Vídeo da leitura da carta do papa Francisco ao México (em espanhol) por dom Rogelio Cabrera López, presidente da Conferência Episcopal Mexicana. Crédito: canal da Conferencia del Episcopado Mexicano no YouTube.

A imprensa mexicana e internacional difundiu um pedido de “perdão” do papa Francisco ao México pelos pecados cometidos na evangelização da América, há 500 anos. Mas o que disse o papa, realmente?

Veículos de imprensa no México, como Proceso e El Sol, e da imprensa espanhola, como El País, ABC e Público, difundiram a notícia, entre os dias 27 e 28 de setembro, de que o papa Francisco “pede perdão” ao México numa carta publicada por ocasião do bicentenário da independência do país, que no passado foi o vice-reino da Nova Espanha.

Para alguns, a carta foi uma resposta a um pedido feito repetidamente pelo atual presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, tanto ao papa como ao rei da Espanha, Felipe VI.

As informações difundidas provocaram diversas reações. A presidente da Comunidade de Madri, Isabel Díaz Ayuso, disse: “Surpreende-me que um católico, que fala espanhol, fale dessa forma sobre um legado como o nosso, que foi, precisamente, levar ao continente americano o espanhol e, através das missões, o catolicismo. E, portanto, a civilização, a liberdade”.

“Simplesmente é algo que me surpreende”, disse à imprensa espanhola.

O que disse Francisco na sua carta ao México

Em sua carta, publicada na página da Conferência Episcopal Mexicana e lida em um vídeo por seu presidente, dom Rogelio Cabrera López, Francisco afirma que, “para fortalecer as raízes é preciso fazer uma releitura do passado, tendo em consideração tanto as luzes como as sombras que forjaram a história do país”.

“Esse olhar retrospectivo inclui, necessariamente, um processo de purificação da memória, ou seja, reconhecer os erros cometidos no passado, que foram muito dolorosos”, afirmou.

Em seguida, o papa lembrou que, “em diversas ocasiões, tanto os meus antecessores como eu mesmo, pedimos perdão pelos pecados pessoais e sociais, por todas as ações ou omissões que não contribuíram para a evangelização”.

Em 1992, são João Paulo II reconheceu e pediu perdão, na República Dominicana, pelos “abusos cometidos devido à falta de amor daquelas pessoas que não souberam ver nos indígenas irmãos e filhos do mesmo Deus Pai”.

Ao convocar o grande jubileu do ano 2000, são João Paulo II disse: “Como sucessor de Pedro, peço que neste ano de misericórdia a Igreja, persuadida da santidade que recebe do seu Senhor, se prostre diante de Deus e implore perdão pelos pecados passados e presentes dos seus filhos”.

Bento XVI fez o mesmo em 2007, ao voltar de Aparecida e afirmar que “a lembrança de um passado glorioso não pode ignorar as sombras que acompanharam a obra de evangelização do continente latino-americano: não é possível esquecer os sofrimentos e as injustiças infligidas pelos colonizadores às populações indígenas, frequentemente menosprezadas nos seus direitos humanos fundamentais”.

O próprio Francisco, em 2015 na Bolívia, pediu “humildemente perdão, não só pelas ofensas da própria Igreja, mas pelos crimes contra os povos originários durante a chamada conquista da América”.

Em sua carta ao México, divulgada em 27 de setembro, Francisco disse que “tampouco se podem ignorar as ações que, em tempos mais recentes, se cometeram contra o sentimento religioso cristão de grande parte do Povo mexicano, provocando assim um profundo sofrimento”.

Francisco também disse que “não evocamos as dores do passado para ficarmos no passado, mas para aprender com eles e continuar dando passos, buscando curar as feridas, cultivar um diálogo aberto e respeitoso entre as diferenças, e construir a tão almejada fraternidade, priorizando o bem comum acima dos interesses particulares, as tensões e os conflitos”.

O texto integral da carta do papa Francisco ao México por ocasião do bicentenário de sua independência pode ser lido (em espanhol) AQUI.

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