"Há uma grande urgência neste momento histórico de relações significativas que poderíamos definir como paternidade espiritual, mas - permitam-me dizer - também maternidade espiritual, porque este papel de acompanhamento não é uma prerrogativa masculina ou apenas dos sacerdotes", disse o papa Francisco em entrevista ao L'Osservatore Romano.

“A relação de paternidade que José tinha com Jesus influenciou de tal modo Sua vida, a ponto de a futura pregação de Jesus estar repleta de imagens e referências retiradas precisamente do imaginário paterno”, disse o papa na entrevista publicada hoje, 13 de janeiro. “Jesus, por exemplo, diz que Deus é Pai, e esta afirmação não nos pode deixar indiferentes, sobretudo pensando no que foi a sua experiência humana pessoal de paternidade”.

“A característica de José de saber se colocar de lado, sua humildade, que é também a capacidade de ocupar um lugar secundário, talvez seja o aspecto mais decisivo do amor que José demonstra por Jesus. Nesse sentido, ele é um personagem importante, ousaria dizer essencial na biografia de Jesus, justamente porque em determinado momento ele sabe como se retirar de cena para que Jesus possa brilhar em toda sua vocação, em toda sua missão”, disse Francisco.

 “A relação espiritual é uma daquelas relações que precisamos redescobrir com mais força neste momento histórico, sem nunca a confundir com outros caminhos de natureza psicológica ou terapêutica”.

“Há muitas boas religiosas, muitas consagradas, mas também muitos leigos e leigas que têm uma bagagem de experiência que podem partilhar com outras pessoas”, disse o papa.

Na entrevista, o papa diz que "a paternidade espiritual é muitas vezes um dom que nasce sobretudo da experiência".

"Um pai espiritual pode partilhar não tanto os seus conhecimentos teóricos, mas sobretudo a sua experiência pessoal”, disse Francisco. “Só assim pode ser útil a um filho”.

“A paternidade não é algo óbvio, não se nasce pai, no máximo torna-se pai”, destacou Francisco. “Um sacerdote não nasce já padre, mas deve aprender um pouco de cada vez, começando, antes de tudo, por se reconhecer como filho de Deus, mas depois também como filho da Igreja.”

“E a Igreja não é um conceito abstrato, é sempre o rosto de alguém, uma situação concreta, algo a quem podemos dar um nome preciso... A nossa experiência de fé nasce sempre do testemunho de alguém”, afirmou o papa.

Para Francisco, “a vida espiritual não é diferente da vida humana. Se um bom pai, humanamente falando, é pai porque ajuda o seu filho a tornar-se si mesmo, tornando possível a sua liberdade e encorajando-o a tomar grandes decisões, igualmente um bom pai espiritual é pai não quando se substitui à consciência das pessoas que confiam nele, não quando responde às perguntas que essas pessoas carregam em seus corações, não quando domina a vida daqueles que lhe são confiados, mas quando de forma discreta e ao mesmo tempo firme é capaz de mostrar o caminho, fornecer diferentes chaves de interpretação e ajudar no discernimento”.

“Uma das mais belas características do amor, e não apenas da paternidade, é precisamente a liberdade. O amor sempre gera liberdade, o amor nunca deve se tornar uma prisão, uma posse. José nos mostra a capacidade de cuidar de Jesus sem nunca tomar posse dele, sem nunca querer manipulá-lo, sem nunca querer distrai-lo da sua missão”, disse o papa.

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