cristo levou à sua plenitude também esta experiência humana de ser irmãos e irmãs, assumindo-a no amor trinitário e potencializando-a de forma que vá bem além das ligações de parentesco e possa superar todo muro de estranheza”, assinalou.

Quando a relação entre os irmãos se arruína, “abre-se o caminho a experiência dolorosas de conflito, de traição, de ódio”. Como ocorreu no caso do Caim e Abel, que “constitui o exemplo deste resultado negativo” e que continua repetindo-se em cada geração e época, acrescentou o Papa.

“A pergunta de Deus a Caim: 'Onde está seu irmão?' não cessa de ressoar ao longo da história”, reconheceu.

“A ligação de fraternidade que se forma em família entre os filhos, se acontece em um clima de educação à abertura aos outros, é a grande escola de liberdade e de paz. Na família, entre irmãos, se aprende a convivência humana, como se deve conviver em sociedade. Talvez nem sempre somos conscientes disso, mas é justamente a família que introduz a fraternidade no mundo!”.

“A partir dessa primeira experiência de fraternidade, alimentada pelos afetos e pela educação familiar, o estilo de fraternidade se irradia como uma promessa sobre toda a sociedade e sobre relações entre os povos”, afirmou.

“A benção que Deus, em Jesus Cristo, derrama sobre este vínculo de fraternidade o dilata de um modo inimaginável, tornando-o capaz de ultrapassar toda diferença de nação, de língua, de cultura e até mesmo de religião. Pensem o que se torna a ligação entre os homens, mesmo muito diferentes entre eles, quando podem dizer do outro: “Este é como um irmão, esta é como uma irmã para mim!”. Isso é belo! A história mostrou o suficiente que, mesmo a liberdade e a igualdade, sem fraternidade, podem se encher de individualismo e de conformismo, também de interesse pessoal”.

“A fraternidade em família resplandece de modo especial quando vemos a preocupação, a paciência, o afeto de que são circundados o irmãozinho ou a irmãzinha mais frágil, doente ou portador de necessidades especiais. Os irmãos e irmãs que fazem isso são muitos, em todo o mundo, e talvez não apreciamos o suficiente sua generosidade”, disse Francisco.

“Ter um irmão, uma irmã que te quer bem é uma experiência forte, impagável, insubstituível. Do mesmo modo acontece para a fraternidade cristã. Os menores, os mais frágeis, os mais pobres devem nos sensibilizar: têm “direito” de nos tomar a alma e o coração. Sim, esses são nossos irmãos e como tais devemos amá-los e cuidar deles. Quando isso acontece, quando os pobres são como de casa, a nossa própria fraternidade cristã retoma a vida. Os cristãos, de fato, vão ao encontro dos pobres e frágeis não para obedecer a um programa ideológico, mas porque a palavra e o exemplo do Senhor nos dizem que todos somos irmãos. Este é o princípio do amor de Deus e de toda justiça entre os homens”.

Neste ponto, o Papa pediu rezar em silencio pelos próprios irmãos e irmãs e depois sublinhou que “hoje mais que nunca é necessário voltar a levar a fraternidade ao centro de nossa sociedade tecnocrática e burocrática: então a liberdade e a igualdade tomassem sua justa entonação”.

Por último, Francisco pediu “não privar” “nossas famílias por temor ou por medo, da beleza de uma ampla experiência fraterna de filhos e filhas” e alentou: “não percamos nossa confiança na amplitude de horizontes que a fé é capaz de trazer desta experiência”.

No final do encontro o Papa Francisco saudou também os peregrinos de língua portuguesa:

“Caros peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos! A todos vos saúdo, especialmente aos fiéis de Nogueiró e aos estudantes e professores do Agrupamento de Escolas de Viseu, encorajando-vos a apostar em ideais grandes, ideais de serviço que engrandecem o coração e tornam fecundos os vossos talentos. Confiai em Deus, como a Virgem Maria! De bom grado abençoo a vós e aos vossos entes queridos.”

No final da audiência o Papa Francisco lançou um apelo à oração pelos irmãos egípcios mortos nos últimos dias na Líbia:

“Gostaria de convidar ainda a rezar pelos nossos irmãos egípcios que, há três dias atrás, foram mortos na Líbia pelo simples fato de serem cristãos. O Senhor os acolha na sua casa e dê conforto às suas famílias e às suas comunidades. Rezemos pela paz no Médio Oriente e no Norte de África, recordando todos os defuntos, os feridos e os refugiados. Possa a Comunidade Internacional encontrar soluções pacíficas à difícil situação na Líbia.”